Reunião debate segurança no bairro Industrial Polícia Militar vai propor rede de autoproteção para que os próprios moradores sejam vigilantes da segurança dos vizinhos

Guilherme Arêas
Repórter
30/04/2009

Na véspera da data que comemora o Dia do Trabalho, 1º de maio, uma reunião entre autoridades de segurança e sociedade civil tenta solucionar um problema que está tirando o sono de centenas de pessoas que moram no bairro Industrial, na Zona Norte de Juiz de Fora. Há dois meses a onda de violência atormenta os moradores.

O estopim da crise de segurança pública no bairro estourou na última quinta-feira, dia 23 de abril, quando o comerciante José Márcio Moreira Pengo, de 49 anos, foi morto durante um assalto dentro de sua padaria. A polícia ainda investiga o caso. Testemunhas contaram que dois indivíduos, um deles com uma arma de cano longo, invadiram o estabelecimento por volta das 19h.

A demora no atendimento ao comerciante, denunciada pelos moradores, levantou a discussão sobre a cobertura que os órgãos de segurança pública realizam na área. Para muitos moradores, a simples ida a um estabelecimento comercial se tornou uma tarefa que exige cautela. "Nós perdemos totalmente a liberdade. Antes, as crianças podiam brincar na rua, livremente. Agora elas têm que ficar presas dentro de casa", reclama uma moradora.

Porém, nem mesmo dentro de casa os moradores têm conseguido alcançar a sensação de segurança. A autônoma Daiane Visona Recepute sofreu uma tentativa de assalto em sua residência em plena luz do dia, há pouco mais de três meses. "Estávamos eu, minha mãe e minha avó em casa, quando um rapaz tocou a campainha e perguntou se uma certa pessoa morava aqui. Disse que não e fechei a porta. Foi quando ele pulou o portão da minha casa", relata. A tentativa só não se concretizou como assalto porque um vizinho apareceu, intimidando o ladrão.

Rede de autoproteção

É esta atitude que a Polícia Militar quer implantar no bairro, durante a reunião que acontece nesta quinta-feira, no Grupo Escolar José Freire, às 19h30. Uma campanha de autoproteção entre os vizinhos é a arma que as autoridades policiais encontraram para combater a violência nos bairros. Para o tenente Carlos Alberto Barbosa, do 27º BPM, o programa ajuda a suprir a falha na cobertura da rede de segurança pública em Juiz de Fora. "A Zona Norte tem 79 bairros e 12 distritos. Trabalhamos o tempo todo na prevenção e no atendimento às ocorrências, mas a demanda é muito grande."

A proposta do programa é que cada morador seja um agente de segurança da sua própria residência e esteja sempre vigilante em relação a movimentações estranhas nas casas dos vizinhos. O projeto já está em funcionamento no bairro São Judas Tadeu e, segundo a PM, é considerado um exemplo a ser seguido por outras regiões.

Nos cinco primeiros meses do projeto, iniciado em novembro de 2008, foram registrados quatro furtos no bairro, cinco casos a menos do que os apontados nos cinco meses anteriores.

As parcerias entre autoridades de segurança pública e moradores parece ser a tendência para o combate à violência no Estado. Em Juiz de Fora, também no São Judas Tadeus, um projeto social da PM leva a arte do hip hop à região. "Antes nós tínhamos diversos casos de briga entre gangues dos bairros São Judas e Santa Cruz. Hoje, os jovens desse bairro participam juntos dessas atividades", explica o tenente Carlos Magno Villaça, do 27º BPM.

Para a polícia, além da participação em programas de aproximação com as autoridades, a população deve ficar atenta às características dos roubos e assaltos nos bairros. "Esse tipo de delito ocorre mais durante a madrugada, no silêncio da noite. Os infratores muitas vezes aproveitam as chuvas, quando as pessoas se trancam em casa e ouvem menos ruídos na rua, para agir com mais facilidade", explica Carlos Alberto.

De acordo com a PM, os policiais trabalham de forma planejada, seguindo os índices estatísticos que são apresentados. Na região Norte, o bairro que apresenta as maiores ocorrências é Benfica, recebendo, assim, maior atenção no policiamento.
Moradores querem tranquilidade de volta

Dados apresentados pelos militares contrastam com a sensação de insegurança da população do bairro Industrial. De acordo com a Polícia Militar, apenas 4,4% das ocorrências de arrombamentos a residências na Zona Norte são registradas no bairro Industrial. Ainda em relação à Zona Norte, o bairro registra 1,6% dos casos de crime contra a pessoa, mesmo número de ocorrências dos crimes violentos (roubo e roubo à mão armada).

Para os moradores, até pouco tempo, os dados realmente refletiam a tranquilidade do local. Mas a queixa em relação à insegurança vem aumentando radicalmente nos últimos meses. "Você passa na rua durante a noite e não encontra mais ninguém. Há algum tempo, as ruas ficavam cheias de crianças brincando", relata Daiane Visona Recepute.

Segundo a autônoma, atualmente, cerca de cinco assaltos são registrados toda semana. Outra moradora, que prefere não se identificar, confirma que os assaltos são quase diários. Já a polícia acredita que o assalto à padaria e que culminou na morte do comerciante José Márcio foi um "fato isolado".

Morador do bairro há mais de 45 anos, o funcionário público João Ricardo Guedes acrescenta que ações da Prefeitura também poderiam diminuir a insegurança no local. Ele alega que é impossível trafegar durante a noite pela passarela que liga a rua Euchério Rodrigues, no Industrial, à rua Berta Halfeld, no bairro Francisco Bernardino. "A passarela é de extrema importância para nós, pois dependemos do comércio do Francisco Bernardino", explica.

Para o funcionário público, a situação "passou do limite" e a tranquilidade só será resgatada com a implantação de um posto policial e rondas mais frequentes por parte da Polícia Militar. "Nunca vi o bairro Industrial tão abandonado pelo poder público como está agora. Hoje, vivemos em um verdadeiro toque de recolher", lamenta.

Como manter a segurança em minha casa?
  1. Ao atender estranhos, mantenha os portões fechados e tais pessoas inicialmente do lado de fora;
  1. Na entrada ou saída de pessoas, abra o portão somente após verificar se não há suspeitos por perto;
  1. O portão deve ser aberto depois de serem identificados o visitante e seus acompanhantes;
  1. Procure estacionar ou parar o carro na garagem, de ré, para facilitar a sua saída com boa visibilidade e agilidade;
  1. Crie com os vizinhos o hábito de verificar se está tudo bem, através de contatos telefônicos ou outro procedimento similar;
  1. Comunique sua ausência a vizinhos de confiança. Telefone para eles, periodicamente, para saber se está tudo bem;
  1. Não deixe joias ou dinheiro dentro de casa, mesmo que seja em cofre. Utilize o cofre de bancos;
  1. Não deixe luzes acesas durante o dia; elas denunciam ausência de morador;
  1. Só deixe a chave da residência com pessoas de confiança;
  1. Evite colocar cadeados do lado externo do portão, o que poderá denunciar a saída dos moradores;
  1. Feche as portas e janelas com trincos e trancas;
  1. Reforce a porta da frente;
  1. No caso de pessoas ou carros suspeitos nas imediações de sua residência ou vizinhança, acione imediatamente a PM através do telefone 190.

Informações: Polícia Militar

Os textos são revisados por Madalena Fernandes


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