Cabe pensar um pouco nas raz?es do sucesso desse programa. Excetuando o prop?sito da distra??o e do entretenimento, qual componente emocional faz com que milhares de pessoas tenham tanto interesse no BB? Mesmo sem ser dotado de uma hist?ria como as telenovelas ou filmes e mesmo sem ser informativo como os telejornais, tem conquistado pessoas de n?vel intelectual e social bem discrepantes.

Doze pessoas confinadas dentro de uma casa. Ociosas, passam o dia todo fazendo nada, conversando sobre amenidades e obviamente tra?ando estrat?gias para ganhar o pr?mio em dinheiro.

O discurso da m?dia ? formado por uma soma de fatores. As pessoas n?o querem somente a verdade exibida pelos telejornais, querem, tamb?m, emo?es; algo que as remeta aos seus investimentos libidinais reprimidos ou a seus desejos inibidos. O BB proporciona, exatamente, uma balan?ada nesse conte?do emocional de uma forma diferente daquele conte?do exibido nas telenovelas. O indiv?duo se identifica com aquele outro que se apresenta na tela como uma pessoa comum, mas a quest?o ? que aquele sujeito, naquela situa??o, passa por uma parcial perda de identidade deixando de ser ele mesmo para se tornar um personagem.

A revista Veja, em meados de janeiro deste ano, trouxe uma entrevista com o criador do BB, o produtor holand?s Jhon de Mol. Ele esclarece que a id?ia dos reality shows surgiu da especula??o do projeto cient?fico, que n?o obteve ?xito, o Biosfera 2, e n?o do livro 1984 de Geoge Orwel, como muita gente imagina. Revela que o livro tem um enfoque pol?tico, pois nele ? o governo quem observa as pessoas com a finalidade de controle, ao passo que o BB abarca uma quest?o voyeurista e tem somente o intuito de atrair o m?ximo de audi?ncia poss?vel, ou seja, um enfoque comercial.

O voyeurismo, evocando a psicopatologia, e a t?tulo de esclarecimento encontra-se enquadrado na categoria das pervers?es ou parafilias. O Manual Diagn?stico e Estat?stico de Transtornos Mentais (DSM-IV) revela que o foco paraf?lico do voyeurismo envolve o ato de observar indiv?duos, geralmente estranhos, sem suspeitar que est?o sendo observados, que est?o nus, a se despirem ou em atividade sexual. Esclarece ainda que o ato de observar serve ? finalidade de obter excita??o sexual, e geralmente n?o ? tentada qualquer atividade sexual com a pessoa observada.

O orgasmo, em geral produzido pela masturba??o, pode ocorrer durante o voyeurismo ou mais tarde, em resposta ? recorda??o do que o indiv?duo testemunhou. Freq?entemente, esses indiv?duos fantasiam uma experi?ncia sexual com a pessoa observada, mas isto raramente ocorre na realidade. Em sua forma severa, o ato de espiar constitui a forma exclusiva da atividade sexual. O in?cio do comportamento voyeurista geralmente ocorre antes dos 15 anos. O curso tende a ser cr?nico. O Manual traz ainda que as fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimentos clinicamente significativos ou preju?zo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras ?reas importantes da vida do indiv?duo.

? claro que n?o se tem o objetivo de enquadrar os telespectadores do programa em uma categoria nosol?gica. Isso poderia causar uma preocupa??o generalizada. A id?ia ? atentar para um pequenino "quantum" de caracter?stica voyeurista presente nas pessoas. A tend?ncia a observar pelo "buraco da fechadura" remete a conte?dos infantis. ?poca em que a maioria das crian?as costuma ter o desejo de observar seus pais em situa??o de intimidade .

S?o muitas as especula?es feitas por profissionais de diversas ?reas a respeito desse programa. O pr?prio Jhon de Mol enfatizou, em sua entrevista, que "o Biosfera 2 era um projeto s?rio que acabou se revelando uma piada, enquanto o Big Brother ? um programa de entretenimento que acabou se tornando objeto de uma por??o de estudos." ?, realmente um programa digno de estudos, pois abarca conte?dos psicol?gicos, sociais, antropol?gicos e de comunica??o entre outros.

Denise Mendon?a de Melo
? psic?loga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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