Com licença
81%. Não gosto muito de números e, caso tenha que escolher entre eles e as palavras, não resta a menor dúvida de que este cronista ficará com a segunda opção. Mas, desta vez, não pude começar minha coluna sem recorrer a este tipo de medida. O índice de reprovação nos exames de direção veicular em Juiz de Fora, algo em torno dos 81%, conforme dados do Setor de Habilitação da Primeira Delegacia Regional da Polícia Civil. Os comentários de que tirar uma Carteira Nacional de Habilitação em Juiz de Fora é algo pra lá de difícil ganha ares dramáticos com a divulgação dos dados. Principalmente, porque o número de aprovados apresenta queda de janeiro pra cá, quando era de 24%, frente aos 19% do último mês. Isso porque nem colocamos em relevo uma comparação de Juiz de Fora com o restante do estado e, menos ainda, com o Brasil... Fica a pergunta: qual é o problema com os nossos futuros condutores? Ou será que o problema não é só com eles...
A luta por uma habilitação começa muito antes do bendito exame de rua. Tem início com o pagamento das taxas do Estado e dos serviços prestados pelas autoescolas que, no caso das últimas, vale frisar, merecem uma bela pesquisa de preço, já que as variações costumam ser acachapantes. Portanto, a primeira batalha a ser vencida pelos postulantes ao mundo da pilotagem é financeira. E não ta nada fácil liberar algo entre 500 e 1.000 mangos para um projeto. Ainda mais quando o funil dos aprovados está ficando cada vez mais estreito e que a possibilidade de repetência representa mais dinheiro a ser desembolsado.
Tem a batalha do curso. São 45 horas de aulas de legislação até a realização da prova. Aprovado, o candidato a condutor vai pra rua e é lá que existe a dificuldade para encontrar um caminho a seguir: confiar no instrutor, que disse que você não está preparado para o exame de rua ou queimar uma tentativa, na esperança de que em um golpe de sorte e/ou competência, a iluminação esteja ao seu lado e a carteira de habilitação seja obtida de primeira? Soma-se a isso, o fato dos exames terem se tornados noturnos na cidade, de que as vias onde estão sendo realizadas as provas estejam esburacadas e sem sinalização adequada e de que a cobrança do avaliador não siga um roteiro fixo, mas, com variações. Elementos de sobra pra se aumentar ainda mais o nervosismo do candidato, inserindo mais um ponto para dificultar a obtenção da licença, o aspecto psicológico. E tudo isso em apenas um ano...
Há quem diga que camisa 10 joga bola até na chuva e que o futuro condutor tem que ser forjado em condições adversas, mesmo no exame. Acredito que até certo ponto, o Departamento de Trânsito de Minas Gerais deva ser rigoroso, até para evitar desvios que coloquem em xeque a credibilidade do processo. Mas, quando a possibilidade de aprovação se torna, por vezes, inviável, algo deve ser questionado: cursos, instrutores, condições, avaliação. Não para se caçar bruxas, mas para aperfeiçoar o modelo e torná-lo mais compatível à realidade do cidadão. Bem sabemos que o trânsito é coisa séria e que uma carteira de habilitação na mão de indivíduos irresponsáveis pode render perdas irreparáveis. E os números, aqueles que eu não sou muito afeito, ajudam a colocar o ponto de interrogação. Afinal, o que precisa ser feito para o exame de direção veicular tenha índices mais próximos do final feliz, ou seja, da tão sonhada licença.
Juliano Nery não tem licença para dirigir, mas como já abriu algumas pautas no Detran, conhece bem do curso de formação de condutores.
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Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.
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