Inesperado pode virar fen?meno nos mundos online e offline

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Inesperado pode virar fen?meno nos mundos online e offline

Inesperado pode virar fenômeno nos mundos online e offlineBordão "Menos a Luíza, que está no Canadá" ganha as graças do público. Especialistas explicam fenômenos instantâneos na web

Aline Furtado*
Repórter
19/1/2012

Desde a última terça-feira, 17 de janeiro, muitos brasileiros não cansam de repetir o bordão "Menos a Luíza, que está no Canadá". Tudo começou a partir de um comercial de um prédio residencial que está sendo construído em João Pessoa, na Paraíba. Na peça publicitária, o pai da jovem Luíza, 17 anos, faz o anúncio do empreendimento, relatando que reuniu toda a família para a ocasião, exceto Luíza, que está no Canadá. Palavras que compõem a frase chegaram a liderar os tópicos mais comentados no Twitter e rendeu inúmeros posts no Facebook.

"O fato pode ser explicado porque a frase é completamente desnecessária e apareceu de forma inesperada, já que não tinha qualquer ligação com o produto que estava sendo anunciado", destaca a especialista em gestão estratégica de marketing digital, Priscila Ramires. O fato pode ser classificado como meme, que é uma das formas de manifestação do marketing viral.

"O viral, que pode ser resultante de um meme ou de um web hit, é uma ação muito comentada na web e fora dela, como o recente Pôneis Malditos. O meme refere-se a termos ou desenhos gráficos bastante difundidos pela rede. Dependendo do meme, ele será muito usado em tirinhas ou apenas de forma a satirizar alguma coisa", explica o analista de mídias sociais, Mael Costa.

Para a pesquisadora científica Jéssica Nayanne, o meme seria apenas a partícula do todo. "O vídeo do comercial é o viral, a frase que ganhou destaque é o meme." O viral, além de ser inesperado, engraçado e bizarro, pode ter conteúdo ruim, mas que ainda assim faz sucesso. "Os hits podem ser de inúmeros tipos, desde uma frase até imagens, vídeos, músicas, bordão de um personagem famoso, dentre outros, e geralmente têm baixo custo.".

Priscila lembra que o marketing viral não precisa necessariamente ser propagado via internet. "O caso da Luíza é um exemplo, já que a veiculação do comercial ocorreu na televisão." De acordo com Costa, o fenômeno ocorre pelo poder de compartilhamento da internet e a criatividade dos usuários das redes sociais, que fazem uso desses memes, compartilhando largamente de maneira cômica e eficaz.

O humor e a surpresa, aliás, estão entre as marcas que mais chamam atenção, definindo a aprovação por parte do público. "O que é divulgado de forma ampla como virais tem como característica a facilidade de compreensão, podendo ser entendido por qualquer pessoa", destaca a especialista.

Não há fórmula

Os especialistas apontam que para algo se transformar em um hit online e offline não existe fórmula. "Ninguém cria marketing viral. O que ocorre é que o marketing pode ser virilizado. Isso depende da aceitação do público com relação a alguma coisa que tenha dado certo", explica Priscila.

Web hit está relacionado à música

Também considerado um hit da internet, o web hit tem relação direta com a música e pode também ser considerado um viral. "O web hit é uma música, adaptação ou paródia, que é muito compartilhada e comentada na web. Um exemplo de é o System Of a Dilma, onde pegaram um trecho de um discurso da presidente Dilma Roussef e, por meio de um programa de edição de áudio, juntaram a melodia da musica Chop Suey, da banda System Of A Down", conta Costa.

Entre os web hits que fizeram sucesso na internet recentemente estão Forró do Twitter; a música Friday, da cantora teen Rebecca Black; a música Oração, da Banda Mais Bonita da Cidade; Mamilos polêmicos; Pintinho Piu; entre outros. "Se tocarem em qualquer canto do país, a sinestesia é garantida", afirma Costa.

Celebridade instantânea 

A transexual juiz-forana MC Xuxú teve a experiência de ser uma personagem de web hit em 2009. Com o vídeo Pantera Cor de Rosa, a cantora foi indicada ao Video Music Brasil, prêmio da emissora MTV, na categoria dos melhores sucessos da internet. "Às vezes, paro e penso: olha, onde já fui parar com um simples vídeo caseiro! Era um sonho. Na época, eu pensava que estava tudo resolvido na minha vida. Que eu poderia sentar e descansar, pois já era famosa. Isso é o que colocaram na minha cabeça. Eu andava nas nuvens, nem sabia o que era um VMB."

A experiência fez Xuxú repensar o modo como o vídeo chegou ao estrelato. "Antes, eu achava que as pessoas assistiam porque eu estava ali, lutando contra a homofobia, uma travesti cantora e tal. Hoje, paro para assistir e vejo que meu raciocínio foi lento. Vejo como paguei mico com o vídeo." Se a intenção era passar uma lição, o tiro saiu pela culatra. “Não consegui passar para as pessoas a lição que queria. Fui chacota e, até hoje, os internautas assistem à Pantera Cor de Rosa para rir das dançarinas. Poucas prestam atenção na letra.”

Oportunidade x saturação

Para as empresas, encarar virais como oportunidades de negócio pode ser positivo, desde que o limite para a saturação não seja atingido. "As empresas podem, sim, usar os hits de acordo com seu posicionamento nas redes. A Skol, por exemplo, é bem livre em relação ao conteúdo. Mas há empresas que não têm essa presença tão cômica na rede, o que corre o risco de não ser engraçado, pelo contrário, saturar", lembra Costa. Já Priscila afirma que não há problema algum quando uma empresa se aproveita de hits da web para divulgarem sua marca, mas alerta: "uma hora essa repetição pode cansar".

Bordões criados por memes

Bordões como "Menos a Luíza, que está no Canadá", "Anham, Cláudia, senta lá", "E teve boatos de que eu estava na pior", "Cala boca, Galvão", "Pode isso, Arnaldo?", entre outros, foram criados a partir de memes e caíram no gosto popular, passando a fazer parte do vocabulário das pessoas. "O perfil do brasileiro facilita essa proliferação, já que o povo, em sua maioria, é muito bem humorado. Um exemplo disso é que os comerciais que mais fazem sucesso são aqueles que trabalham em cima do que é engraçado", ressalta Priscila. O mais recente comercial do banco Itaú, que mostra um bebê gargalhando é um exemplo.

Co-criação

O consultor em marketing digital, Conrado Adolpho, destaca que os bordões que caem na graça do público acabam sendo responsáveis por incentivar a criatividade das pessoas. "O público acaba criando em cima das mais diversas situações. "A frase 'Menos a Luíza, que está no Canadá' é passível de utilizações tanto em show do Lenine quanto em paródias com o Magazine Luiza. Acaba acontecendo um fenômeno de co-criação, por meio do qual as pessoas se sentem construindo algo que é maior, o próprio meme."

* Colaboraram: Clecius Campos e Daniele Gruppi