Cecília Junqueira Cecília Junqueira 17/10/2011

Fênix mineira

Foto de queimadaNosso estado, no mês de setembro, apresentou o maior volume de incêndios no Brasil — ao todo, foram quase 8.000 focos; desde 2003 o fogo não causava tanto prejuízo ambiental.

As queimadas são práticas milenares utilizadas na preparação do solo para a agricultura; é a atuação do homem, criminosa ou negligente, a responsável pelos altos índices de incêndios.

O período da seca (maio a outubro) é um fator complicador. Neste ano, em Minas Gerais, foram mais de 20 as reservas ambientais vencidas pelas labaredas. Por exemplo, o parque Rola-Moça, símbolo da capital mineira, teve mais de 80% do seu território transformado em cinzas.

Ironicamente, acabo de folhear um catálogo distribuído pelo IEF chamado "Série guias de turismo: parques estaduais de Minas", onde no prefácio se apresenta a "Força-tarefa Previncêndio", criada em 2004 (depois do susto de 2003), para combater incêndios. O texto fala que as equipes chegam a qualquer local do estado em, no máximo, duas horas, com veículos e equipamentos especiais de combate ao fogo além de aeronaves e helicópteros... A gente se pergunta: o que deu errado? A estratégia humana, ou a parafernália tecnológica? Ou as duas coisas?

Se a natureza perde, ninguém ganha.

As florestas são fonte de muitas atividades econômicas e berço de funções ecossistêmicas; protegem o solo contra erosão, controlam a poluição do ar, ajudam no ciclo e na qualidade da água, equilibram a temperatura, têm grande valor paisagístico e recreativo. Tem preço o contato com a natureza?

Os parques mineiros, transformados em cinzas, estavam numa área de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, verdadeiros oásis da riqueza gênica, com muitas espécies endêmicas, que só existem naquele lugar...

As florestas concentram a maior biodiversidade do planeta e é aí que eu quero chegar: moradores do entorno dos parques em chamas relataram que viram muitos moradores da floresta saírem do fogo para se refugiarem na selva de pedras, principalmente pássaros, que detêm maior poder de fuga. Foram vistos também micos, serpentes, gambás, ouriços-cacheiros, marchando em direção à incerteza das cidades.

Fora a micro fauna, pequenos animais indefesos, que são lambidos pelo fogo sem a chance de lutar pela sobrevivência.

Desgraça pouca é bobagem: a queimada ocorreu no período reprodutivo das aves, o fogo acabou com seus ninhos e com a nova geração de pássaros.

Da varanda do meu apartamento, tenho acompanhado a formação de um ninho de bem-te-vi, "caprichado", de fibras de coqueiro do vizinho, (como eles são talentosos!).

Seria esse bem-te-vi um foragido de alguma floresta carcomida pelo fogo? Ou ele já seria um exemplar de ave nascida num contexto urbano? Quantos animais sobrevivem a esta mudança de vida? E quantos animais endêmicos morrem na disputa alimentar com animais exóticos e vice-versa?

As florestas estão virando desertos e as cidades ilhas de refugiados.

Saiba como evitar os incêndios

1 - Fazer queimadas somente com autorização do Ibama e de forma controlada, com a construção de aceiros - barreiras que impedem a propagação das chamas. O aceiro pode ser feito em forma de vala ou limpeza do terreno de modo a obstruir a passagem do fogo;

2- Apagar com água o resto do fogo em acampamentos para evitar que o vento leve as brasas para a mata, causando incêndios;

3 - Não jogar pontas de cigarro acesas próxima a qualquer tipo de vegetação;

4 - Está proibido o uso de fogo em áreas de reservas ecológicas, preservação permanente e parques florestais.

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE)

Sobre a penalização

Os infratores estarão sujeitos às penalidades previstas na Lei de Crimes Ambientais, onde as penas chegam de três a seis anos de prisão, além de multa. Mas, no Brasil, incêndio não dá cadeia (como outros tantos crimes), por isso a destruição do homem é sempre maior do que a capacidade de regeneração da natureza: nossas florestas são como o pássaro Fênix da mitologia grega, que quando morre, entra em autocombustão e, passado algum tempo, renasce das próprias cinzas, mas seu renascimento leva pelo menos 25 anos!

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Cecília Junqueira é gestora ambiental, pós-graduada em problemas ambientais urbanos
e integrante da "Mundo Verde projetos ambientais".


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