O olhar de Ivan Barbosa sobre Juiz de Fora

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O olhar de Ivan Barbosa sobre Juiz de Fora
 José Anísio 26/11/2013

Repórter: Eduardo Maia

O olhar de Ivan Barbosa sobre Juiz de Fora

Aos 77 anos, Ivan Barbosa (foto ao lado) observa avanços no modo como o idoso é tratado em Juiz de Fora. Sua impressão é a de que as dificuldades e as barreiras começam a diminuir com a forma consciente como a população, principalmente a juventude, tem tratado as pessoas da terceira idade.

Eletricista aposentado, Ivan tem uma brilhante carreira política, na luta pelo ideal da classe trabalhadora, desde o período de fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Foi o primeiro presidente do comitê pela fundação do partido em Juiz de Fora e até hoje defende que os princípios de igualdade e transparência que foram base para a formação do PT. Candidatou-se em 2012 a vice-prefeito na chapa de Margarida Salomão e tem boas recordações do reconhecimento da população, no período de campanha e após as eleições.

Ivan acredita que a existência de uma Comissão para a luta em defesa dos direitos dos idosos, na Câmara Municipal de Juiz de Fora, é um fator essencial para destacar a importância dos idosos, mas afirma que ainda tem muito a ser feito. "Em uma nota de 1 a 10, eu daria 7,5. Já melhorou muito. Em relação ao Estatuto, os idosos já têm o direito e agora nós temos onde cobrar para que sejam garantidos."

Mas ele destaca que é preciso fazer com que a população possa conhecer melhor estes direitos. "Temos, em Juiz de Fora, 14% da população idosa. 7% dela não conhece o Estatuto do Idoso. Tem uma determinada camada da população que conhece, que luta, como eu, durante toda a vida. É preciso ir às periferias, junto às associações de bairros, nas Unidades Básicas de Saúde, mostrar o estatuto e dizer: 'olha, vocês têm direitos.' Senão o idoso passa a ser um mero espectador do direito que ele não sabe que tem", afirma.

Direito ao transporte

Para que exista a melhor integração e o respeito à pessoa idosa em Juiz de Fora, Ivan acredita que uma das lutas a ser garantida é o direito ao transporte. Apesar das melhorias, ele aponta o quanto é necessário as empresas conscientizarem os seus funcionários. "Em datas mais recentes,  o nosso transporte coletivo era um trauma. Os motoristas não tinham o cuidado. A gente sabe que as empresas visam o lucro, mas eu acredito que, pelo menos uma vez por mês ou por ano, a empresa deve reunir os seus trabalhadores e conversar sobre os direitos. Um motorista deve esperar de dois a três minutos para que um idoso suba ou desça do coletivo e não ficar dizendo que tem horário marcado", desabafa.

Para que seja ainda melhor, ele acredita que é necessária a mobilização do poder público junto às empresas. "Eu acho que nós devemos, juntos à Comissão dos Direitos do Idoso, marcar uma reunião urgente com todos os empresários do transporte de Juiz de Fora, com a Settra, e dizer que eles terão que se reunir com os trabalhadores, para que eles possam ter mais acessibilidade aos direitos", propõe.

Participação política do idoso

Ivan condena a falta de interesse dos partidos em absorver a população idosa aos seus quadros. "Nós temos pessoas idosas, entre homens e mulheres, que me param na rua para saber como ingressar em um partido político. Lamentavelmente, a nossa classe política não tem uma visão para essa gama de pessoas que querem participar."

Ao contrário da impressão de que o idoso não deseja se envolver com a política, Ivan acredita que ele quer se ouvido cada vez mais. "Esta é a realidade. Eu fui candidato a vice e até hoje eu sou cercado por pessoas idosas dizendo que votaram em mim. Isso é a minha representatividade junto à classe política. O cidadão sente na pessoa a responsabilidade", analisa.

Deste modo, Ivan sabe que todos os direitos só podem ser garantidos a partir da consciência das pessoas e do investimento em educação. "O recado que deixo aos jovens é que eles procurem estudar. Se ele estudar hoje, ele vai saber como viver amanhã. É o que acontece com nós negros. Eu não sou contra o futebol, o samba, a cachaça, a capoeira. Mas não se pode deixar que este rótulo se sobreponha a um livro debaixo do braço. Para o amanhã, é necessário que o cidadão tenha a sua bagagem de estudos. Eu acho que a juventude vai ser o nosso futuro do desenvolvimento do país."


José Anísio da Silva
Assistente social, mestre em Serviço Social pela UFJF, especialista em Gerontologia pela FUMEC - Fundação Mineira de Educação e Cultura/BH e pela SBGG/MG - Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de Minas Gerais. Participa ativamente do CMDI/JF - Conselho Municipal dos Direitos do Idoso de Juiz de Fora/MG.