Milagres de Santa Edwiges levam endividados às igrejasMilhares de fiéis vão às celebrações que comemoram o dia da padroeira dos endividados. Economista dá dicas para sair do sufoco, sem precisar de um milagre

Clecius Campos
Repórter
16/10/2010
Foto da igreja do Bairu lotada

As celebrações que comemoram o dia da padroeira dos endividados, Santa Edwiges, deve atrair cerca de 10 mil fiéis à Paróquia Sagrado Coração de Jesus, conhecida como Igreja do Bairu, neste sábado, 16 de outubro. As celebrações ocorrem até 21h, em diversos horários. Em todo o país, protegidos lotam as igrejas, em busca de ajuda contra os problemas financeiros.

O vigário paroquial Geraldo Dondici conta a história de Edwiges e o motivo de ela ser conhecida como a santa dos endividados. "Santa Edwiges foi uma rainha na Polônia, há 800 anos. Era uma mulher muito rica, mas como tinha os filhos corruptos, resolveu distribuir sua herança aos pobres. Ela teve a ideia de pagar as dívidas dos necessitados, para que eles fossem capazes de recomeçar. Na prática, ela estava criando aquilo que hoje chamamos de banco, mas não recebia os empréstimos de volta, nem cobrava juros."

Segundo Dondici, este pode ser o primeiro caso em que a assistência social tornou-se o marco de um cânone. "São Francisco de Assis também trabalhou a assistência social, mas foi um pouco depois de Edwiges. A partir daí o amparo social tornou-se mais popular." O dia 16 de outubro lembra a morte da rainha, ocorrida no ano de 1243.

Relatos de milagres atribuídos à santa são muito comuns. De acordo com Dondici, a maioria dos testemunhos é de milagres de reorganização financeira. "Ela não faz milagres fantásticos. Ninguém ganha na loteria e nunca cai dinheiro do céu. A oração ajuda o fiel a se concentrar e pensar a melhor forma de reorganizar o orçamento. É muito comum a santa utilizar um amigo, um parente, um irmão da igreja, que se sensibiliza e ajuda o endividado. O milagre é a partilha", explica, lembrando as ações sociais da igreja, que distribui alimentos em diversos pontos do bairro e vizinhança. Os fiéis agraciados levam deixam mantimentos aos pés da imagem. Segundo Dondici, são esperados cinco toneladas de alimentos não perecíveis só neste dia.

A aposentada Terezinha Maria dos Reis Nascimento conseguiu um emprego após uma oração dedicada à Santa Edwiges. "Fiquei desempregada e não conseguia nada. Em um dia 16 de novembro vim à igreja e fiz minha reza dizendo que queria voltar aqui, com uma oferta especial no dia 16 de dezembro. Quando foi dia 28 de novembro, fui chamada para um emprego e no dia 1º de dezembro estava com minha carteira assinada. Recebi décimo terceiro, uma cesta básica, o pagamento dos dias e consegui trazer minha oferta. Desde então, venho todos os meses fazer minhas orações e agradecimentos."

Foto de Santa Edwiges Foto de pessoas a mantimentos

A também aposentada Brasilina da Cruz Silva já perdeu as contas das graças alcançadas. "Ela me ajuda muito com as despesas da casa, sempre dá um caminho. Mas a maior graça foi quando estive muito doente, mal mesmo. A Santa Edwiges não opera milagres só para os endividados. Ela ajuda todo mundo." Brasilina segue com as orações intercedendo pelos filhos e por mais saúde. "Peço também condições de arrumar a minha casa. Com fé em Santa Edwiges, creio que vou conseguir."

Sem milagres, resta conter os gastos

Os endividados menos fervorosos terão que fazer um pouco mais de esforço para sair do sufoco. Quem não quiser depender de um milagre precisa conter o fluxo de gastos além da capacidade financeira, se quiser sair da corda bamba. O economista Lourival Batista de Oliveira Júnior dá as dicas. "Se alguém deve é porque há um gasto acima da renda, que teve que ser complementado com uma dívida. A principal orientação é reduzir os gastos de todas as formas possíveis. Se a pessoa gasta muito com telefone, evite fazer as ligações. Se a conta de energia está alta, tem que economizar. Cortar passeios e vícios também ajuda a equilibrar o orçamento. Tem que se definir o que é estritamente necessário, pelo menos no curto prazo, para poder reorganizar as finanças."

Além disso, a forma como as dívidas são pagas também deve ser observada. "Há de se procurar formas de reduzir o custo desse endividamento, observando que peso aquela dívida tem em cada mês. Às vezes, o consumidor comete equívocos em continuar gastando e pagando os juros dos cheques especiais ou financeiras. Então, não é recomendado que uma dívida seja consolidada, a não ser em casos de crédito consignado, que costumam ter juros menores, transformando a dívida mais barata."

A dica para não entrar no arroxo é estar prevenido. "O endividamento pode acontecer por algum infortúnio, como um problema de saúde, por exemplo, e a pessoa não tem dinheiro extra. Se alguém está em uma posição financeiramente tranquila é bom formar um fundo de reserva e fazer compras à vista, para evitar acúmulos." Mesmo em caso de compras grandes, como de eletrodomésticos da linha branca, dividir a conta em prestações só é recomendado quando o valor é igual ao pago à vista. "Há juros que podem quase dobrar o valor de um produto. Nessas situações é melhor guardar o dinheiro, esperar um pouco mais e pagar à vista. Se for comprar a prazo, tenha sempre um dinheiro extra que possibilite adiantar o pagamento das prestações, assim elas podem diminuir."

Dinheiro extra, como o décimo terceiro devem também ser alvo de planejamento. "O cidadão tem que pensar se há alguma dívida pendente, se há algum projeto para ser realizado. Depois sim, o salário pode ser gasto para dar presentes e passear."

Os textos são revisados por Thaísa Hosken


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