Halfeld: rua con-ver-gente

Foto:http://www.pjf.mg.gov.br A rua Halfeld, hoje Cal?ad?o, ? centro do mosaico mandalar que comp?e a cidade de Juiz de Fora. Carregada do tra?o forte da cultura, passa ser n?o s? cen?rio, mas a grande personagem de muitas narrativas ou presen?a encorpada em muitos poemas. Rua, do latim ruga, ? o sulco, o espa?o de passagem, por onde se anda e passeia entre as casas e as pessoas. Na verdade, a rua avan?a para al?m desse primeiro sentido, pois, sendo marca pontual da p?lis, ? local de encontros e desencontros, de pol?ticos, m?sicos, estudantes, vendedores, turistas, aposentados, viajantes... Como diz Jo?o do Rio, "a rua tem alma".

Assim ? que a Halfeld mereceu a aten??o de mais de 30 das not?veis letras juizforanas: desde Ant?nio Bernardes Fraga (1875-1940), Edmundo Lys (1899-1982), Paulino de Oliveira (1899-1992), Murilo Mendes (1901-1975), Bi? (1910-1985) at? Christina Musse (1957) e Edimilson de Almeida Pereira (1963). Algumas homenagens, ladrilhando com palavras, iluminando a rua, est?o aqui reproduzidas.

Sim, porque quantos e quantos marmanjos tenho eu visto pela manh? arrastando mis?rias, pingando mulambos, completamente aleijados, rostos cadav?ricos, implorando ? caridade; e de tarde, bem aprumados, passeando pela nossa Ouvidor, que ? a nossa rua Halfeld!! (...) Tem a nossa Princesa, portanto, tudo quanto t?m as grandes cidades. Viva o progresso.

Ant?nio Bernardes Fraga


Para Edmundo Lys:

A rua Halfeld, ? noite, ? um caso s?rio!
Criaturinhas cheias de mist?rio,
Dessas que se amam sem saber porqu?,
Surgem deixando um rastro de perfume,
E provocando, ?s vezes, um queixume,
Pois passam pela gente... e n?o nos v?...


Paulino de Oliveira, o cronista de uma ?poca, conta-nos os costumes de ent?o:

O tamanco era o cal?ado oficial do operariado da cidade, fossem homens ou mulheres, e o vestido de chita a indument?ria dessas, que s? aos domingos a despiam, vestindo roupa de seda para o "footing" na rua Halfeld. Ent?o, enchapeladas, como as mo?as ricas do Alto dos Passos e as balconistas e costureiras que vinham de S?o Mateus ou do Botan?gua, com elas se confundiam e ?s vezes as ofuscavam.


E Murilo Mendes vem tamb?m referend?-lo:

Escrevo sobre a rua Halfeld sem situ?-la no espa?o, ocupando-me somente com as pessoas que a percorrem. Nada a fazer: assim sou eu, ponho sempre em primeiro lugar as pessoas. Direi entretanto que a rua Halfeld ? uma reta muito comprida, come?ando ?s margens do Paraibuna e terminando na Academia de Com?rcio. Nos dois lados levantam-se casas, sobressaindo, pelo menos no meu tempo de menino, a Livraria Editora Dias Cardoso, uma das minhas del?cias de ent?o; e a Casa da Am?rica, sortida com uma infinidade de objetos e instrumentos de toda a esp?cie; del?cia e terror, pois entre eles torqueses, serrotes, martelos, tenazes, tesouras, alicates.


Foto Divulga??o Gabriel Gon?alves da Silva (Bi?), personificando-a de maneira exemplar, sintetiza a import?ncia da rua convergente para a vida social e interior dos habitantes de Juiz de Fora:








A rua que despertou paix?es. A rua dos sonhos que se realizaram. A rua que despertava emo?es na menina-mo?a, que por ela desfilava. A rua das desilus?es, dos rapazes que n?o tiveram seus flertes correspondidos. Rua da paquera. Rua de encontros e desencontros.

(...)
Rua Halfeld, quantos mist?rios voc? guardou avaramente para si?!... Voc?, Rua Halfeld, nunca deu muita confian?a ao protocolo e ? tradi??o, modernizando-se continuamente, o que sempre provocou surpresas aos cr?ticos mais conservadores. Voc?, Rua Halfeld, nunca fugiu ao contato com o povo, que at? hoje desfila por seu asfalto. Com os profundos conhecimentos que tenho de sua vida e uma perfeita vis?o dos seus mais angustiantes momentos, voc?, Rua Halfeld, vive em mim como um p?ndulo, a tocar na minha emotividade, balan?ando, balan?ando entre a saudade e a realidade. Voc?, Rua Halfeld, sempre foi a gazua, que abria todas as portas da comunica??o. Os homens e mulheres precisam comunicar-se. Voc? era o elo que os unia. Nos seus passeios, no bate-papo entre amigos, os homens se comunicavam e cresciam em solidariedade, procurando, atrav?s da verdade, na gigantesca expectativa de lutarem pela constru??o de um mundo melhor.


Christina Musse, como a que veio de fora, logo, sentiu a atra??o arquetipal dessa rua que encerra em cada pedacinho de seu mosaico hist?rias de vidas, de esperan?a, de desespero, de saudade e de alegria:

N?o sou daqui, sou "estrangeira", mas amo a cidade e o seu povo. Lembro-me das refer?ncias familiares aos passeios de bonde, ao "footing" na rua Halfeld, ?s matin?s do Cine-Theatro Central, aos bailes de Carnaval do Clube Juiz de Fora.


E o signo descendente, t?o manifesto nesta rua emblema, ? apreendido pelo estro de nosso grande Edimilson de Almeida Pereira:

A fome reunida
desceu a Halfeld quebrando
a pedras
os atacadistas.



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