Dia Mundial da Alimentação
Artigo Dia Mundial da Alimenta??o |
Entramos no novo mil?nio com 1,2 bilh?o de pessoas em todo o planeta (incluindo mais de 500 milh?es de crian?as) vivendo abaixo da linha de pobreza, definida pela ONU (Organiza??o das Na?es Unidas) como sendo pessoas que vivem com menos de 1 d?lar/dia, o que seria o m?nimo necess?rio para a sobreviv?ncia. Segundo o estudioso norte-americano Phillip Harten, de cada 100 pessoas no mundo, 13 passam fome diariamente.
No meio rural a situa??o ? ainda mais grave, com 50% da popula??o abaixo da
linha da pobreza. Se pensarmos que 32% da popula??o brasileira est? no
campo, podemos visualizar que um grande contingente populacional encontra-se
em situa??o de mis?ria e fome no meio rural. ? justamente a? que encontramos
os mais altos ?ndices de desnutri??o infantil.
Situa??o ainda mais cr?tica ? a dos trabalhadores rurais sem terra.
Estima-se que, no pa?s, existam 4,8 milh?es de fam?lias sem terra para viver
e trabalhar. H? tamb?m a situa??o dos pequenos agricultores que, mesmo
possuindo terra, n?o disp?em das condi?es m?nimas necess?rias para gerar o
sustendo de suas fam?lias. Para se ter uma id?ia do que isso significa, o 1? lugar ? ocupado por Serra
Leoa (316 crian?as/mil nascidos vivos) e a ?ltima posi??o (187?) ? dividida
pelos pa?ses: Jap?o, Noruega, Cingapura, Su?cia e Su??a (4 crian?as/ mil
nascidos vivos). Acima de n?s est?o: M?xico, na 97? posi??o, Paraguai, na
98?, Argentina, na 123? e Uruguai, na 139? posi??o. Por curiosidade, Estados
Unidos e Cuba dividem a mesma 158? posi??o. Na identifica??o das causas da mortalidade infantil, temos que lembrar que
sa?de e nutri??o s?o fatores inter-dependentes, ou seja, s? se tem sa?de
atrav?s de uma boa alimenta??o e, ao mesmo tempo, ? necess?rio um organismo
saud?vel para aproveitar todos os elementos que uma boa alimenta??o oferece.
Assim, quando se analisa as causas da mortalidade entre os menores de 5
anos, dif?cil ? se identificar qual a porcentagem de mortes devida ?
desnutri??o e/ou a car?ncias nutricionais. Mas a maior causa de morte de crian?as no Brasil, principalmente de beb?s,
continua sendo a diarr?ia, provocada por doen?as intestinais geralmente
fruto do deficiente acesso ? ?gua tratada e rede de esgoto adequada,
situa??o vivida por um grande n?mero de pessoas em todo o pa?s. Uma taxa de 72% de nossa popula??o tem acesso a instala?es adequadas de
saneamento b?sico; desse total, 81% est? na cidade e apenas 32% no meio
rural. No nosso vizinho Uruguai, 93% da popula??o tem acesso ao saneamento
b?sico, independente de estar na zona urbana ou rural. Em melhor situa??o
est? o Paraguai, que d? cobertura em saneamento a 95% de sua popula??o
(rural e urbana). Conforme j? dito, a desnutri??o infantil no Brasil alcan?a os n?veis mais
altos no meio rural, embora se encontrem ?ndices tamb?m elevados nos bols?es
de mis?ria e nas periferias dos grandes centros urbanos. Os estudos nessa
?rea t?m revelado, constantemente, uma grande disparidade regional. Enquanto
nos estados do sul encontram-se ?ndices de desnutri??o semelhantes aos dos
pa?ses desenvolvidos, nas regi?es Norte e Nordeste esses ?ndices se comparam
aos dos pa?ses mais pobres do mundo. Enquanto isso, nas regi?es Sudeste e
Centro-Oeste, os ?ndices de desnutri??o infantil se assemelham aos dos
pa?ses em desenvolvimento, onde h? n?veis m?dios ou altos de riqueza e
acesso relativo aos servi?os b?sicos (?gua, esgoto, educa??o e sa?de). Al?m do grande d?ficit cal?rico que atinge grande parte da popula??o
brasileira (consumo em calorias inferior ?s necessidades energ?ticas do
indiv?duo), temos hoje, no pa?s, graves defici?ncias nutricionais
espec?ficas, como a car?ncia de ferro, iodo, c?lcio e vitamina A, que
atingem principalmente as crian?as.
As defici?ncias de c?lcio e ferro s?o devidas principalmente ao alto custo
dos alimentos mais ricos nesses nutrientes, leite e derivados para o c?lcio,
e carnes e v?sceras para o ferro. ? grande o n?mero de crian?as que
apresentam raquitismo em todo o pa?s, gerado por um consumo muito baixo de
alimentos ricos nesse nutriente. Preju?zos ao crescimento freq?entemente
ocorrem em fun??o de um consumo insuficiente de c?lcio, quando a oferta de
leite e derivados ? crian?a ? muito baixa, principalmente ap?s o desmame
completo. Embora hortali?as de folha, como a couve e o almeir?o, entre
outras, possam tamb?m fornecer quantidades razo?veis de c?lcio na
alimenta??o di?ria, nem sempre esses alimentos est?o dispon?veis, sendo t?o
raros quanto o leite em muitas regi?es do pa?s e para muitas fam?lias de
baixa renda. Por isso, o incentivo ? produ??o de hortas caseiras pode ser
uma a??o preventiva t?o importante para a sa?de das crian?as. Com rela??o ? defici?ncia de ferro, apesar de o feij?o ser uma fonte
relativamente boa desse nutriente e esse alimento ser parte importante do
h?bito alimentar de nossa popula??o, a quantidade de ferro ingerida em uma
alimenta??o ? base de arroz e feij?o normalmente ? insuficiente para
fornecer a quantidade desse elemento necess?ria para promover o perfeito
crescimento e desenvolvimento da crian?a, o que leva a um alto ?ndice de
anemia por car?ncia de ferro no pa?s (estima-se que 40% de nossas crian?as
sofram de anemia ferropriva), que pode ser agravada pelas infec?es
recorrentes. Al?m de gerar uma baixa resist?ncia imunol?gica, a car?ncia de
ferro prejudica o desenvolvimento cognitivo, podendo levar a dificuldades no
aprendizado.
A hipovitaminose A ? ainda uma das principais causas de cegueira em crian?as
em todo o mundo, e ? gerada, principalmente, por um consumo insuficiente de
vegetais e frutas, embora as v?sceras animais possam se constituir tamb?m em
boas fontes desse nutriente. No Brasil, essa car?ncia ocorre mais na regi?o
Nordeste, principalmente no semi-?rido nordestino. A defici?ncia de vitamina
A agrava o quadro da desnutri??o e da diarr?ia, assim como leva ? queda da
resist?ncia imunol?gica. A car?ncia de iodo ? comum no Brasil, uma vez que nosso solo ?, em geral,
deficiente nesse nutriente. O acesso ao sal iodado ? uma medida essencial na
preven??o dessa car?ncia nutricional. Muitas alternativas t?m surgido para minimizar ou resolver o problema, como
a utiliza??o de alimentos alternativos (como a multimistura) que, muitas
vezes, podem ter algum efeito no combate a alguma car?ncia nutricional
espec?fica (como a defici?ncia de c?lcio ou vitamina A), mas que n?o
solucionam o problema do acesso aos alimentos b?sicos, o que deveria ser
garantido a todas as camadas da popula??o brasileira. A desnutri??o s? pode
ser combatida atrav?s de um consumo adequado de alimentos, em quantidade e
qualidade suficientes para reverter o quadro da desnutri??o e garantir a
retomada do perfeito desenvolvimento.
De fato, avan?amos muito nas ?ltimas d?cadas em se tratando da situa??o da
inf?ncia no pa?s. Basta lembrar que, em 1960, a mortalidade dos menores de 5
anos era de 177 crian?as por mil nascidos vivos. Os ?ltimos estudos
demogr?ficos e sociais mostraram uma queda acentuada da desnutri??o infantil
nos ?ltimos quinze anos, embora ainda tenhamos ?ndices elevados em algumas
regi?es do pa?s. Os planos econ?micos que geraram relativa estabilidade nos
pre?os dos g?neros b?sicos, levaram a uma melhoria no padr?o alimentar de
boa parcela da popula??o brasileira, refletindo na queda dos ?ndices de
desnutri??o. Por?m, houve uma melhora no acesso aos g?neros de mais f?cil
aquisi??o, com pre?os mais acess?veis, geralmente mais ricos em calorias e
pobres em alguns nutrientes essenciais, o que n?o levou a melhorias
substanciais nos ?ndices das car?ncias nutricionais. Paralelamente, tem surgido um novo problema alimentar no pa?s, sentido por
todas as camadas da popula??o, que ? aumento da obesidade, incluindo a
obesidade infantil. Mudan?as nos h?bitos alimentares, com incorpora??o de
novos alimentos mais cal?ricos em detrimentos de outros, t?m sido algumas
das principais causas da eleva??o nos ?ndices de obesidade. O problema tem
sido mais observado em mulheres das classes mais desfavorecidas,
provavelmente em fun??o de um alto consumo de alimentos ricos em
carboidratos e gorduras (arroz, farinhas, massas, p?es, biscoitos, frituras
etc) e pobre nos demais nutrientes, e um baixo consumo de vegetais, frutas,
leite e carnes, quase sempre em fun??o do pre?o dos mesmos. A obesidade leva
uma maior predisposi??o a uma s?rie de doen?as, como as cardiovasculares e
alguns tipos de c?ncer. Esse fato mostra o quanto s?o necess?rias e urgentes medidas que facilitem e
garantam o acesso aos diferentes tipos de alimentos a todos, o que levaria a
uma melhora no padr?o alimentar de nossa popula??o e evitaria as graves
defici?ncias nutricionais que ainda assolam o Brasil. Somos um pa?s com um
potencial agr?cola invej?vel, terceiro maior exportador de produtos
agr?colas no mundo, capaz de produzir alimentos em quantidade e qualidade
suficiente para garantir uma nutri??o adequada a todos os seus habitantes.
Infelizmente, apenas 13% das nossas terras est?o ocupadas com lavouras
permanentes e tempor?rias, estando 51% das terras ocupadas com pastagens
naturais e artificiais. Finalizando, no momento de se comemorar o Dia Mundial da Alimenta??o, vale
refletir sobre a situa??o do pa?s em que vivemos e sobre o que desejamos ser
enquanto na??o. Para isso, vamos lembrar o conceito de Seguran?a Alimentar
constru?do pelo grupo de estudos que elaborou importante documento sobre a
situa??o alimentar no Brasil, apresentado na 1? Confer?ncia Nacional de
Seguran?a Alimentar (Bras?lia, 1994): "Seguran?a Alimentar significa garantir, a todos, condi?es de acesso a
alimentos b?sicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente
e sem comprometer o acesso a outras necessidades, com base em pr?ticas
alimentares saud?veis, contribuindo para uma exist?ncia digna, em um
contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana". Documentos Consultados:
Cristina Garcia Lopes
Situa??o Mundial da Inf?ncia ? Relat?rio da UNICEF ? 2001
Panorama Atual da Seguran?a Alimentar no Brasil ? Francisco Menezes/IBASE
(Instituto Brasileiro de An?lises Sociais e Econ?micas) - 1998
Pesquisa Nacional sobre Demografia e Sa?de (PNDS) - 1996
Censo Agropecu?rio do IBGE ? 1996
Site visitado: http://www.ibase.org.br
? nutricionista formada
pela Universidade Federal de Vi?osa.
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