Juliano Nery Juliano Nery 22/7/2011

Superando limites

IlustraçãoQue o ser humano é afeito a quebrar barreiras e expressar novas marcas, ninguém duvida. Foi por conta desse espírito que ampliamos nossas fronteiras de mundo e ganhamos o espaço, caminhando até pela lua. "Pequeno passo para o homem, grande passo para a humanidade"... Seja qual for o limite, queremos rompê-lo. Esporte, tecnologia, dinheiro, política... Queremos sempre ir mais longe. E aqui em Juiz de Fora, tivemos exemplos, durante a semana, de quebra de parâmetros em terrenos que não fornecem qualquer tipo de orgulho, como a criminalidade e a intolerância na convivência social. Alguns fatos chocaram a população, simplesmente, por demonstrarem uma falta de senso recorde, estabelecendo outros limites para a audácia da bandidagem, para as relações humanas em geral.

Assalto a casas em Juiz de Fora é algo rotineiro nos boletins de ocorrência da polícia. Mas, assalto seguido de uma tentativa de estupro já passa a ser uma nefasta novidade. E mais alarmante é saber que a vítima de 85 anos foi agredida e ultrajada por um jovem de 25 anos. O que leva alguém a protagonizar uma atitude tão torpe? Suspeito que há mais do que o delito de se apropriar de algo de outrem. Há maldade no nível mais alto, do tipo que cega e encerra todos os parâmetros a que estamos acostumados. Superar limites e passar dos limites são expressões parecidas. Mas, quando usamos a segunda, a coisa parece ser bem pior, como nesse caso...

E o caso da padaria na avenida Getúlio Vargas? Aquele do cara que socou o outro, por que ele queria pagar 70 centavos no cafezinho de um real? Certamente, o limite do balconista já havia ultrapassado bem mais que os 30 centavos que ficaram faltando. Talvez, estivesse cansado de malandragem, como deve acontecer diariamente no estabelecimento, de gente que, certamente, também, não possui limites. Vai ver que ele estava estressado ou entendeu como desaforo a tentativa de ser passado para trás. Itens que podem tentar explicar, mas jamais justificar uma atitude digna de manchetes nos jornais. O perfume da intolerância no ar. Todo mundo quer se dar bem e ninguém quer ser dar mal. Essa conta nunca vai se fechar...

O que me chama a atenção é a incapacidade crítica nesses casos, quando fica claro o excesso nas atitudes. É chocante pensar que dentro da cabeça de alguém exista a ausência de reverberação de sons, de uma voz que seja, como em uma câmara anecoica. Deveria vir uma voz lá do fundo, daquela a que nos acostumamos chamar de "consciência". No entanto, quanto mais avançamos na audácia, diminuímos o poder do discernimento e medidas fora do controle acontecem. Nas ações criminosas, na padaria, em casa, na fila do consultório, na vida social...

Precisamos nos unir em torno de uma convivência corresponsável. Observar os limites e não somente quebrá-los. Não sou pândego de achar que isso acontecerá do dia para noite, mas fica claro que as mudanças urgem. Antes que excertos de notícias, como, "os ladrões roubaram uma bolsa de couro, R$ 500 e 300 unidades de chiclete (?) no bairro Fábrica" deixem de ser alarmantes e caiam na rotina, como tanta estupidez que estamos acostumados a assistir.

Juliano Nery é afeito aos recordes, mas não pretende quebrar todos os limites.

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Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.


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