Que saco(la)!
E a lei que proibiria o uso de sacolinhas de plástico nos estabelecimentos comerciais de Juiz de Fora, que entraria em vigor no dia 4 de agosto, teve seu prazo para efetivação adiado para nova data. Tudo porque o assunto é controverso. Tida, inicialmente, como um vilão para os ecologistas, já há quem diga, dentre os próprios ambientalistas, que a sacola plástica pode ser bastante viável, quando reutilizada para outros fins, como guardar a chuteira depois do futebolzinho; carregar roupas, quando a mão cansa; carregar objetos, que queremos preservar dos olhos e da cobiça alheia... E as biodegradáveis e as oxibiodegradáveis (parece nome de remédio), por mais que sejam uma alternativa, ao que me parece e me corrijam os ecologistas de plantão, caso esteja errado, só terão validade se tiverem o mesmo implicativo de reutilização. Mas, bom mesmo, mesmo, somente aquele velho embornal. É, aquele que a vovó levava na feira, feito com juta... Parece que a alternativa é ressuscitá-lo.
O engraçado é que, antigamente, na época do tal embornal, a consciência ecológica ainda não era a tônica do momento de então. E, embora a poluição fosse progresso, a maior parte das garrafas de bebida eram retornáveis, as sacolas eram verdadeiros alforjes que, como armas que não são abandonadas pelos soldados de um exército, não saíam das mãos das donas de casa, que sempre as arrastavam por onde quer que fossem. Assim como os liquidificadores possuíam copos de vidro e motores de carro e os aparelhos de rádio e televisores previam válvulas e tubos para serem consertados, caso estragassem em seu milésimo ano de vida. Todos feitos para durarem. Mas, ali pela década de 1980, o consumismo bateu à porta e se instalou, ganhando a poltrona mais confortável em nosso tempo.
Daí, tudo passou a não ter mais conserto e a aura da descartável utilização. Muita caixa de papelão, plástico bolha e isopor para embalar sonhos de consumo que não durariam por mais que dois, três anos. Televisão, geladeira, DVD, batedeira, cama e guarda-roupa... Todos muito bonitos e atrativos aos olhos do consumidor, mas feitos para acabar e não para reaproveitar. Estragou? – Para o lixo! - Abriu? – Favor consumir em até 7 dias, senão, jogue fora! – E embrulhe em uma sacolinha, que é para não ficar fedendo... E por falar nisso, o que você anda fazendo com o seu lixo? Já ouviu falar em separação, em coleta seletiva? – Pode ser uma alternativa interessante para começar a se educar para os novos tempos, em que o consumo deve ter um lugar menos nobre dentro de casa e se adequar ao chamado pela preservação ambiental.
Tudo bem, eu sei bem que é um(a) saco(la) carregar uma bolsa para ir ao supermercado, de ter que separar o lixo seco dos resíduos, mas para cada um terá que caber uma responsabilidade nessa história de mundo melhor. E assim como temos que manter as torneiras fechadas sem pingar água, que as indústrias, as grandes poluidoras e produtoras de itens de consumo, também façam sua parte. Para tanto, que o governo consiga criar e faça valer um conjunto de regras para que os grandes responsáveis também arquem com suas responsabilidades no caso e que os Rio+20, Cop-15, Protocolo de Kyoto e Eco-92 não sejam apenas discursivos, mas propositivos.
Por meu turno, daqui para frente, tentarei estabelecer relações mais duradouras e menos consumistas com os aparelhos eletrodomésticos e com os utensílios do lar. Pensando bem, até as relações interpessoais precisam ser revistas. Esse negócio de "se não der certo, parto pra outra" é de um consumismo absurdo... A gente descarta as pessoas e não tenta consertá-las ou adequá-las ou reaproveitá-las de forma nenhuma. E parte para outra, para outra, para outra... Nunca tinha pensado nisso antes... Interessante e vale como reflexão!
Juliano Nery vai caçar um embornal velho e o liquidificador de copo de vidro e motor de carro, que era da Vó Maria, na próxima vez que estiver em São Lourenço.
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Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.
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