Afiando o Machado

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Afiando o Machado

Afiando o Machado

 Ana Pernisa 15/09/2017

Começo essa coluna dividindo com você um texto  que gosto muito e que costumo usar em meus atendimentos. Vamos a ele:

Afiando o Machado

No Alasca, um esporte tradicional é cortar árvores. Há lenhadores famosos, com domínio, habilidade e energia no uso do machado. Querendo tornar-se também um grande lenhador, um jovem escutou falar do melhor de todos os lenhadores do país. Resolveu procurá-lo.

- Quero ser seu discípulo. Quero aprender a cortar árvore como o senhor.

O jovem empenhou-se no aprendizado das lições do mestre, e depois de algum tempo achou-se melhor que ele. Mais forte, mais ágil, mais jovem, venceria facilmente o velho lenhador. Desafiou o mestre para uma competição de oito horas, para ver qual dos dois cortaria mais árvores.

O desafio foi aceito, e o jovem lenhador começou a cortar árvores com entusiasmo e vigor. Entre uma árvore e outra, olhava para o mestre, mas na maior parte das vezes o via sentado. O jovem voltava às suas árvores, certo da vitória, sentindo piedade pelo velho mestre.

Quando terminou o dia, para grande surpresa do jovem, o velho mestre havia cortado muito mais árvores do que o seu desafiante.

Mas como é que pode? – surpreendeu-se. Quase todas as vezes em que olhei, você estava descansando!
- Não, meu filho, eu não estava descansando. Estava afiando o machado. Foi por isso que você perdeu
Aprendizado é um processo que não tem fim. Sempre temos algo a aprender. O tempo utilizado para afiar o machado é recompensado valiosamente. O reforço no aprendizado, que dura a vida toda, é como afiar sempre o machado. Continue afiando o seu.

Do livro: Comunicação Global - Dr. Lair Ribeiro

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Toda vez que eu leio esse texto descubro algo novo e vejo que, alguma parte, mais específica, prende a minha atenção. Parece, tem horas, que eu ainda não tinha lido aquilo!

Já aconteceu isso em você? As vezes, observamos alguma coisa, alguém nos fala algo ou lemos um assunto e naquele momento, nada nos diz. Ficamos até em dúvida se a pessoa falou mesmo do assunto ou se lemos, de fato, aquele texto.

O que será que ocorre?

Muitas vezes, estamos tão para fora de nós, tão conectados  com tudo e todos que não percebemos que estamos tão desligados da nossa essência e percepção. Ou seja, estamos tão atentos ao nosso redor e, totalmente alheios  ao nosso sentir!  Esquecemos de  pausar!  E, as pausas são importantes pois, nos auxiliam a assimilar e sentir!

Observe: quantas coisas já chegam até você,  em um momento que, aparentemente, nada tem a acrescentar e, de repente, tempos depois, você se depara com a mesma situação e, pronto!!! Tudo faz um novo sentido? Pois é, quando estamos presentes e mais atentas no que estamos sentindo a respeito de um assunto, este passa a ser um sinalizador para nós, como uma bússola. E, com isso, podemos nos posicionar melhor partindo do que buscamos.

Assim, é esse texto para mim em minha trajetória.

É interessante porque cada vez que tenho a chance de parar e pausar nele, mais esse texto vai tomando sentido para mim a medida que também me transformo, como agora que escrevo sobre esse assunto.

Numa primeira leitura, há muito tempo atrás, achei um texto legal, interessante. Fiquei pensando um pouco no quanto o jovem desmereceu a sabedoria do seu mestre e como devemos valorizar e agradecer a chance de podermos aprender com aqueles que nos antecederam no conhecimento.

Numa outra oportunidade, algo tocou em relação ao primeiro lenhador estar apenas focado em cortar a lenha e eu, por minha vez, na época, estar sempre com meu tempo muito preenchido, focada nas inúmeras atividades do corre corre diário. Depois, vi um pouco de mim mas atitudes  do primeiro lenhador, de seguir sem parar, um momento sequer, de cortar a madeira... Sem parar nem para examinar como estava a condição do seu machado. Seguindo sem olhar se seu corte ainda estava afiado. E com essa percepção, vi que minhas pausas, quando existiam, eram muito rápidas e pouco observava como andava o meu machado existencial. Nesse momento, passei a refletir sobre a necessidade das "pausas um pouco mais pausadas", sem, no entanto,  conseguir parar muito...

Mas como tudo é também questão de consciência e aprendizado, de degrau em degrau, do exercício diário de buscar me entender e  me equilibrar entre o corre corre da vida e as pausas, agora, o segundo lenhador começou de fato a me atrair e fazer parte do meu dia a dia.

Devagar, fui percebendo que, nem sempre, correr para lá e para cá quer dizer que vamos ser mais eficientes.

Que não adianta ter pressa, se a direção está errada.

Que sentar e se dar um tempo para olhar e respirar, pode fazer grande diferença.

Que vida atribulada de coisas não quer dizer vida boa de se viver.

Que ter muito, nem sempre quer dizer ser abundante ou feliz.

E quanto a você? Vamos aproveitar esse momento que está lendo esse texto para uma pequena reflexão?

Pergunto:

Como percebe a atitude do primeiro lenhador?

E a do segundo?

Em qual momento do texto, sentiu que você está?

Como anda o seu tempo?

Consegue ter alguns momentos de pausas?

Consegue ficar com você mesmo(a) sentindo qual é um bom próximo passo em seu caminho?

Você tem estado atento (a) ao fio de corte de seu machado?

Quanto tempo faz que parou para amolar o seu machado?

Pense bem, há quanto tempo você não respira e cria esses momentos de pausa para poder sentir você?

Sua vida é uma vida boa de ser vivida?

Se não, já parou para ver o que pode estar acontecendo? Às vezes os ajustes podem ser mais simples do que parece, se você realmente se ser a chance de parar e sentir...

O que é importante para a sua  vida e o que deseja ou não deixar continuar pelo caminho que segue?

Sinto que temos esses dois lenhadores em nós! Quantas vezes, nos pegamos agindo sem pensar em determinados momentos no afã de "ter que"  alguma coisa? Ter que fazer isso ou aquilo... Ter que corresponder a algo...

As vezes afobados por tantos afazeres, quando vemos, estamos agindo automaticamente, perseguindo estradas que nada tem a ver com o nosso sentido de vida.

Já parou para pensar o quanto isso é sério?

Ora, se trata da sua própria vida, afinal!

Quando paramos, temos a chance de nos observarmos e aprender com a experiência  daquilo que já foi vivenciado. E a medida que tomamos consciência disso, vamos percebendo que tem horas que se torna mesmo imprescindível sentar e se dar um tempo. Conferir nossa postura, reavaliar nossos desejos.

Sentar e pausar.

Sentar, porque não se sabe ainda o que fazer.

Sentar e deixar uma luz chegar.

Sentar e respirar.

Sentar, para tomar fôlego.

Sentar e apenas olhar.

Sentar e silenciar.

Sentar, para deixar o choro chegar.

Sentar e orar...

Sentar, para olhar o machado que carregamos nas mãos  e ver o que de fato, estamos precisando fazer.

Sentar e perceber se estamos dando cortes eficazes ou o machado está cego e nem notamos.

E assim, sentados, enquanto amolamos o nosso próprio machado, tomamos a nossa  força, descansamos a mente e nos organizamos internamente para uma nova empreitada.

Para hoje, convido a você se dar pequenas pausas.

E assim, vamos seguindo, entre movimento e pausas, caminhando e amadurecendo pela nossa estrada.

Ótimo dia!

Um beijo carinhoso.