Solidão e Multidão: A Paradoxal Experiência da Modernidade

Leia a coluna de Jungley desta semana!

Por Jungley Torres

Solidão e Multidão: A Paradoxal Experiência da Modernidade

Vivemos em uma era em que as contradições se entrelaçam de maneira perplexa. A célebre frase: “Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo” ressoa profundamente no contexto de uma sociedade que, paradoxalmente, nos aproxima e nos distancia; aproximam os que estão longe, e distancia os que estão perto. Esse fenômeno pode ser compreendido através das ideias do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, que nos oportuniza uma visão perspicaz sobre a fluidez e a efemeridade da nossa experiência cotidiana. Bauman descreve nossa época como um período “líquido”, uma metáfora que ilustra a falta de permanência e a incessante mutabilidade das relações e instituições sociais. No “tempo líquido”, nada é feito para durar; tudo é transitório e insubstancial, escorrendo pelas nossas mãos como água. Essa característica da modernidade líquida contribui para uma sensação de angústia e incerteza.

Neste contexto, a solidão se torna uma experiência multifacetada. Em meio a uma multidão de conexões digitais e interações superficiais, a sensação de isolamento se intensifica. A promessa de proximidade oferecida pelas redes sociais frequentemente resulta em uma distância emocional maior, gerando uma solidão existencial que é difícil de ser preenchida por vínculos virtuais. À vista disso, Bauman aponta para o fato de que o amor é mais falado do que vivido e por isso vivemos um tempo de secreta angústia, sublinhando a discrepância entre o discurso e a prática. O amor, enquanto idealizado e discutido amplamente, muitas vezes não se concretiza nas interações diárias. Essa falta de vivência autêntica do amor, em um mundo onde o efêmero e o superficial predominam, amplifica a angústia da solidão e a frustração com a fragilidade das relações humanas.

Refletindo sobre isso, a educação desempenha um papel crucial. Em tempos de liquidez e incerteza, a educação não deve apenas transmitir conhecimentos, mas também oferecer meios para que os indivíduos construam e mantenham relações significativas e profundas. Em vez de simplesmente preparar os educandos para o mercado de trabalho, devemos incentivá-los a cultivar habilidades interpessoais e a refletir criticamente sobre a natureza das suas conexões com os outros. Neste sentido, a filosofia, com sua capacidade de provocar questionamentos profundos, pode ajudar a enfrentar essa angústia existencial. Promover um espaço educativo em que os indivíduos possam explorar as dimensões mais íntimas e significativas das suas experiências é fundamental. Ao integrar reflexões filosóficas sobre a natureza da solidão, do amor e da autenticidade, podemos oferecer aos estudantes um guia para navegar por um mundo que parece cada vez mais líquido e efêmero.

Portanto, ao reconhecer e confrontar as tensões entre a solidão e a multidão, o efêmero e o duradouro, podemos aspirar a uma existência mais plena e significativa. A educação, enriquecida pela filosofia, tem o poder de transformar a “solidão” em uma oportunidade para o crescimento pessoal e, com efeito, coletivo, criando uma base mais sólida para enfrentar os desafios da modernidade líquida.