O dia depois de amanhã
Era só mais um filme passando no Telecine Action. Antigo inclusive, o filme é de 2004. Eu de camisola na sala suando como uma tampa de marmita assistindo novamente a este filme porque gosto muito do ator Dennis Quaid. De repente me peguei procurando por informações sobre o filme: "Uai gente, esse filme foi lançado em 2004? Sério?" Parecia mais uma super estreia do Telecine Premium... Tive essa sensação porque o objeto do filme nunca foi tão contemporâneo. Mudanças climáticas, aquecimento global, cientistas tentando alertar os governos, sem sucesso, derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, pessoas morrendo, furacões, tempestades, blá, blá, blá. Você deve estar vendo essas coisas todos os dias na TV ou na internet. Disseram que 2014 foi o ano mais quente registrado na história e dizem que vai ser superado por 2015. Que felicidade... No Sudeste a água acabou. Sério, não estou exagerando. Pense duas vezes antes de jogar qualquer gotinha de água fora na certeza de que é um recurso infinito. Não é, nunca foi e nunca será.
Terminei de ver o filme com um certo friozinho na barriga. Tudo bem, eu sei que sou um pouquinho catastrófica, mas sinceramente penso que este filme nunca foi tão moderno. Acho que o presidente Barack Obama viu o filme por esses dias também. Vocês acompanharam o discurso do digníssimo no congresso americano no dia 20 de Janeiro? Um tanto preocupado. Pode ser apenas uma conversinha para boi dormir ou uma tentativa de parecer legal, mas supondo que ele estivesse sendo sincero, o tópico sobre o qual o presidente mais falou foi: mudanças climáticas. Segundo Obama, este é o maior desafio a ser enfrentado pelas próximas gerações. Disse que pretende fazer dos Estados Unidos o país líder no combate às mudanças do clima e que deseja ser peça chave nos acordos climáticos que deverão acontecer entre as potências internacionais ainda este ano.
O discurso de Obama foi bonitinho. Serve de exemplo para as demais lideranças do nosso planeta, contato que seja acompanhado de ações reais, de nível macro e que superem o puro palavrório. Sejamos otimistas, é melhor: vamos fazer o "jogo do contente" e acreditar que Obama foi sincero. Está ligeiramente amedrontado. Viu o filme comigo e ficou com frio na barriga também. Está pensando em ligar para a nossa presidenta. Marcar um café. Vão discutir o drama da água, do calor, da poluição, da perda de diversidade, da exploração das florestas, da exagerada emissão de combustíveis fósseis. Vão ver o filme juntos, concentrados, preocupados, anotando ideias em um papel. Vão convocar pesquisadores de todas as partes do mundo que trarão propostas geniais cheias de inovação e tecnologia a favor do planeta. Vão chegar a um consenso. Vão colocar tudo em prática. E o tal filme vai ser somente mais um produto de ficção da indústria cinematográfica americana... Amém.
Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.
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