Usos e abusos
Estarrecido fiquei ao acompanhar a chacina ocorrida no Rio de Janeiro, na escola em Realengo, na manhã de ontem, dia 7 de abril. Psicopatologia? Desespero? Covardia? Consequências de um bullying? — Inexplicável, parece-me a melhor definição. E em meio ao luto por tanto abuso, reflito por outros temas, que perpassam a vida moderna, afora os rompantes sádicos e trágicos, como os que acompanhamos nesta feita. A primeira pesquisa do Disque Páscoa, divulgada também na última quinta-feira, deixou-me alarmado. Variações de 133% nos preços dos produtos típicos da época me afligiram de alguma forma. Assim como a vida, que deve ser preservada, o mercado deve ser usado de forma a poupar o bolso do cidadão, que aconselho, deve pesquisar.
Herança do início de um novo governo, a variação dos preços deve ser observada com acuidade e sagacidade pela população. Não podemos sucumbir ao primeiro apelo de uma gôndola com ovos de Páscoa bem embalados e chamativos. Há que se dobrar o primeiro corredor de supermercado com seus arcos de sabor formatados pelas grandes marcas de chocolate e visitar 33 lojas do ramo para chegar ao melhor preço. Nem sempre aquele bombom que te leva ao coma ou ao êxtase será encontrado na melhor relação custo/benefício, com apenas um rompante. É necessário cavar as melhores oportunidades. E isso vem com o tempo. Nem que seja depois da Páscoa, quando os ovos remanescentes valem menos e podem, enfim, encher os carrinhos rumos às caixas registradoras.
O mesmo vale para o bacalhau e para os demais frutos do mar, sim, senhor! São as nuances do capitalismo. Oferta e procura, demanda reprimida, sazonalidade e queima de estoque. Queira ir à Jurerê Internacional na Semana Santa e verá a diferença de valor para um fim de semana qualquer em maio, quando não teremos nenhum feriado. Talvez, não tenha ninguém por lá, nenhuma festa, nenhuma Ferrari nas garagens, mas... o preço ficará bem pequeno.
Precisamos saber usar o que temos a nosso favor. Sejam as reprimendas da vida, sejam os cupons dos sites de compra em grupo. Dá-se bem quem sabe navegar nas águas negras, talvez de Coca-Cola ou Pepsi (qual está mais barata?!), do mercado. O apressado come cru, já dizia o ditado. O que ninguém disse, naquela época, é que paga mais caro também aquele que fica pendurado no cartão de crédito até dobrar o Cabo das Tormentas do ano, que acontece ali pelo mês de julho...
Proteja o bolso, blinde o coração e não ligue para o que dizem por aí. Se você é feio como um abacaxi, ou magro como uma vareta, pouco importa. Não ligue se você ainda não tem a TV LCD e que na sua tela ainda estejam em cartaz os filmes bidimensionais. Tudo bem, dê de ombros, a vida é mais do que isso. Somente os bobos não fazem das idiossincrasias, oportunidades para se darem bem. Zombe do perigo e das convenções pré-estabelecidas. Tudo pode ser sorte, o copo pode estar meio cheio ou meio vazio...
Não me importarei em rodar quilômetros atrás da tábua de esmeraldas dos saborosos ovos de Páscoa ou do sabor dos melhores mariscos do mar a preços módicos. Pode me chamar de pobre, se quiser. Eu não vou ligar e vou rir de tudo isso, quando estiver com as finanças equilibradas, longe dos usos e abusos do mercado.
Juliano Nery já combinou com o seu filho de que a renovação proposta pela Páscoa, em forma de ovo, pode chegar na segunda-feira após o sábado de Aleluia, embora todos tentem convencê-lo de que será no domingo.
Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.
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