Oposição quer voltar ao passado, diz Margarida Salom?o
Oposição quer voltar ao passado, diz Margarida Salomão
Em entrevista à ACESSA.com, deputada critica estratégia da oposição em retomar o modelo de FHC, adotado pelo senador Aécio Neves (PSDB)
Repórter
14/04/2014
Deputada Federal pelo PT, Margarida Salomão (foto) é a segunda entrevistada da série que a ACESSA.com promove para traçar o panorama da disputa eleitoral de 2014. Em entrevista exclusiva, a parlamentar fala sobre as polêmicas envolvendo o partido, faz críticas à oposição e analisa o cenário econômico vivido por Juiz de Fora e pela Zona da Mata.
ACESSA.com - Na sessão plenária da última quinta-feira, a senhora criticou a posição da mídia em relação aos casos que envolvem nomes do Partido dos Trabalhadores. Como a senhora analisa este cenário de desgaste o qual vem passando o partido com os escândalos da refinaria de Pasadena e do deputado André Vargas (SP)?
Se nós fizermos uma comparação um panorama pré-64 e um panorama de agora, percebemos a iminência de se materializar reformas importantes àquela época, que culminaram com a interrupção desse processo de avanço democrático. No nosso caso, por uma subordinação internacional, você tem uma elite inconformada com a transformação social do Brasil, liderada pelo PT. São denúncias moralistas. O foco da oposição é todo moralista e é um foco torto. O mesmo jatinho emprestado ao André Vargas também carrega com o [senador] Álvaro Dias (PSDB-PR). A estridência do mal feito do André Vargas não se compara à maneira da viagem feita pelo senador Álvaro Dias, isso é tratado de uma maneira desigual. Há uma concentração da mídia e quem não está entre São Paulo e Rio de Janeiro, fica de fora. Não sabemos nada sobre governadores de outros estados. É uma situação que ocorre num país diversificado, de condições sociais complexas.
ACESSA.com - Então a senhora acredita que a mídia proporciona um descontentamento com as forças políticas?
A mídia hoje só tem uma notícia, ela é profética: 'vai ter apagão'. Tem apagão? Tem falta de água, mas apagão não teve. O que se vê agora? Mais gente andando de carro, mais gente viajando. É, de fato, uma melhoria na vida das pessoas. O fato de terem melhorado de vida, significa que elas se tornaram mais exigentes. A escola pública, as teles vão melhorar. Quanto mais gente usa, maior o nível de pressão social para que se eleve a qualidade do serviço. A universalização significa uma mudança da qualidade. Isso é o país em movimento. Ele interessa à nossa geração, que quis a mudança (lutou pela constituinte, pelas Diretas). Mas há um grupo de pessoas, que são os donos do país, que desejam uma volta ao passado.
ACESSA.com - O que seria essa volta ao passado?
É absolutamente emblemático o Aécio fazer campanha abraçado ao Fernando Henrique, tendo ao seu lado o Armínio Fraga. Uma, porque de fato quer mudar a maneira como o país está sendo governado e a outra razão é que o Aécio é completamente oco, diferente do Serra. O Serra tem proposta para o Brasil, tem livro publicado. Era desenvolvimentista. O Aécio só quer levar a vida bem, e isso é muito pouco. Se ele pudesse falar: 'Eu vou lutar para que no Brasil todo mundo fosse tão folgado como eu'. Tirando essa mensagem, que é insustentável, ele abraça FHC, Armínio Fraga e o Pedro Malan. É esse conjunto de ideias que agrada aos convivas do dólar, mas são esmagadoras para a maioria da população brasileira.
ACESSA.com - Mas o senador Aécio não tem feitos no Governo de Minas que possam servir de vitrine eleitoral?
Fingir que efetiva 98 mil pessoas com uma lei que o STF considera inconstitucional? Sendo que 96 mil são da área da educação? É isto que é o choque de gestão? A maioria das pessoas afetadas é arrimo de família. Você está impactando a sociedade de uma forma profundamente negativa.
No mês passado, a notícia de que a indústria cresceu 1,3%, em fevereiro. Em Minas, o crescimento foi negativo. Minas está desindustrializada. Minas vive de exportar minério e café. Estamos na primeira república. Deixaram a Zona da Mata abandonada. Aqui há investimentos históricos da Votorantim, da Arcelor Mittal. São investimentos da época da ditadura, de 40 anos atrás. Depois tivemos esse sonho e pesadelo, que é a planta da Mercedes. Nunca cumpriu o que prometeu. Até hoje estamos numa situação complicada, porque embora seja uma planta eficaz, por falta de capacidade política das lideranças mineiras, estamos perdendo o plano para o interior de São Paulo. É preciso de mudar o Governo de Minas.
ACESSA.com - E como se daria essa mudança no governo estadual?
O Fernando Pimentel está constituindo uma grande aliança, na qual o PMDB deve figurar. O ministro Antônio Andrade está trabalhando e possivelmente ele figuraria na chapa como vice. Claro que há tensionamentos, mas isso é normal neste momento de decisão sobre as construções da disputa, mas acreditamos que neste momento somos a chapa mais competitiva ao Governo de Minas.
ACESSA.com - Sobre as tensões com o PMDB, há a possibilidade da candidatura própria...
Essa é uma questão que o PMDB tem que resolver. Tenho poucas condições de falar sobre isso. É uma questão intrapartidária. Estive com o colega deputado Antônio Andrade e ele está muito confiante.
ACESSA.com - O PMDB apoiaria o PT já no primeiro turno?
Essa é a construção que estamos tentando. Nem eu posso dizer e nem o Antônio Andrade ainda pode dizer.
ACESSA.com - Como tem sido articuladas as candidaturas a deputado em Juiz de Fora?
Não são articuladas em Juiz de Fora. Elas são articuladas pelo diretório estadual do partido. O PT fez um cadastramento dos interessados. Em Juiz de Fora, para deputado federal, só há minha candidatura. Para deputado estadual, temos os nomes dos vereadores Castelar e Betão e um militante, de apelido Caramelo. Isso, obviamente, é um processo que ainda será acertado.
ACESSA.com - O que a senhora acha a respeito de se eleger mais deputados naturais da cidade e da região?
Eu acho importante que os eleitores decidam sobre o que eles querem. É preciso que a região tenha a clareza de uma representação aguerrida para lutar contra este empobrecimento, este desprestígio. Temos que construir essa consciência pela eleição de uma bancada regional, como o Norte de Minas, o Triângulo Mineiro, que conseguem ser ouvidas. Tenho articulado para além das fronteiras partidárias, com adversários políticos. Se persistirmos com esse processo de canibalização política, vamos contribuir para que sejamos mais pobres e irrelevantes.
ACESSA.com - Durante o recesso no Congresso Nacional, a senhora visitou diversas cidades da região. Essas visitas objetivam futuras alianças eleitorais?
Primeiramente, a intenção era estreitar as relações do mandato com a população representada. Não é possível representar a quem não se conhece. Debater com eles o que é necessário e focar o trabalho na região, em favor da resolução dos seus problemas. Empenhei enormemente para voltar a funcionar o aeroporto de Goianá, que eu considero um vetor de desenvolvimento na Zona da Mata. Eu tenho também o trabalho parlamentar, que diz respeito às questões nacionais, que se alimentam da minha atuação nesta área. Sou pesquisadora, professora universitária, e uso da minha experiência para promover ações importantes para o país.
ACESSA.com - E nessas visitas, inclusive, promove articulações com prefeitos de partidos adversários?
Eu tenho articulado com o Bruno Siqueira, por exemplo, que foi meu oponente no segundo turno. É claro que eu tenho um trabalho de fortalecimento do PT na região e ao lado disso, um trabalho de representação parlamentar, que inclui, como meus interlocutores, adversários políticos.
ACESSA.com - Nas últimas semanas, foi aprovada na Câmara dos Deputados a PEC, de sua autoria, que incentiva o fortalecimento da Inovação e da Ciência e Tecnologia. O que essa aprovação significa?
Tive a honra de assumir a autoria, mas é uma PEC da sociedade com o apoio de várias instituições e organizações. Todas eles carecendo de uma armadura institucional que possibilitasse ação. Uma das coisas que na nossa PEC traz que na área de tecnologia é que se faça a contratação através do RDC (Regime Diferenciado de Contratações). A principio, ele foi concebido para viabilizar as obras da Copa, mas a aplicação dele mostrou que é muito mais transparente, que permite adquirir melhores serviços por melhores preços e dificulta a formação de cartéis de fornecedores.
Além disso, a PEC permite também que pesquisadores possam, em períodos determinados, trabalhar dentro de uma empresa, para desenvolvimento tecnológico de alguma acumulação científica, sem que haja perda para esse pesquisador em sua situação admissional. Não se pode bloquear essa transição pública para o sistema privado, afinal quem distribui a inovação na sociedade é o sistema privado, que comercializa a inovação. Temos condições de garantir uma contrapartida do sistema público, uma patente que vai ser explorada, vai remunerá-lo e não impede que essa inovação se capitalize, se distribua e fomente empregos. Essa PEC tem inserção direta no nosso aspecto econômico.