Relevo acidentado e devastação explicam desastres com chuvas na Zona da MataRelevo com alta declividade coopera para a existência de solos rasos na região. Falta de mata ciliar aumenta risco de cheias nos rios
Subeditor
9/1/2012
O relevo acidentado e a vegetação devastada na Zona da Mata são apontados como alguns dos fatores que explicariam os desastres com as chuvas que assolam a região desde outubro de 2011. De acordo com o geólogo especialista em áreas de risco, Geraldo César Rocha, são seis fatores que cooperam para transtornos em épocas de chuva: o relevo, as rochas, os solos, a ocupação humana, a vegetação e o clima.
"Três desses fatores são importantíssimos devido à sua fragilidade natural na Zona da Mata: o relevo, as rochas e os solos. O relevo, devido à alta declividade, o que torna mais fácil ocorrer movimentos de massa, como escorregamentos e quedas." Segundo Rocha, a declividade também é razão para a existência de solos mais rasos na região. "Solos mais rasos são encontrados, comumente, mais perto das rochas. A água tem mais dificuldade em acumular nos solos mais rasos, fazendo ele pesar e escorregar. A situação piora se não houver a presença da vegetação."
De acordo com o geólogo, a remoção de vegetação é histórica na Zona da Mata, assim como em todo o Brasil, sem que fosse reposta. "A retirada da vegetação torna os solos mais frágeis, pois eles têm reduzida a capacidade de absorção." Além disso, Rocha explica que a presença da mata ciliar é capaz de evitar a cheia de rios. "A mata ciliar absorve a água da chuva, evitando que parte dela escorra direto para o leito das águas, reduzindo o risco de aumento no nível do rio." O cuidado com a mata ciliar deveria ser intenso, inclusive, nos afluentes dos rios principais. "Há de se pensar em toda a bacia hidrográfica, que é densa na região da Zona da Mata."
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Cidades atingidas pelas chuvas têm menos de 10% da Mata Atlântica
Segundo dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 12.467 hectares da vegetação típica de Minas Gerais foram pedidos entre 2008 e 2010. Até 2010, restaram apenas 10,04% da mata original no Estado. Entre as cidades que decretaram situação de emergência na Zona da Mata, o índice de Mata Atlântica viva, em relação à floresta original, é de 9,7%. Em Visconde do Rio Branco, por exemplo, sobraram apenas 2,7% da Mata Atlântica. Em Guidoval, a reserva existente da floresta, até 2010, era de 5,4% da original.
Em Muriaé, mais de 90% da Mata Atlântica havia sido perdida até 2010. Cataguases, até o mesmo ano, contava com apenas 8,9% de sua floresta original. A cidade de Rio Casca, uma das atingidas pelas cheias em janeiro deste ano, perdeu 24 hectares da floresta entre 2008 e 2010. Santa Rita de Jacutinga, assolada por enxurradas, teve decremento de 10 hectares em sua Mata Atlântica. No mesmo período, a cidade de Juiz de Fora perdeu 16 hectares de mata, tendo sobrado pouco mais de 11% da floresta original.
Culpa não é só da chuva
Para Rocha, culpar a chuva para os desastres é um erro. "A chuva não é novidade. Sempre choveu muito. Culpar a chuva é uma estratégia e uma artimanha política para justificar a incompetência da administração pública. Muitas coisas já poderiam ter sido feitas. Mas vivemos em um país onde as decisões são mais políticas e pouco técnicas. Além disso, nossa população não tem a tradição de reclamar. Há uma questão ambiental, mas há também uma questão cultural e um problema religioso, que costuma atribuir a Deus a razão dos desastres."
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