Novo secretário recebe reclamações de internautas Márcio Gomes Bastos, secretário de Transporte e Trânsito, garante que o momento é ideal para mudanças no sistema de transporte coletivo em JF
Repórter
30/12/2008
Após dezenas de manifestações de internautas insatisfeitos com os serviços de ônibus urbanos em Juiz de Fora, o Portal ACESSA.com ouviu o que o novo secretário da recém-criada pasta de Transporte e Trânsito, Márcio Gomes Bastos (foto e vídeo ao lado), pretende realizar à frente da secretaria.
O secretário recebeu duas cópias de todos os comentários que chegaram à redação do portal; uma delas será entregue ao prefeito eleito, Custódio Mattos. Entre as mensagens, os usuários demonstraram a insatisfação com o serviço de ônibus coletivo em Juiz de Fora.
Na primeira semana de dezembro, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo de Juiz de Fora (Sinttro-JF), divulgou uma pesquisa que aponta algum tipo de problema em 108 das 180 linhas de ônibus pesquisadas. O relatório apontou que todas as empresas de ônibus que atuam na cidade apresentam atraso nos horários dos coletivos.
Os ônibus da Viação Santa Luzia, que atendem a mais de cem bairros, foram os campeões nos atrasos. Para os motoristas dos coletivos, a solução passa pelo aumento do intervalo entre cada horário. O sindicato também aponta como alternativa a ampliação dos pontos de ônibus da avenida Rio Branco.
Para o novo secretário de transporte e trânsito, a solução passa por uma mudança estrutural profunda no sistema de transporte coletivo em Juiz de Fora. O receio é que o prazo dado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) para a efetivação da licitação não seja suficiente para realizar os estudos preliminares. Leia a entrevista completa:
ACESSA.com - Há três dias da posse você teve a última reunião com o prefeito eleito, Custódio Mattos. Como pode ser resumida a política de transporte e trânsito neste primeiro ano de governo?
Márcio Gomes - Queremos fazer uma gestão marcada pela transparência e pelo diálogo. Nossas decisões serão calcadas em fundamentações técnicas, sem perder de vista que o grande consumidor das nossas decisões é a população. Se conseguirmos consenso, ótimo. Se conseguirmos, pelo menos, a maioria nas decisões, já seria bom.
Também é importante lembrar que estamos transformando a Gettran, que hoje é uma agência de transporte com algumas deformações do ponto de vista do que seja uma agência, em uma secretaria. A mudança não é um simples ato administrativo. Ela tem a fundamentação crucial de trazer as questões de transporte e trânsito para o nível de decisão que elas merecem. É uma forma de resgatar a importância do tema.
ACESSA.com - Algum detalhe da licitação para as novas empresas de ônibus já foi definido?
Márcio Gomes - Nosso pensamento é aproveitar a oportunidade da licitação para realizar um processo de concessão moderno, com o que de mais novo existe para gerir o sistema de transporte na cidade. Além da licitação, é fundamental que a gente consiga dar uma nova estrutura e repensar o sistema de transporte, buscando agregar as melhores condições de mobilidade para a população. Obviamente que isso será feito após um processo de discussão com vários setores da sociedade.
Neste momento o que nos deixa apreensivos é o prazo para a conclusão da licitação, que está muito exíguo. Nós precisamos trabalhar o projeto básico em cima de informações técnicas e não apenas licitar o sistema. Sem isso não conseguimos corrigir os problemas. Este é um momento oportuno para nós trabalharmos o sistema baseado em uma questão técnica bem encaminhada.
ACESSA.com - Então você pretende pedir um tempo maior para concluir a licitação?
Márcio Gomes - O que vamos fazer é procurar o Ministério Público e quem determinou este prazo para mostrar um plano básico de trabalho e ver essa questão da exigüidade do tempo. Nenhum trabalho técnico ainda foi feito e as definições mais detalhadas começam a ser discutidas com a equipe a partir do dia 1º de janeiro. Os critérios de seleção e avaliação serão definidos de acordo com a realizade de Juiz de Fora, conjugando com a experiência de outras cidades, como o modelo adotado por Belo Horizonte, que nós achamos bem interessante.
ACESSA.com - Como é o modelo de Belo Horizonte?
Márcio Gomes - Isso não quer dizer que nós vamos adotar o mesmo modelo de lá, mas em Belo Horizonte a cidade foi dividida em cinco áreas na chamada Rede de Transportes e Serviços. É mais ou menos como acontece em Juiz de Fora, onde as empresas operam dentro de cada área determinada. Mas quando esse sistema foi criado aqui, o conceito de flexibilidade ainda não estava bem consolidado. Em Belo Horizonte as empresas têm a liberdade de fazer o planejamento dentro da área que elas operam, além de contarem com a bilhetagem eletrônica.
ACESSA.com - A bilhetagem eletrônica em Juiz de Fora já virou uma novela. A idéia será levada adiante?
Márcio Gomes - Com certeza. Hoje ela é um instrumento disseminado e com tecnologia bem dominada. A bilhetagem traz vantagens para os usuários, para o operador e para o orgão gestor. Tudo fica facilitado. Mas, realmente, o processo de implantação é demorado.
ACESSA.com - No sistema radial, adotado por Juiz de Fora hoje, todos os ônibus urbanos passam pelas principais avenidas da cidade - Independência, Rio Branco e Getúlio Vargas. Um sistema diametral, com ônibus ligando os bairros diretamente, seria o ideal para desafogar o trânsito de ônibus no centro?
Márcio Gomes - Acho que devemos aproveitar o processo de implantação da bilhetagem eletrônica para trabalharmos a integração entre linhas. Criar linhas estruturais, que fazem as principais ligações, e um sistema de alimentação, no qual o bilhete permita ao usuário a transferência de uma linha para outra em um tempo determinado.
ACESSA.com - Entre as principais reclamações dos usuários do transporte coletivo de Juiz de Fora está o atraso dos ônibus, situação comprovada pela pesquisa do Sinttro. O que pode ser feito para resolver o problema dos atrasos dos ônibus em curto prazo, antes da nova licitação?
Márcio Gomes - Nós vamos ter que adequar as questões legais e ajustar a demanda e a oferta, mas não podemos perder o norte de que toda mudança traz impacto no custo. O que vamos fazer é tratar cada caso separadamente e procurar ver a melhor forma de resolver o problema. Em algumas situações, pode ser que o espaçamento entre as linhas atenda à demanda da população, mas em outros casos pode não ser esta a solução.
ACESSA.com - A ampliação dos pontos de ônibus da avenida Rio Branco seria uma solução?
Márcio Gomes - Quando a Rio Branco foi construída, há quase 28 anos, a nossa frota na época era, mais ou menos, a metade da atual. Hoje, não só a frota aumentou, mas a diversidade de linhas chegando ao mesmo tempo no centro da cidade também é muito grande. Não basta apenas ampliar os pontos, porque a própria capacidade da avenida de receber os ônibus está se esgotando. Mas se nós não tivessemos a faixa exclusiva de ônibus na Rio Branco, estariamos em um verdadeiro caos. A situação é de esgotamento da capacidade e a ampliação dos pontos pode ser pensada para melhorar o conforto dos usuário. Mas a racionalização do sistema ainda é o passo mais consistente para que a avenida tenha uma vida útila maior.
ACESSA.com - Como fica a questão dos valores das passagens de ônibus?
Márcio Gomes - Nós entendemos que a pendência judicial da tarifa precisa evoluir para uma conclusão. A Secretaria de Transporte e Trânsito vai estar aberta a todas as discussões e todos os elementos que nós dispusermos de informações serão colocados à disposição para que se chegue ao preço definitivo da passagem.
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