De cadeia pública a escola de música
De cadeia p?blica a escola de m?sica: Conservat?rio Estadual Haid?e Fran?a Americano j? abrigou presos em regime aberto. Hoje, leva o ensino musical a cerca de 1200 alunos
Rep?rter
25/11/2008
Quem j? passou pela altura do n?mero 377 da rua Batista de Oliveira certamente j? ouviu os sons dos primeiros acordes dos alunos do Conservat?rio Estadual de M?sica Haid?e Fran?a Americano. As notas musicais que se misturam com o ru?do das ruas j? fazem parte da rotina juizforana h? 53 anos.
Mas antes de abrigar uma das escolas de m?sica mais tradicionais da cidade, o local j? funcionou como cadeia p?blica e reparti??o de delegacia. Ap?s a reforma iniciada em 1998, o pr?dio, antes freq?entado por detentos, passou a receber os que acreditam na m?sica como transforma??o social.
Os registros do passado n?o foram totalmente apagados. O piso do segundo andar, originalmente composto por ladrilho hidr?ulico, foi mantido, assim como boa parte da estrutura f?sica. Na ?poca da reforma, ainda era poss?vel encontrar escritos dos antigos presos nas paredes. Frases como "Al?m do nosso cotidiano existe outro mundo... esperando ser explorado?" e "Nem tudo aquilo que se v? pode ser explicado" d?o ao local toda sua import?ncia hist?rica para a cidade.
A fachada do pr?dio guarda os registros arquitet?nicos do s?culo XX. Constru?do em 1928, o im?vel foi projetado pelo engenheiro Louren?o Baeta Neves, o mesmo que desenhou a arquitetura da Escola Normal e dos Grupos Escolares de S?o Mateus e Mariano Proc?pio.
Com estilo do Art-D?co, a estrutura visual ? dominada pela verticalidade das pilastras. A arquitetura d?co busca a simplifica??o em nome da higiene, da economia e da modernidade. O movimento surgiu na Europa, em 1925, e foi trazido para o Brasil pouco tempo depois.
Mas antes de chegar ao n?mero 377 da rua Batista de Oliveira, o Conservat?rio Estadual Haid?e Fran?a Americano passou por outros sete locais depois da inaugura??o, em 1955. Ap?s passar por v?rios im?veis alugados, o Conservat?rio consquistou, em 2001, sua t?o sonhada sede pr?pria.
O ex-presidente Itamar Franco participou da inaugura??o do novo espa?o. Al?m dele, outros dois ex-presidentes fazem parte da hist?ria do Conservat?rio. Em 1952, Juscelino Kubitschek assinou o decreto que regulamentou a cria??o da escola. J? em 1959, Tancredo Neves foi paraninfo de formatura da primeira turma de piano e de professores de m?sica.
O funcionamento hoje
Desde 2001 funcionando na Batista, o conservat?rio oferece atualmente dois tipos de cursos: os de Educa??o Musical, para crian?as a partir dos seis anos de idade que estejam entre o 1? e o 9? ano escolar, e os de Forma??o Profissional, para alunos de outras idades.
Para a Educa??o Musical, a escola oferece os cursos de bateria, canto, cavaquinho, contrabaixo ac?stico, contrabaixo el?trico, clarinete, flauta doce, flauta transversa, guitarra, ?rg?o, piano, saxofone, teclado, trombone, trompete, viola, viol?o, violino e violoncelo.
Nos cursos de Forma??o Profissional, os alunos aprendem canto, flauta doce, flauta transversa, ?rg?o, piano, saxofone, viol?o, violino e violoncelo. Todos os cursos s?o gratuitos.
Para ingressar no Conservat?rio, os interessados passam por sorteio e exame de classifica??o no caso da Educa??o Musical e por um processo de sele??o para os cursos de Forma??o Profissional. Os processos seletivos acontecem anualmente.
Os n?meros do Conservat?rio revelam a grandeza da institui??o. Segundo a diretora da escola, Beth?nia Maria de Ara?jo Mota, cerca de 1.200 alunos estudam nos tr?s turnos do dia. Os cursos s?o ministrados por 75 professores, que contam com 40 salas de aula.
Para registrar os feitos e os nomes dos que ajudaram na hist?ria do Conservat?rio, Beth?nia
escreveu um livro de 508 p?ginas. Lan?ado em 2005, a Retrospectiva Hist?rica do Conservat?rio Estadual de M?sica Haid?e Fran?a Americano: meio s?culo a servi?o da arte musical, foi financiada pela
lei Murilo Mendes. "A id?ia de escrever o livro surgiu da escassez de dados que
n?s tinhamos registrados"
, revela.
A diretora acredita que a falta de incentivo do ensino da m?sica no Brasil ? o grande empecilho para que os alunos continuem na carreira musical. Mas com o novo
curso de M?sica da Universidade Federal de Juiz de Fora, oferecido a partir de 2009, Beth?nia cr? que os m?sicos juizforanos ter?o mais oportunidades na cidade. "Eu acredito, inclusive, que a maioria dos alunos da UFJF ser? formada pelos nossos alunos aqui da esola"
.
Mesmo com as dificuldades encontradas pelos que se formam em m?sica no Brasil, o Conservat?rio Haid?e Fran?a Americano tem motivos de sobra para se orgulhar dos que j? passaram pela institui??o. Nomes como Sueli Costa e M?rcio Hallack fazem parte da galeria de m?sicos formados pela escola.
Nem por isso os planos de expans?o e melhora da estrutura s?o deixados de lado. A diretora afirma que j? foi enviado ao Estado um projeto de constru??o de um anexo ao pr?dio. O local seria utilizado para abrigar a biblioteca da escola, al?m da instrumentoteca, um novo audit?rio e novas salas de aula.
Quem foi Haid?e Fran?a Americano
O internacionalmente conhecido maestro Carlos Gomes, que freq?entava a casa da fam?lia, teve a oportunidade de ouvir Haid?e ao piano. Convidou-a para tocar a quatro m?os o c?lebre "O Guarany". Recebeu, ent?o, a partitura desse cl?ssico ainda com as rasuras e cortes.
Transferindo-se para o Rio de Janeiro, Haid?e ingressou no antigo Instituto Nacional de M?sica, depois na Escola Nacional de M?sica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo seu diretor e professor de piano o maestro Bevilacqua.
Em visita ? Juiz de Fora conheceu e se casou com o farmac?utico Jos? C?ndido Americano, com quem teve oito filhos. J? radicada na cidade, foi professora de Teoria, Solfejo, Ditado e Piano da extinta Escola Normal Carlota Malta. Mais tarde fundou a Escola Livre de M?sica Haid?e Fran?a Americano. Faleceu em 1959.
Informa?es do livro "Retrospectiva Hist?rica do Conservat?rio Estadual de M?sica Haid?e Fran?a Americano: meio s?culo a servi?o da arte musical", de Beth?nia Maria de Ara?jo Mota.