Projeto de peças infantis sobre cuidados com a saúde chega à Juiz de Fora

Coraçõezinhos de Baependi tem o objetivo de conscientizar as crianças quanto os cuidados com a saúde, de uma forma lúdica e divertida

Angeliza Lopes
Repórter
09/05/2015

Quem nunca ouviu o ditado "É igual coração de mãe, sempre cabe mais um!". A expressão popular se encaixa perfeitamente ao projeto que deu nome a tese de doutorado da endocrinologista Camila Maciel, chamado Corações de Baependi. A cidade mineira, que fica a 200 km de Juiz de Fora, recebeu de braços abertos a médica e seu estudo, que financiado pelo Instituto do Coração (InCor) da Universidade de São Paulo (USP), se incumbiu de tratar muito bem dos corações de 2.500 moradores inscritos, em um posto de saúde específico, cedido pela Prefeitura, para os tratamentos. Mas, Camila não queria parar por aí. Organizou uma equipe de estudantes de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e criou os Coraçõezinhos de Baependi, com o objetivo de conscientizar as crianças quanto os cuidados com a saúde, de uma forma lúdica e divertida. A peça de teatro ganhou forma e já foi apresentada à 600 crianças de escolas particulares e municipais de Baependi. Para os próximos meses, o projeto terá nova versão, mas com público diferente. Ele viajará três horas em direção aos Coraçõezinhos Apaixonados de Juiz de Fora.

Com este nome, o projeto de extensão do departamento de fisiologia da UFJF está em fase de negociação com escolas municipais, particulares e estaduais. Graduandas de nutrição e enfermagem farão as apresentações, com o apoio de Camila Maciel. "Nosso projeto é aberto e cabe muita gente. É um grande prazer trabalhar com estudantes dos mais diversos cursos e levá-los a interagir com a comunidade. Hoje nossa equipe se sente verdadeiramente realizada", destaca.

Coraçõezinhos de Baependi

A médica lembra que mesmo com toda a pesquisa voltada ao tratamento de doenças do coração, ela sentia falta de interagir diretamente com a comunidade. "Organizamos uma equipe de medicina da Universidade para pensar sobre como chamaríamos à atenção das crianças. Acreditávamos que elas eram as grandes transformadoras da rotina na casa. Por fim, com o objetivo de cooperação técnica me mudei para Curitiba para trabalhar junto à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nesta oportunidade aproveitei o gancho cultural da cidade e comecei a participar de oficinas literárias. Assim iniciei a escrita, dom o qual eu desconhecia. Comecei a escrever peças de teatro para o público infantil, utilizando conceitos da fisiologia, com o objetivo de levar ideias de prevenção de doenças para as crianças", relata.

Há um mês apenas surgiu a primeira peça com o título: O Coração Partido e o Estômago Apaixonado por Doces, que foi apresentada a crianças de seis a dez anos. A ação começa com um bate-papo entre as integrantes do grupo e os alunos sobre as novas palavras que integrarão o vocabulário – digestão, coronária (artérias do coração), entre outras. Depois a peça é apresentada e na sequencia são trabalhadas as músicas e cantigas populares. "Eu faço as paródias com os assuntos que foram falados nas peças e utilizamos instrumentos musicais para que a interação seja mais legal. Por fim, distribuímos material didático que elaboro para cada peça", explica a endocrinologista.

musica

A estudante de Medicina Luisa Morato Peixoto, integrante do grupo, recorda que quando surgiu a ideia e em seguida o convite para participar, ela não teve dúvidas em se unir a proposta. "A proposta dos Coraçõezinhos, de ensinar assuntos da área da saúde para crianças, é especialmente interessante porque além de promover mudanças na base da sociedade, incentiva os alunos a perpetuarem informações sobre hábitos saudáveis dentro de casa", destaca.

A criançada aprende mesmo...

E não é que elas aprendem mesmo! Em depoimento gravado pelas integrantes do projeto, a mãe de Yasmim, de 8 anos, Jaciara de Siqueira, conta que sua filha ficou encantada com a palestra ministrada no Colégio Santo Inácio, em Baependi. "Três dias depois da peça fizemos um passeio e dentro do carro ela começou a contar que existiam três tipos de colesterol, que era o bom, o ruim e o muito ruim. Como seu pai estava um pouco acima do peso, ela recomendou que ele tomasse cuidado porque o colesterol dele deveria estar muito ruim. Chegou até pronunciar as siglas HDL. Achei um máximo!", contou, com humor, Jaciara.

Luisa enfatiza para a sua profissão é muito importante aprender a esclarecer informações complexas aos pacientes de forma clara e simples. Muitas vezes não é dito de maneira clara o que está se passando com organismo daquela pessoa, como é a doença que o está acometendo, como são os procedimentos e tratamentos e isso gera angústia para aquele que já está fragilizado, gerando desentendimentos desnecessários. "Adequar-se à linguagem do paciente é uma habilidade que o projeto nos possibilita trabalhar, já que temos que explicar processos complexos, como a aterosclerose, para crianças. Além disso, o projeto atua na prevenção de doenças e na promoção da saúde, que é o foco da Medicina e isso nos leva a ter um contato maior com essa realidade, fora do modelo hospitalar e da doença", conclui.

Outra peça

As escolas vão receber neste mês os Coraçõezinhos de Baependi com a nova peça com o tema Os três ratinhos e a vitamina D. O objetivo do trabalho é que as crianças aprendam de forma interativa sobre higiene, como se alimentar de forma adequada, incentivar à atividade física, estimular as atividades culturais como teatro e música, noções de economia de energia elétrica, respeito ao idoso, reconhecimento de animais peçonhentos, dentre vários outros assuntos. O projeto é coordenado pela equipe de sete alunas de Medicina e quatro estudantes do Colégio Santo Inácio de Baependi, com o apoio dos professores Carlos Alberto Mourão Junior e Rafael de Oliveira Alvim.

Fotos: Divulgação

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