Vaga não rima com estacionamento
Foi pelas ruas e avenidas de Juiz de Fora que fiquei a procurar. Cada entrada de cruzamento, cada rotatória, olhos atentos para encontrar. Procurei nas cargas e descargas da vida – 15 minutos apenas, não resolveriam a minha situação – e continuei percorrendo, sempre alerta, como quer os escoteiros, a peregrinação. Até vi um espaço, algumas brechas, mas não era grande demais para minha acomodação. Em outro caso, veio um mais ligeiro e ante ao objetivo traçado, fiquei olhando, assim "tão perto e tão longe", do que poderia ser a salvação. O que fazer, diante de tamanho imbróglio, que parece não chegar a uma solução?!
Andei mais um pouco e a busca incessante continuava. Rodei cada esquina, acendi um cigarro, foi aí que me lembrei que sequer fumava. Quase abandonei o carro com o pisca-alerta ligado e corri para a mesa do bar. Não fiz isso, por conta da multa, já que não falta gente com a responsabilidade de "grampear". Tentei um pouco mais afastado do Centro, no Paineiras, no São Mateus e no Vitorino Braga busquei a sorte. A realidade nesses locais, no entanto, não foi diferente, o trânsito também estava pela hora da morte. Então, fui embora para em outros trechos encontrar meu lugar. Já desanimado, com medo da verdade líquida e certa que logo teria que encarar.
Foi nesta última busca que desisti, exausto e aborrecido. Se soubesse dos dissabores que enfrentaria, nem de casa teria saído. Com buzinas na cabeça, estressado e cansado com os desaforos aqui e acolá. Precisaria de uma semana de folga para começar a me recuperar. No entanto, só tive tempo de guardar o carro na garagem. E tive que separar o dinheiro e as moedas para pagar mais uma passagem. Mas o ônibus acabou demorando muito e não aguentei esperar, nem com toda fé. Adivinhe o que fiz, então: fui para o trabalho a pé.
No caminho chuvoso, vários carros molhavam minha roupa, acertando as poças que se formavam no asfalto recém-recuperado. Achei estranho tanto buraco, esperava que as ações que interditavam o trânsito conseguissem melhor resultado. Encharcado e divagando, pensava mesmo era no que busquei a manhã inteira, naquilo que considero uma praga. Como estacionar o carro em qualquer via, se não existe nenhuma vaga? Não sei se a culpa é da engenharia de tráfego ou do IPI reduzido do ano passado. Sei que em anos de empresa, por conta da dificuldade em estacionar, passei a, sistematicamente, chegar atrasado.
Com um quê de indignação e, porque, não, de frustração, apresentei mais uma vez, minha versão. O chefe fez cara de que era desculpa esfarrapada, diante de mais uma lamentação. "Por que não vem sempre a pé, que é mais saudável?". Apenas sorri, de forma amável. Com o trânsito do jeito que está e sua lógica capenga, ele estava certo e achei melhor não partir para o enfrentamento. No Centro de Juiz de Fora anda possível encontrar um estacionamento.
Juliano Nery faz rimas de brincadeira para tratar de assuntos sérios, como o trânsito da nossa cidade.
- Estacionar nas ruas de Juiz de Fora é tarefa cada vez mais complicada
- Preços baixos dos produtos em sites de compras coletivas são apelo ao consumismo
Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.
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