A fala com grito como forma de expressão de sentimentos e emoções infantis

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 Cal Coimbra 21/6/2011

A fala nos sentimentos e nas emoções infantis


Ainda é preciso entender alguns pontos fundamentais com relação ao vínculo mãe-filho. Com que rapidez e com que qualidade esse vínculo se estabelece? O bebê utiliza a fala com o grito prolongadamente para atrair a atenção da mãe. O aparecimento desse tipo de gemido prolongado é um enriquecimento do registro vocal. Cada bebê apresenta diferentes manifestações na duração e na frequência de seus gritos. A risada e o choro também têm significados importantes nesta relação.

Quando a criança chora, isto é, quando se expressa pela voz, pois a maioria delas não chora silenciosamente, seu choro pode servir a muitos propósitos: raiva, protesto e, normalmente, representa um verdadeiro pedido de ajuda. Terminado o choro, a situação pode se modificar, a vida pode ser retomada. Vale a pena saber o que os pesquisadores Mazet e Stoleru descrevem sobre os significados dos gritos e a relação com os sentimentos e as emoções.

  •  O grito de fome é o básico, mais frequente e mais típico. Normalmente ele é ouvido como um grito seguido de inspiração;
  • O grito de raiva ou de cólera é uma variação do grito de fome, em geral, provocando rapidamente a exasperação do ouvinte;
  • O grito de dor compreende um primeiro grito cheio, seguido de um silêncio e, depois, novamente, uma inspiração, inaugurando uma série de gritos expiratórios de duração variável;
  • O grito de frustração é ouvido como um grito seguido de um longo assobio inspiratório, claramente diferente do grito de dor ou de fome;
  • O grito de prazer é assinalado por diversos autores, sem que sejam esclarecidos os caracteres objetivos.

O importante é quando se começa a perceber a relação entre a fala em desenvolvimento com os sentimentos e emoções que a criança vai experimentando ao longo da vida, porque cada grito apresenta uma significação diferente e a mãe é levada a decodificar os sons vocais de seu bebê para poder responder-lhes de maneira adequada. Assim, haverá possibilidade de contato saudável entre ela e o filho. Nesse movimento vital, os sentimentos aparecem de uma maneira ou de outra, e instalam-se, por exemplo, como o amor, a angústia, a depressão, a tristeza. Nesse período, também podem aparecer o medo, a raiva, o nojo e a surpresa.

Durante o crescimento, a criança vai passando por várias experiências de vida, boas ou ruins, na relação que estabelece com a família ou com quem está mais próximo, introjetando o mundo, conforme a leitura que faz dele. O processo de adaptação da criança ao meio ambiente parece mesmo ser doloroso, e, em alguns casos, problemático, chegando a causar estresse nela e na família. Quando os pais não conseguem compreender certos comportamentos dos filhos podem sentir-se fracassados em seus papéis. Muitos precisam de ajuda de profissionais para que os orientem a atravessar os momentos difíceis, que podem ser decisivos na qualidade de vida pessoal e dos interrelacionamentos humanos.

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Cal Coimbra
é psicóloga e doutora em Fonoaudiologia