Cigarro eletrônico é risco cada vez maior para saúde de jovens

Os popularmente conhecidos como vapes podem causar dependência e favorecer o desenvolvimento de câncer.

Por Redação

Anvisa publica resolução que proíbe cigarro eletrônico no Brasil

Os cigarros eletrônicos, mais conhecidos como vapes, têm ganhado popularidade entre a geração Z. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), em diversos países, os jovens já utilizam esses aparelhos mais do que os adultos. Aproximadamente, 37 milhões de crianças entre 13 e 15 anos usam tabaco e, em muitos lugares, a taxa de consumo de cigarros eletrônicos entre os adolescentes supera a dos adultos.

Coloridos e com diferentes tipos de aromas, os vapes caíram no gosto dos jovens por parecerem inofensivos, mas segundo especialistas, podem representar um grande risco para a saúde. O uso excessivo desses aparelhos pode, por exemplo, aumentar o risco de câncer de pulmão em crianças e em casos mais severos, levá-las a óbito.

Vale lembrar que, no Brasil, esses dispositivos têm comercialização, importação e propagandas proibidas pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009. Entre os motivos que deram força para essa decisão são os altos riscos que os aparelhos podem trazer para a saúde.

Apesar de não ser permitido, muitos locais comercializam os cigarros eletrônicos e, por ser um mercado ilegal, não há controle direto sobre quais substâncias existem dentro dos dispositivos vendidos.

Como funcionam os cigarros eletrônicos

Atualmente, o vape é o motivo do vício de muitos jovens e adolescentes, mas quando foi criado seu objetivo era ajudar fumantes a abandonarem gradualmente o hábito de fumar. Conforme explica o Jornal da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a primeira versão do dispositivo foi criada pelo farmacêutico chines Hon Lik e patenteada em 2003.

A ideia do aparelho era que o usuário se beneficiasse da ausência de substâncias tóxicas produzidas pela queima do tabaco no cigarro convencional e, assim, conseguisse abandonar o fumo usando doses controladas de nicotina.

Segundo a Unesp, os dispositivos eletrônicos também são chamados de DEFs. O termo é um nome técnico para designar uma gama de produtos conhecidos como vaporizadores, devido a sua ampla diversidade atual.

Embora existam diferentes tipos de vape, a Unesp explica que o funcionamento desses dispositivos em geral envolve a liberação de um aerossol a partir do aquecimento de um fluido que contém nicotina, aromatizantes e outras substâncias químicas, entre elas solventes.

Popularidade entre os jovens

Um estudo da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que houve um aumento de quase 50% na utilização desses aparelhos por adolescentes de 13 a 17 anos de escolas públicas e privadas do Brasil.

A pesquisa mostrou ainda as maiores prevalências para o uso do cigarro eletrônico. A utilização do aparelho foram entre aqueles que faltaram às aulas sem autorização dos pais (26,8%), que sentiam que ninguém se importava com eles (17,71%), que não tinham amigos (18,61%), que consumiam bebidas alcoólicas (37,7%), usavam outras drogas (78,89%), que eram fumantes passivos (22,96%) e que tinham pais ou responsáveis fumantes (22,84%). Em contrapartida, adolescentes que tinham supervisão familiar usaram menos vapes.

Aparelho pode trazer riscos à saúde

Os cigarros eletrónicos com nicotina são prejudiciais à saúde e causam dependência. A Anvisa afirma que a redução de emissão de substâncias por parte dos aparelhos, quando comparados ao cigarro convencional, não significa a diminuição de risco ou de dano para a saúde e que, apesar de parecerem inofensivos, eles também causam dependência por conta da nicotina.

A OMS aponta que ainda não se conhece todos os danos que os vapes podem causar na saúde, mas recomenda ser necessário que os jovens que já fazem uso desse aparelho tenham um acompanhamento pediátrico especializado para avaliar possíveis danos causados pelos aparelhos.

Um estudo que contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) analisou as células da mucosa bucal de mais de 90 participantes, entre eles pessoas que usam cigarro eletrônico. Os exames detectaram alterações significativas nas células desses usuários no que diz respeito à carcinogênese, o processo de formação do câncer, que ocorre devido a um acúmulo de mutações genéticas.

A Fundação do Câncer, inclusive, lançou no dia 29 de agosto – Dia Nacional de Combate ao Fumo – um movimento contra os dispositivos eletrônicos. A campanha tem por base um estudo sobre tabagismo e câncer de pulmão associado ao uso desses dispositivos.

Os líquidos ou juices presentes nos cigarros eletrônicos também são um ponto de atenção para os especialistas. A Anvisa destaca que todos apresentam uma elevada concentração de nicotina e uma série de substâncias tóxicas cujo efeito sobre o organismo ainda está sendo objeto de estudo por parte dos pesquisadores.

A Unesp destaca que uma das substâncias presentes nos líquidos dos vapes esteve associada a uma doença batizada de Evali (sigla em inglês para lesão pulmonar relacionada ao uso de cigarro eletrônico). A condição, segundo a universidade, foi a causa da morte de dezenas de jovens em 2019 nos Estados Unidos.