Sobre ética em Paris
Em dezembro deste ano acontece em Paris a 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21). O objetivo deste encontro é substituir o famoso Protocolo de Kioto e chegar a um acordo sobre as mudanças climáticas e as emissões de gases poluentes. O evento vai reunir milhares de pessoas, incluindo líderes de importantes países como China e Estados Unidos, no debate que promete encontrar uma solução justa e prática para a situação climática que vivenciamos. O principal aspecto é estimular a redução na emissão de gases gerados por combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural. Responsabilizar e propor metas que possam entrar em vigor em 2020.
Eu costumo ser cética com relação a propostas vindas de representantes do alto poder, especialmente em um mundo capitalista em que o que predomina, por uma questão de coerência, é o lucro. Historicamente o que vejo é que o lucro predomina acima da ética e acima se qualquer interesse coletivo. Se ficar comprovado com clareza para aqueles que cismam em não enxergar, que o meio ambiente em colapso afeta irreparavelmente o bolso dos ricos (porque dos pobres não interessa), aí sim vejo uma possibilidade deste e de qualquer outra conferência sobre o clima surtirem efeito positivo. Todavia, caso seja uma reunião de países trocando ideias superficiais, confrontando pontos de vista sem consenso, prometendo reduções de emissões que não irão cumprir e desconsiderando a real gravidade da situação, a COP21 será mais uma sigla bonitinha para a lista de encontros sobre o clima que não tiveram resultado algum.
Penso que a única coisa que pode fazer este encontro dar certo no fim das contas, para além das propostas numéricas e debates cheios de detalhes técnicos, é a ética. Porque é ela que vai fazer quem estiver falando e principalmente o representante de todos os países sentirem um peso na consciência em não propor e se engajar com algo maior. Fazer algo que não beneficie apenas a si mesmo, mas essa comunidade toda da qual fazemos parte. Propor reduções nas emissões de gases poluidores que sejam cumpridas e não apenas anunciadas. A maioria ali tem informação suficiente de biologia, ecologia, ética e cidadania, seja porque estudou em boas escolas ou porque possui conselheiros informados para este fim. Mas esse conhecimento só será sedimentado dentro da pessoa, em uma parte que desconhecemos, se o botãozinho do "fazer o que é certo" for acionado, mesmo que isso signifique frear os índices de crescimento econômico. Caso contrário, repito, este será só mais um evento charmosinho, sobre um tema cultzinho em um lugar elegante.
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Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.
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