Fique por dentro
A hora e a vez de Augusto Matraga |
Guimar?es Rosa
Por: Prof. Ms. Maria Laura Muller
Introdu??o
Sagarana re?ne nove contos nos quais est?o presentes os temas b?sicos de Jo?o Guimar?es Rosa: a aventura, a morte, os animais metaforizados em gente, as reflex?es subjetivas e espiritualistas. O conto A hora e a vez de Augusto Matraga pertence a esse livro e traz para os sert?es de Minas Gerais perip?cias como nas antigas hist?rias her?icas.
O autor : GUIMAR?ES ROSA (1908 - 1967)
Jo?o Guimar?es Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) em 1908. Formado em Medicina,
exerceu a profiss?o at? 1934, quando ingressou na carreira diplom?tica,
tendo servido na Alemanha, Col?mbia e Fran?a.
Sua primeira obra foi Magma, um livro de contos, com o qual obteve um pr?mio da Academia. O livro ficaria in?dito. Estreou para o p?blico, de fato, em 1946 com um livro de contos que se tornaria um marco em nossa literatura: Sagarana. Mas sua consagra??o definitiva viria dez anos depois, com o romance Grande sert?o: veredas. Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1963, s? tomaria posse em 1967, morrendo tr?s dias depois. No seu discurso de posse, em algumas passagens o escritor parece antecipar o fato. Os ?ltimos par?grafos de seu discurso t?m como assunto a morte. "A gente morre ? para provar que viveu. (...) As pessoas n?o morrem, ficam encantadas." Mas a palavra derradeira desse discurso foi o nome de sua cidade natal: Cordisburgo.
O conto A hora e a vez de Augusto Matraga |
Quanto ao processo narrativo, geralmente as hist?rias de Guimar?es Rosa (ou est?rias, como queria Rosa) concentram-se em torno de "casos" que sustentam os enredos. Grande sert?o: veredas provocou impacto sem precedentes em nossa literatura. Quando foi lan?ada a obra, percebeu-se que estava ali algo diferente de tudo o que at? ent?o se fizera em nossa literatura.
O narrador muitas vezes caracteriza como folcl?ricas as hist?rias que conta, inserindo nelas quadrinhas populares e dando-lhes um tom ?pico e/ou de hist?rias de fada. A onisci?ncia do narrador dos contos em terceira ? propositalmente relativizada, dando voz pr?pria e encantamento ?s narrativas e acentuando sua dimens?o m?tica e po?tica.
Em Tempo! O pr?prio narrador questiona o conceito de realidade e fic??o na literatura. Veja o fragmento a seguir: "E assim passaram pelo menos seis ou seis anos e meio, direitinho desse jeito, sem tirar e nem p?r, sem mentira nenhuma, porque esta aqui ? uma est?ria inventada, e n?o ? um caso acontecido, n?o senhor".Observa-se nessa passagem um di?logo com leitor e tamb?m a reflex?o sobre a rela??o existente entre a literatura e o compromisso com a verdade. |
4. Espa?o
O ambiente rural vem, h? muito tempo, fornecendo material para nossa
literatura. A d?cada de 1930 marca o surgimento do romance do Nordeste, com
Graciliano Ramos (Vidas Secas) e Rachel de Queiroz, entre outros. Guimar?es
Rosa retoma a tem?tica e a modifica radicalmente. E quais s?o essas
modifica?es radicais?
Os demais regionalistas incorporavam termos regionais ao texto liter?rio. Guimar?es Rosa recria a linguagem regional de forma extremamente elaborada. Baseando-se na linguagem da regi?o em que "ocorrem" as hist?rias narradas, o autor cria palavras novas, recupera o significado de outras, empresta termos de l?nguas estrangeiras e estabelece rela?es sint?ticas surpreendentes.
Na obra de Guimar?es Rosa, o sert?o n?o se limita ao espa?o geogr?fico, mas simboliza o pr?prio universo. Como afirma Riobaldo, personagem de Grande sert?o: veredas: "O senhor tolere, isto ? o sert?o. O sert?o est? em toda a parte."
O sert?o criado por Guimar?es Rosa ? uma realidade geogr?fica, social, pol?tica, mas tamb?m ? uma realidade psicol?gica e metaf?sica. Nesse espa?o (sert?o-mundo), o sertanejo n?o ? apenas o homem de uma regi?o e de uma ?poca espec?ficas, mas homem universal defrontando-se com problemas eternos: o bem e o mal; o amor; a viol?ncia; a exist?ncia ou n?o de Deus e do Diabo. Da? classificar-se seu regionalismo como universalista.
A luta entre o BEM e o MAL tamb?m pode ser identificada no livro
"- Sou um pobre pecador, seu Jo?ozinho Bem-Bem...
6. Personagens
- Que-o-qu?! Essa mania de rezar ? que est? lhe perdendo... O senhor n?o ?
padre nem frade pra isso; ? algum?... Cantoria de igreja, dando em cabe?a
fraca, desgoverna qualquer valente... Bobajada!
- Bate na boca seu Jo?ozinho Bem-Bem meu amigo, que Deus pode castigar!"
Em Tempo!
O espa?o espec?fico do conto em quest?o pode ser
bem delimitado. A hist?ria
acontece na regi?o do
Norte de Minas Gerais:
"Era o homem mais afamado dos dois sert?es do rio:
c?lebre do Jequitinhonha ?
Serra das Araras,
da beira do Jequitib? ? barra do Verde Grande,
do Rio
Gavi?o at? nos Montes Claros,
da Carinhanha at? Paracatu..."
Tr?s espa?os s?o
essenciais para a hist?ria: Pinda?bas, Tombador
e Arraial
do Rala-c?co.
5. Tempo
A hist?ria come?a com a seguinte marca??o temporal: "Era fim de outubro, em
ano resseco..."
Depois dos acontecimentos que envolvem Matraga, transcorrem cerca de 6
anos.
A raz?o do conto ? al?gica e m?gica, conforme dissemos, e, portanto, aqueles
em quem incide. Trata-se dos seres em disponibilidade, ? margem da produ??o
econ?mica e, por isso propensos ao devaneio, ? aventura.
Em Tempo!
Neste contexto, podemos compreender que no
homem comum est? a divindade, no
pecador
a salva??o, como nos mostra Augusto Matraga.
Estudo dos personagens
Filho do fazendeiro e coronel Afonso Esteves, ?rf?o de m?e, era conhecido por todos da regi?o como Nh?-Augusto. Homem brig?o, temido por todos, passava a vida bebendo e vadiando com outras mulheres. Deixava sua mulher e sua filha em casa, enquanto aproveitava a vida. Um dia, ficou muito endividado e perdeu os amigos e a mulher para outro. Al?m disso, levou uma surra e quase morreu. Depois disso, se converteu e morreu preocupado com a salva??o de sua alma. D. Dion?ra
Mulher de Matraga, desprezada por ele. Acaba fugindo com outro homem, mesmo sabendo que ele poderia mat?-la. Nunca mais viu o marido e nem foi vista por ele. Mimita
Filha de Matraga. Foge com a m?e e acaba caindo na vida com um sujeito desconhecido. Ov?dio Moura
Homem com quem D. Dion?ra fugiu. Quim Recadeiro
Amigo fiel de Matraga, tentou evitar que Dion?ra fugisse. Quando Matraga leva uma surra e ? tido como morto, ele tenta ving?-lo e acaba sendo assassinado. Major Consilva
Dono de terra e rival de Matraga. Mandou mata-lo ap?s uma emboscada.
Casal de Negros
m?e Quit?ria e pai Serapi?o. Cuidam de Matraga ap?s ter sido pego em uma
emboscada e ? tido como morto. Esse casal lhe ensina a moral crist?.
Bando de Jo?ozinho Bem-Bem
Flosino Capeta, Cabe?a-Chata, Tim Tatu-t?-te-vendo, Zeferino (gago),
Epif?mio e Juruminho (foi assassinado no final e Jo?ozinho volta ao lugar
para vingar sua morte e acaba reencontrando Matraga). Jo?ozinho tem muita
afinidade com Matraga, mas ambos morrem no final depois de lutarem um contra
o outro.
Ti?o da Thereza
conhecido de Matraga, o encontra e descobre que ele n?o estava morto. Passa,
ent?o a lhe contar o que acontecera a Dion?ra e Mimita.
Prostitutas
Ang?lica e Siriema: s?o leiloadas no in?cio de uma festa popular e Matraga
ganha Siriema porque era temido. Quando ela tira a roupa, desiste de ficar
com ela por considera-la feia.
Padre
? chamado pelo casal de velhos para aben?oar Matraga e disse para ele: ?sua
hora chegar?. Matraga repete essa frase at? o final do livro, todas as
vezes que se lembrava das injurias que sofreu.
7. Enredo
Era noite de novena no arraial e havia uma prociss?o. Quando a reza acabou,
aconteceu um r?pido leil?o. Depois disso toda a gente foi embora, mas o
leiloeiro ficou na barraca, comendo amendoim, no meio do povo b?bado do fim
da festa. Al?m deles, havia duas prostitutas, Ang?lica (negra) e Siriema
(branca). Os homens come?aram a disput?-las, como se elas tamb?m estivessem
em leil?o. Nesse momento, Nh? Augusto (Augusto Matraga) berrou para o
leiloeiro, oferecendo 50 mil r?is por Siriema. O povo, ent?o, incentivou-o a
levar a prostituta branca. Ele pegou-a pelo bra?o e os dois sa?ram. Ela
quis ficar com outro homem e at? amea?ou um choro, mas acabou se rendendo a
ele. Quando a levou para casa e acendeu a luz, percebeu que ela era muito
magra e disse: ?Que ?? ? Voc? tem perna de Manuel-Fonseca, uma fina e a
outra seca!? , mandando a rapariga embora. Depois disso, desceu a ladeira sozinho e esbarrou com Quim que trazia um
recado de Dona Dion?ra, sua esposa, pedindo que ele voltasse para casa. Ele
disse a Quim Recadeiro que n?o iria l?.
Quando Dona Dion?ra soube a resposta, teve vontade de chorar pelo desprezo
do marido e por sua desdita. Ela conhecia e temia os repentes de
Nh?-Augusto que n?o se importava nem com a filha Mimita de dez anos. Ela
sabia que ele tinha outros prazeres e outras mulheres, mas aceitava, pois
havia contrariado toda a fam?lia para se casar com ele. Outro homem j? tinha
aparecido em sua vida, mas ela sabia que se fugisse Matraga a mataria. Depois de pensar, ela dormiu e, de madrugada ainda, partiu com a filha e com
o camarada Quim, parando na fazenda de um tio. De manh?, continuaram a
andar. No meio do caminho, encontraram Seu Ov?dio Moura, o homem com quem
ela decidiu fugir, mesmo com medo de ser assassinada pelo marido. Quim
voltou para contar a Nh?-Augusto o que acontecera.
Quando recebeu a not?cia, Matraga decidiu ir atr?s, mas seus homens n?o quiseram ir com ele, pois ele devia dinheiro para todos. Al?m do mais, sua fama no lugar n?o era muito boa. Apesar de tudo isso, ele decidiu matar Ov?dio, mas antes quis vingar-se do Major Consilva e de seus capangas que n?o quiseram acompanh?-lo na busca da esposa. Chegou, ent?o, ? ch?cara do major, por?m, os capangas o espancaram at? que ele ca?sse. No meio desses homens, estava o camarada de quem ele havia ganhado a prostituta Siriema. Quando ele j? estava ca?do, o major mandou que o matassem. Eles o arrastaram at? o rancho do Barranco. Antes de mat?-lo, esquentaram o ferro dos gado e marcaram sua pele com as iniciais do Major Consilva. Nessa hora, ele levantou gritando e se jogou do barranco. Os capangas o consideraram morto e colocaram uma cruz no local.
Um homem negro que morava perto dali foi at? ele e o levou para seu casebre. Nh?-Augusto pediu que o matassem, mas, dias depois, retomou a consci?ncia. Lembrou-se da mulher e da filha, chorou e chamou o nome de sua m?e. O homem que o acudiu pediu que ele rezasse para Deus e para Nossa Senhora do Ros?rio. A tristeza tomou conta de Matraga.
Os negros trouxeram um padre para que ele pedisse perd?o por seus pecados e, ap?s ouvir do padre que sua hora e sua vez iam chegar, considerou que sua vida j? acabara e esperava apenas a salva??o da sua alma. Tomara t?o grande horror ?s suas maldades que nem podia mais se lembrar delas. Parecia se converter a Deus aos poucos.
Quando ficou bom, pensou em ir para o sert?o com o casal samaritano que o socorreu e viajaram para o povoado do Tombador. L?, ele pedia trabalho e conversava pouco. ?s vezes, ficava sozinho e se lembrava das ?ltimas palavras do padre: ?Cada um tem a sua hora e a sua vez: voc? h? de ter a sua.? Desse modo, passaram-se quase seis anos. Ele n?o fumava nem bebia; n?o olhava para as mulheres nem discutia.
Um dia, passou pela regi?o Ti?o de Thereza, um velho conhecido de Nh?-Augusto, dando not?cias de sua fam?lia: Dona Dion?ra, continuava amigada com Seu Ov?dio e sua filha ca?ra na vida com um homem desconhecido. O Quim Recadero havia morrido de ?morte matada? porque tentou vingar-se dos capangas que pensava terem matado Nh?. Ao ouvir tudo isso, Matraga repetia para si mesmo que sua hora havia de chegar. Por causa disso, no dia seguinte, fez muita caridade para n?o perder seu lugar no c?u.
Com o tempo, ele voltou a ter muito sono e muita fome. Pensou que Deus o havia perdoado e m?e Quit?ria louvou a Deus por isso. Acordou mais cedo e diante de tanta felicidade que sentia, teve vontade de fumar e n?o se sentiu pecando por isso.
Um dia, chegou ao lugarejo um bando de homens valent?es. Nh? foi at? o chefe, Jo?ozinho Bem-Bem, e ofereceu sua casa para que ele ficasse bem hospedado. Todos conversaram muito durante a noite e o chefe do bando, na hora de ir embora, convidou Nh? para ir com eles, mas ele recusou. Apesar disso, os invejou depois, porque n?o tinham que pensar na salva??o da alma e podiam andar no mundo sem vergonha. Pensou bem e considerou que essa hist?ria de andar em penit?ncia era andar pra tr?s e, por isso, decidiu retornar aos seus antigos caminhos. Voltou a beber e a sentir saudades das mulheres. Alguns dias depois, despediu-se e foi embora em um jegue emprestado pelo amigo Rodolphio Mer?ncio. Onde o jegue o levou ele foi e entraram em um arraial onde, por coincid?ncia, estava a jagun?ada de Jo?ozinho Bem-Bem. Nh? foi recebido pelo grupo com muita satisfa??o.
Jo?o ia matar um homem para vingar a morte do Jumentinho, seu colega de bando. O homem implorou pela vida, clamando por Deus e, quando viu essa cena, Nh? interveio, alegando que pedido em nome de Nosso Senhor e da Virgem tinha que ser respeitado. Jo?ozinho sentia-se preso a Nh? por respeito e n?o soube o que fazer. Seu bando, entretanto, liderado por Te?filo Sussuarana, caminhou para cima de Matraga. Jo?o tamb?m foi para a briga se agrediram. Por fim, Nh?-Augusto cortou a barriga do chefe do bando da p?bis ? boca do est?mago, condenando-o ? morte. Preocupado com a salva??o de Jo?ozinho, Matraga pediu que ele se arrependesse de seus pecados, mas n?o ouviu resposta, pois este morreu em seguida. Nh? estava muito machucado, mas pediu que chamassem um padre. O povo, por sua vez, agradecia, dizendo que Deus o mandou ali para salvar as fam?lias. Diziam: ?Foi Deus quem mandou esse homem no jumento, por mor de salvar as fam?lias da gente!...?. Por isso, era chamado de her?i e santo por todos, pois ningu?m antes tivera coragem para enfrentar Jo?ozinho Bem-Bem.
Um primo de Matraga estava no lugar e o reconheceu. Ele pediu a esse parente que colocasse a b?n??o em sua filha e que dissesse a Dion?ra que estava tudo em ordem. Depois disso, morreu.
8. An?lise cr?tica
8.1 A quest?o da espiritualidade
A hora e vez de Augusto Matraga ? uma hist?ria de reden??o e
espiritualidade, uma hist?ria de convers?o. Ao longo do seu enredo o protagonista, Augusto Matraga, passa do mal ao bem,
da perdi??o ? salva??o. O agente desta passagem ? o jagun?o Jo?ozinho
Bem-Bem. Podemos associar a ele o ditado: Deus escreve certo por linhas
tortas, pois ? o malvado Jo?ozinho Bem-Bem que permite a morte gloriosa e
salvadora de Matraga. A dualidade entre o bem e o mal parece marcar esse
mundo de jagun?os e fazendeiros, no qual h? a possibilidade de convers?o
quando chega a vez e a hora certa das pessoas, como ocorreu com Matraga. Nh? Augusto renuncia ? vingan?a, mas n?o ? honra, e se regozija ao fim,
radiante, ao se deparar com a hora e vez de ser Matraga, o homem que
escolheu ser. Homem capaz de agir com coragem, justi?a, fraternidade e
compaix?o.
Em Tempo! Observe pela leitura que o n?mero tr?s se repete em v?rias ocasi?es, devido ao fato de ser m?stico. Ex.: Matraga percorre tr?s espa?os e tem no corpo a marca de um tri?ngulo inscrito em uma circunfer?ncia. |
8.2 Linguagem
Na linguagem de Guimar?es Rosa encontramos os jogos de palavras, o prazer
l?dico, quase infantil, dos trocadilhos, das associa?es inesperadas de
imagens, do trabalho sonoro e po?tico com a prosa.
A pontua??o das frases de Guimar?es Rosa tamb?m est? ligada a esta preocupa??o l?dica com a linguagem: trata-se sempre de associar o jogo de palavras aos elementos da narrativa (personagens, narrador, enredo, etc.) Com a pontua??o, ele busca um ritmo que s? pode ser encontrado na poesia do sert?o, na marcha das boiadas, na passagem lenta e impercept?vel do tempo, no bater das asas dos periquitos, no balan?ar sinuoso das folhas do buriti.
Guimar?es Rosa ?, em conclus?o, o criador de uma obra em que elementos da cultura popular e elementos da cultura erudita se mesclam para reinventar a for?a da linguagem sertaneja e mineira. Conhecedor de pelo menos dezoito idiomas, ao lado das palavras que traz do vocabul?rio sertanejo h? v?rias constru?es importadas do latim, do franc?s, do ingl?s e do alem?o em seus livros. Poucos como ele t?m a capacidade de reunir a erudi??o das reflex?es filos?ficas ? transposi??o do imagin?rio popular, sem menosprezar as primeiras, e simplificando o segundo.
? o que vemos ao ler alguns trechos de Sagarana, onde percebemos o ritmo, a cad?ncia, a fecundidade e o mist?rio, dif?cil de decifrar, de sua linguagem.
As marcas de oralidade s?o muito expressivas atrav?s das m?sicas cantadas
pelos personagens durante todo o enredo:
"Mariquinha ? como a chuva: / boa ?, pr? quem quer bem! / Ela vem sempre
dee gra?a, / S? n?o sei quando ? que vem".
"Ei, compadre, chegadinho, chegou... / Ei, compadre, chega mais um
bocadinho".
"O terreno l? de casa / n?o se varre com vassoura: / Varre com ponta de
sabre / bala de metralhadora".
"Eu quero ver a moreninha taboroa, / arrega?ada, enchendo o pote na lagoa...
/ Como corisca, como ronca a trovoada, / no meu sert?o, na minha terra
aben?oada... / Quero ir namorar com as pequenas / com as morenas do Norte de
Minas".
"Eu j? vi um gato ler / e um grilo sentar escola / nas asas de uma ema /
jogar-se o jogo ded bola / dar louvores ao macaco. / S? me falta ver agora /
acender vela sem pavio / correr pra cima a ?gua do rio / o sol a tremer com
frio / e a lua a tomar tabaco".
Al?m disso, essa express?o oral ? evidenciada atrav?s da gagueira de um dos
homens do bando de Jo?ozinho Bem-Bem (Juruminho): "- Pois eu... eu
est-t-tou m'me-espan-t-tando ? de uma c'coisa...] e "? o m' molho de
as-mam-b?ia e a so-p-'pa da c'c' anji-quinha".
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