Juliano Nery Juliano Nery 17/12/2010

Em que posso ajudar?

Foto de comércio lotadoSe tem algo que aprendi nas padarias, foi com os papéis que embrulham o pão. Baita case de marketing de relacionamentos, aquele singelo "Obrigado, volte sempre" estampado no saquinho. Como não achar simpático, o "Servimos bem, para servir sempre"? — Devia ser um mantra entoado em todo o comércio, como premissa a ser seguida por proprietários e por atendentes. Principalmente, quando estamos falando de Juiz de Fora, cidade caracterizada por uma acentuada rede de serviços e que movimenta um considerável montante de divisas durante o Natal. E que, infelizmente, deixa muito a desejar, quando o objetivo é agradar ao cliente.

Ao sair às compras neste período, enfrentei uma série de dissabores nas ruas de nosso comércio. Foi o que aconteceu, quando experimentei uma camisa, atirada em meio a uma pilha, com tantas outras, enquanto a vendedora atendia uma mulher que parecia que ia gastar mais do que eu. Foi o que pude perceber, enquanto tomava uma garrafa d'água quente, enquanto a atendente vociferava cobras e lagartos por me fornecer alguns cubos de gelo. Foi o que senti, quando adverti um gerente, sobre o meu prato de comida, que já levava pra lá de 30 minutos para ser servido, em uma rede de fast food. Teve a indelicadeza na hora de embrulhar o presente na loja de brinquedos. E eu poderia mencionar milhões de outros exemplos, mas acho que já basta o exposto. Até porque, pretendo não mais visitar o mercado neste ano. "Servir bem, para servir sempre", uma ova!

Aconselho aos lojistas que observem melhor aquele camarada que chega meio tímido ali na loja. Ele costuma estar mal vestido, com a barba por fazer e cabelo desgrenhado, típico de quem acabou de acordar. Ele pode, senhor vendedor ou lojista, ser o cliente dos seus sonhos, já que, por ser tão estranho, pode fazer diferente dos demais e pagar todas as compras de Natal à vista. Diferentemente de alguns muito emperiquitados, que parecerão ricos, mas que engrossarão as fileiras dos calotes tomados por nosso comércio no fim deste ano. As aparências enganam, nunca é demais lembrar.

Já passou da hora da cidade que não reconhece o índice de urbanismo de seus convivas, mirar-se pelo espelho e vestir a carapuça também. E isso passa pelo nosso comércio, certamente. Atender com um sorriso de bom dia, colaborar para que a demanda do cliente seja plenamente satisfeita e se colocar no lugar de quem está do outro lado do balcão podem ser os primeiros passos. É fazer valer aquela simples pergunta, tão clichê, mas que é de grande valia: afinal de contas, em que posso ajudar?

A corrida por um presente de Natal já chegou à reta final. Na próxima semana, já no sábado, quem comprou, comprou e quem não comprou, não comprará mais. Será que o período de reflexões, impostos pelo Natal, mudará a postura de nossos comerciantes? Será que teremos a cordialidade como a marca suprema de uma cidade marcada pela prestação de serviços no próximo ano? — Se nada tiver mudado, não entre em pânico, caro consumidor. Boas capacitações e treinamentos podem dar conta do recado e fazer do próximo Natal, algo realmente renovador.

Juiz de Fora merece uma nova roupagem em relação ao atendimento. É justo e necessário. Pode ser difícil para o comércio, mas vale o exemplo das padarias. Nada do expresso acima pode ter qualquer valia e ainda existirão os papéis de pão. Com suas simples, singelas e não menos importantes mensagens, que emocionam os clientes.

Juliano Nery não voltará ao comércio em 2010. Só frequentará, até lá, as padarias.


Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.


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