Outubro Rosa: Lutando contra o câncer e o preconceito
Em Juiz de Fora, entre 2021 e 2022, houve uma queda no número de novos casos
Outubro de 2021 foi um mês marcante para Debora Toledo Lucarelli, o mês em que sua vida mudou drasticamente, quando ela se deparou com um diagnóstico que ninguém deseja ouvir: câncer de mama. A jornada foi repleta de desafios e emoções intensas, mas também demonstrou a força inabalável do espírito humano.
Debora descobriu um pequeno nódulo ao sair do banho, e, embora inicialmente não tenha imaginado que fosse algo sério, decidiu procurar ajuda médica. "Eu palpei esse nódulo com a mão, era pequenininho, ao sair do banho, bem superficial na pele. Como eu já fazia controle e estava na época de ir eu procurei os médicos", conta. O caminho que se abriu diante dela foi uma jornada angustiante de exames e incertezas. Ela recorda os dias de espera e a sensação de que o mundo inteiro estava em pausa quando aguardava os resultados. A cada exame, a esperança de que fosse negativo a impulsionava, mas, infelizmente, ela recebeu a notícia que não queria.
O diagnóstico
Foi através de um e-mail que Débora soube do diagnóstico. Naquele dia, até o WhatsApp pareceu conspirar contra ela, ficando fora do ar no momento mais crucial. "No dia que saiu o resultado do exame da biopsia eu lembro direitinho que foi quando o Whatsapp ficou fora do ar e eu recebi por e-mail. Inicialmente eu não enxerguei o diagnóstico eu lia, lia, lia, eu não entendia nada". Ela tentou compartilhar o resultado com sua amiga, que a apoiou incansavelmente durante essa jornada, mas a tecnologia falhou. "Eu queria mandar pra minha amiga, que é uma amiga e irmã, uma pessoa que me ajudou demais, e eu não conseguia. Eu pensei "meu Deus na hora em que eu mais preciso" e eu lembro direito, eu estava almoçando no refeitório onde eu trabalhava, tentando enviar e nada e eu pensando o que está acontecendo com esse arquivo que ele não vai? Eu não sabia que o WhatsApp estava fora".
Os dias que se seguiram foram preenchidos com uma série de exames e consultas médicas. Debora se submeteu a testes genéticos para determinar se o câncer era de origem genética, o que poderia influenciar o tratamento a seguir. Felizmente, o resultado foi negativo para mutações genéticas, proporcionando algum alívio em meio à incerteza. A oncologista de Debora traçou um plano de tratamento que incluía seis ciclos de quimioterapia, seguidos pela cirurgia para remover o quadrante afetado. A imunoterapia também estava no horizonte, e Debora enfrentou esse desafio com determinação.
Apoio Familiar e de amigos
Uma parte essencial desta história é o apoio que Debora encontrou em sua família e amigos. Embora no início ela tenha tentado esconder a doença, a insistência de sua amiga a convenceu de que as pessoas ao seu redor tinham o direito de saber e de ajudar. O apoio da comunidade foi vital para sua recuperação, tornando a jornada mais suportável. "Eu tive muito apoio da minha família, mas no início eu escondi de todo mundo, uma uma amiga e um amigo que mora na Irlanda que sabiam. Antes de eu sair do hospital da biópsia ela começou a falar na minha cabeça que eu não podia fazer isso sozinha que as pessoas tinham o direito de saber a minha família de me ajudar. Eu não queria levar problema pra eles e estava achando que eu era mulher maravilha, é isso mesmo, mulher maravilha. Eu sempre achei que eu fosse mulher maravilha. E que daria conta de passar por essa fase sozinha. É Impossível".
Débora hoje está curada do câncer, mas sua luta não acabou depois da doença.
PRECONCEITO PÓS DOENÇA
A história de Debora não se limita à sua luta contra o câncer; ela também revela um problema alarmante que muitos pacientes enfrentam após a doença: o preconceito no local de trabalho. Após um ano e oito meses afastada, Debora enfrentou o desafio de retornar ao trabalho, apenas para ser demitida após 15 dias. O motivo? Parecia não haver lugar para ela na empresa. Essa experiência dolorosa destaca um problema maior que precisa ser discutido e enfrentado: o preconceito contra aqueles que superaram o câncer. "Me prometeram algumas coisas, queriam tentar me recolocar, me socializar e isso não está acontecendo. Estou sofrendo muito, faço entrevista, mas não vai pra frente. No fundo eu sei que está rolando um preconceito e isso é muito triste, muito triste mesmo. Eu acho que isso é uma coisa que tinha que começar a ser combatida", relata Débora, que é Engenheira de Segurança do Trabalho.
Debora acredita que é hora de combater esse preconceito e enfatiza a necessidade de leis que protejam os direitos dos sobreviventes de câncer, garantindo que eles tenham igualdade de oportunidades no local de trabalho.
A DOENÇA EM JUIZ DE FORA E MINAS GERAIS
O câncer de mama é uma realidade que afeta milhares de mulheres em todo o Brasil e, embora seja uma doença rara em mulheres mais jovens, sua incidência aumenta significativamente a partir dos 50 anos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama também pode afetar homens, embora represente apenas 1% de todos os casos da doença nesse grupo.
JUIZ DE FORA: QUEDA DE NOVOS CASOS
Em Juiz de Fora, entre 2021 e 2022, houve uma queda no número de novos casos de câncer de mama em mais de 20%. Em 2021, foram registrados 772 novos casos na cidade, enquanto em 2022, o número caiu para 615, de acordo com informações da Associação Feminina de Prevenção e Combate ao Câncer (ASCOMCER).
ESTATÍSTICAS DE TRATAMENTO E RESULTADOS
Entre 2020 e 2022, a ASCOMCER forneceu uma análise detalhada dos resultados do tratamento em pacientes com câncer de mama:
- 14,8% dos pacientes tiveram remissão parcial ou completa cura da doença, o que ressalta a eficácia do tratamento.
- 24,9% dos pacientes tiveram a doença estabilizada, demonstrando a importância do acompanhamento médico contínuo.
- 2,8% dos pacientes tiveram uma progressão da doença, indicando a necessidade de abordagens mais agressivas em alguns casos.
- 11,4% dos pacientes perderam a batalha contra a doença, lembrando-nos da importância da pesquisa e inovação na busca por tratamentos mais eficazes.
- 15,7% dos pacientes receberam o diagnóstico na ASCOMCER, mas optaram por realizar o tratamento em outro local, o que destaca a variedade de opções disponíveis para os pacientes.
- 30,1% dos casos estão sem informação devido a registros médicos incompletos, sublinhando a necessidade de um sistema de saúde mais eficaz na coleta de dados.
Situação em Minas Gerais
Em Minas Gerais, o cenário também é desafiador. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2022, foram registrados 7.670 novos casos de câncer de mama no estado. A região Sudeste do Brasil possui o maior índice de mortalidade devido à doença, ressaltando a importância de campanhas de conscientização, diagnóstico precoce e tratamento adequado.
A luta contra o câncer de mama é uma batalha contínua que exige o esforço conjunto da sociedade, profissionais de saúde e governantes. Conscientização, acesso a tratamentos de qualidade e apoio aos pacientes são fundamentais para enfrentar essa doença e reduzir suas taxas de incidência e mortalidade. Com informações precisas e ações coordenadas, é possível oferecer esperança a todos aqueles que enfrentam o câncer de mama em Juiz de Fora, em Minas Gerais e em todo o Brasil.