Uso de medicação contra HIV reduz risco de infecção em pessoas sadias
Uso de medicação contra HIV reduz em 43,8% risco de infecção em pessoas sadiasPesquisa realizada em seis países mostra que a utilização de dois medicamentos, associada a medidas de prevenção, é eficaz na prevenção ao vírus da Aids
Repórter
25/11/2010
Um estudo realizado em seis países aponta a possibilidade de ser adotada mais uma forma de prevenção ao HIV em todo o mundo. O uso da emtricitabina e do tenofovir, associado a outras medidas de prevenção, mostrou-se eficaz na prevenção ao vírus da Aids para pessoas vulneráveis. A pesquisa foi realizada em seis países, incluindo o Brasil. Por aqui, os responsáveis pelo levantamento foram o Projeto Praça Onze, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Fiocruz e a Universidade de São Paulo (USP).
Segundo dados finais do estudo, as pessoas vulneráveis que utilizaram os medicamentos — participando do método de profilaxia pré-exposição (PrEP) — tiveram 43,8% menos chances de serem infectadas do que aquelas para as quais foram ministrados placebos. Um total de 2.499 indivíduos com alto risco para a infecção pelo HIV participou do estudo, que recebeu o nome de Iniciativa Profilaxia Pré-exposição (iPrEx). Todos os participantes receberam um pacote abrangente de medidas de prevenção para reduzir o risco de infecção ao longo do estudo, incluindo o teste de HIV, aconselhamento intensivo para sexo mais seguro, preservativos e tratamento para doenças sexualmente transmissíveis. Metade deles recebeu a pílula da PrEP, enquanto a outra metade recebeu placebo.
Ao todo, 64 infecções pelo HIV foram registradas entre os 1.248 participantes do estudo que receberam uma pílula de placebo, enquanto 36 infecções foram registradas entre os 1.251 que receberam a droga durante o estudo. A redução média no risco de infecção de 43,8% inclui todos os participantes do estudo, mesmo aqueles que não tomaram a pílula diariamente de forma consistente. Segundo a coordenadora geral do Projeto Praça Onze, Mônica Barbosa, o número é ainda mais expressivo quando são considerados apenas os voluntários que relataram ter feito o uso do medicamento pelo menos 90% das vezes indicadas. "A redução do risco nesse caso é de 72,8%. O estudo mostra que a PrEP é uma estratégia eficaz na prevenção ao HIV. Com esse resultado, será possível começar a avaliar a possibilidade de uso e em que casos esse tipo de profilaxia pode ser indicado."
Pesquisa vai gerar novos estudos
De acordo com Mônica, o levantamento vai direcionar a execução de novas pesquisas. "Outros estudos vão derivar do estudo original, que dirão a que pessoas e a quais grupos esse medicamento terá ainda mais eficácia." Ela explica que o uso regular dos remédios será alvo de nova análise. "A pesquisa vai focar agora a adesão ao medicamento." Mônica afirma que outro levantamento paralelo identificou que a medicação combinada pode ser considerada segura. "O número de relatos de efeitos colaterais após o uso do medicamento é maior no grupo de pessoas que recebeu o placebo."
A coordenadora do projeto esclarece que a pesquisa ainda não é uma indicação de que a profilaxia pode ser utilizada na saúde pública. Ela informa que a combinação dos medicamentos ainda não é encontrada no Brasil. "O papel da pesquisa é estimular uma negociação com o Ministério da Saúde para saber em que momento esses medicamentos estarão disponíveis. Não quer dizer que o Brasil tem um problema em não possuir as drogas. Trata-se de uma pesquisa, que irá direcionar um novo método de profilaxia."
O estudo foi iniciado em 2007 e esta foi a primeira vez que a PrEP foi testada em humanos. Homens e mulheres transexuais que fazem sexo com homens (HSH) com alto risco de infecção pelo HIV — pessoas que declararam ter mais de cinco parceiros sexuais nos últimos seis meses, pessoas com parceiros soropositivos e pessoas com parceiros usuários de drogas — participaram do estudo em 11 centros na África do Sul, Brasil, Equador, Estados Unidos, Peru e Tailândia.
Juiz de Fora tem 34% menos novos casos de HIV
Enquanto os medicamentos não estão disponíveis, a expansão das formas tradicionais de prevenção está trazendo bons resultados para Juiz de Fora. Segundo números do Programa Municipal DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde, até o último dia 3 de novembro, o número de novos casos de HIV no município era 34% menor que o registrado em todo o ano de 2009. Ao longo de 2010, o programa identificou 46 novos casos de Aids na cidade. Em 2009, foram 70. O número tem diminuído desde 2007. Naquele ano foram 155 novos casos e em 2008 foram 132.
O coordenador do programa, Rodrigo Almeida, acredita que a queda de novos casos em Juiz de Fora é decorrente da descentralização dos recursos de prevenção. "Em 1º de dezembro de 2009, iniciamos as capacitações e as campanhas nas Unidades de Pronto Atendimento à Saúde (UAPS) de Juiz de Fora. Nos últimos dois anos, 80% das empresas juizforanas aderiram o combate à Aids como pauta em suas políticas de segurança no trabalho, o que causou aumento na procura de ações do programa em vários cantos da cidade. Neste ano, chegamos a fazer, em média, três campanhas de prevenção por semana em empresas, entidades e instituições da cidade."
O sucesso das ações será refletido na próxima semana, nas comemorações do Dia Mundial de Combate à Aids. De 29 de novembro (segunda-feira) a 3 de dezembro (sexta-feira), atividades variadas irão marcar a campanha que tem como tema Preconceito? Tá por fora. Prevenção! Tá por dentro. "O preconceito causa isolamento social, que prejudica o trabalho e o estudo. O paciente discriminado para de tomar o medicamento, não comparece às reuniões, entrega-se a uma doença que hoje pode ser controlada." A descontração do tema é uma forma de chamar a atenção dos jovens. "A intenção é focar os jovens de 15 a 24 anos, a fim de objetivar uma mudança de comportamento nas pessoas dessa faixa etária. Estudos mostram que apenas 40% dos jovens nessa idade usam preservativo. Essa realidade precisa ser mudada."
Programação
A campanha vai ocorrer em diversas UPAS, com trabalhos de prevenção e salas de espera, distribuição de materiais educativos e preservativos. Haverá ainda mutirão de testagem no Centro de Testagem e Acompanhamento (CTA), além do primeiro ato de enfrentamento à Aids de Juiz de Fora, com caminhada nas ruas do Centro. Veja a programação completa abaixo:
Mutirão de Testagem para HIV
Data: 29/11 a 3/12
Local: CTA/Coas - 7º andar - PAM Marechal
Horário: 8h às 17h
Unidades de Saúde realizam trabalhos de prevenção e salas de espera, distribuição de materiais educativos e preservativos, encaminhamentos ao CTA/Coas para ampliação do diagnóstico da Aids.
Data: 29/11 a 03/12
Stand no Cine-Theatro Central
Data: 1/12 a 3/12
Local: Rua Halfeld, em frente Cine-Theatro Central
Horário: 9h às 17h
1º Ato de enfrentamento a Aids e Caminhada pela Vida
Data: 1/12
Local: Rua Halfeld, em frente ao Cine-Theatro Central
Horário: 11h
Os textos são revisados por Thaísa Hosken
amplamente utilizados