Juiz de Fora 164 anos: tradição gastron?mica é receita de sucesso

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Juiz de Fora 164 anos: tradi??o gastron?mica ? receita de sucesso

Juiz de Fora 164 anos: tradição gastronômica é receita de sucesso

Com mais de três décadas de história, restaurantes contam segredos de tantos anos no ramo

Lucas Soares
Repórter
29/05/2014

De avôs para os pais, de pais para filhos. A receita de sucesso dos mais antigos restaurantes na cidade talvez seja a tradição. Somados ao bom atendimento, padrão de qualidade e produtos de ponta, cada um tem sua clientela particular e história intimamente ligada à Juiz de Fora.

Um exemplo é a Fábrica de Doces Brasil, fundada em 1945 pelo avô de Igor Estiguer, atual sócio-proprietário da marca. "Meu avô fabricava pão-alemão, um produto que a gente vende até hoje, na casa dele, na rua São Mateus, e vendia de porta em porta. Surgiu a oportunidade do ponto comercial no centro. A rua Marechal Deodoro era mais residencial do que comercial na época, existiam poucas lojas na década de 40. Ele pegou com o nome de Fábrica de Doces Moderna, na época. Em 1970, foi aberto o segundo ponto, na rua Mister Morre. Depois, já comigo e com Diogo, meu primo e sócio, abrimos em 1994 o outro ponto na Marechal, perto ali da Rio Branco. Em 2008 abrimos no Independência Shopping e em 2010 no Cine Palace", conta.

A história, embora diferente, é similar a de Vinícius Schettino, proprietário da Cantina do Amigão, fundada em 1979 pelo seu pai. Após abrir onze restaurantes em Juiz de Fora e Macaé (RJ), a única loja que permanece aberta é na rua Santa Rita. "Nove meses depois de fundar o restaurante, meu pai faleceu e eu e minha mãe demos continuidade ao negócio. Já são 36 anos de restaurante. Nesse intervalo, já abri 11, vários aqui e um em Macaé. Hoje, optamos por reduzir devido à falta de mão de obra e a concorrência que é forte. Ficamos só com um restaurante, onde trabalhamos com self-service e à la carte", afirma.

Outro local que vem há décadas encantando o paladar juiz-forano é o Brasão, na avenida Rio Branco, próximo ao Parque Halfeld. Tudo começou na década de 60, com um bar que se chamava Rio Lima. Aos poucos, foi transformado pelos pais de Sônia Costa em restaurante. "Praticamente nasci aqui dentro. Adoro o dia a dia, ter que primar pela qualidade, pelo atendimento, que tem que ser sempre nota dez. Temos prazer em ver que o cliente sai daqui satisfeito, não só com a comida, mas também com o atendimento, com a casa, já que a gente procura fazer uma extensão da casa da pessoa. Deixar o freguês à vontade", avisa Sônia.

Além de estarem há vários anos abertos, os três restaurantes apresentam uma peculiaridade. Todos possuem funcionários com muitos anos de casa. "Eu tenho muitos bons profissionais, a maioria é muito antiga, que foram se criando aqui. Chegam os novos, temos que ir moldando com o funcionamento da casa", relata Sônia. Para Schettino, a opinião é praticamente a mesma. "Meus dois garçons, se somarem o tempo de casa deles, dá mais de 60 anos. Cria uma identificação com o cliente, com o funcionário. São pessoas de caráter, que gostam e honram seus trabalhos", comenta.

Mais um fato comum entre os restaurantes tradicionais é estar presente em momentos especiais para a vida do juiz-forano. "Eu acho bem interessante que, em termos históricos, a gente tenha muitos clientes em que a empresa fez parte da vida das pessoas. Tem gente que fala que quando estudava em escolas perto, sempre passava aqui e comia um doce tal. Aí hoje a pessoa vem e faz esse pedido pra ter uma lembrança. Temos o nosso bolo, que quase todo mundo da cidade já comemorou o aniversário com ele. Esse é um grande diferencial nosso, em relação às empresas mais novas", garante Estiguer, sócio da Fábrica de Doces Brasil.

Cardápio

Ter um cardápio de qualidade é parte fundamental para garantir a fidelidade da clientela. A tarefa, que não é das mais simples, vai desde a escolha dos produtos até o preparo, buscando sempre manter o melhor nível possível. "É um cardápio antigo, claro, mas buscamos sempre lançar novidades. Temos que ter muita qualidade, inclusive na seleção dos produtos. Eu não trabalho com nada de segunda, só com coisa de primeira, para se diferenciar no mercado. Eu mesmo pesquiso, monto os pratos, e vou aprimorando junto com a minha equipe. É importante sempre ter uma novidade para apresentar", diz a dona do Brasão.

Manter o padrão também é um desafio na Fábrica de Doces Brasil. "O principal é qualificar os fornecedores, já que não podemos ficar mudando, porque sempre apresentam alguma diferença na matéria-prima. A outra é que temos vários profissionais que trabalham na nossa produção há trinta, quarenta anos. E eles são responsáveis por essas receitas. Quando entra alguém novo, eles tem essa missão de passar essas dicas pra essas pessoas que vão trabalhar com a gente", conta Estiguer.

Público jovem

Com tantos anos de tradição, trazer o público mais jovem para dentro de um restaurante tradicional não é uma tarefa simples, conforme conta Sônia. "Estamos acompanhando as redes sociais, fazendo promoções, com site, aplicativos e outros meios de divulgação. Mas a maioria acompanha os pais. Essa conquista é natural. Quem antes vinha com os pais, hoje vem com os filhos", afirma.

Na Cantina do Amigão, Schettino também lembra casos para atrair o público jovem. "Aqui é um lugar para trazer a namorada, comer uma massa, que é nossa especialidade. Aí na outra mesa está um casal com o filho, que veio aqui a primeira vez trazido pelos pais. Não são casos isolados, são muitas pessoas. Se hoje eu tenho uma clientela fixa, 95% são clientes diários, que passam para almoçar porque gostam da comida. A gente tem essa história, é um respeito que a gente tem com a sociedade. Eu me privei de muita coisa na vida, são 36 anos de loja, e é muito gratificante ouvir isso", celebra.

Planos

Saber o que fazer no futuro, talvez seja a grande incógnita para quem está aberto há tanto tempo. No entanto, a sabedoria adquirida com o tempo já indica os caminhos que cada um deve seguir. "Nosso planejamento para os próximos anos é abrir pelo menos mais um ponto comercial no Centro e transferir a produção para outro lugar, visando conseguir atender mais lojas. Ainda que pense em atender apenas Juiz de Fora, pensar em ir para uma região de 100 km, que é onde nossa marca é forte, pode ser uma opção", pontua o sócio da Fábrica de Doces Brasil. Sair de Juiz de Fora, no entanto, não está nos planos do Brasão. "Não temos planos de sair daqui, não temos nada a reclamar da sociedade de Juiz de Fora. Nos damos muito bem, nossa relação é ótima", afirma Sônia.

Schettino, no entanto, afirma que a Cantina do Amigão não deve ter um futuro promissor. Pai de quatro filhos, garante nunca ter incentivado nenhum deles a seguir a assumir o restaurante. "A nossa história não vai tão longe, a não ser que algum dos meus filhos resolva assumir ou eu venda a marca para outra pessoa. É um ramo cansativo, complicado, desgasta muito. Mas se eu estiver nessa área ainda, quero fazer uma fábrica de produtos congelados, expandindo a minha marca. Estou produzindo alguma coisa, e aproveitando que eu tenho um nome de tradição com massa, colocar um freezer em um lugar, continuando com o nome e sem precisar manter as portas abertas", concluí.