Quarta-feira, 1 de setembro de 2010, atualizada às 17h19

Juizforano tem dificuldade em se considerar parte da população

Clecius Campos
Repórter

Individualmente, o juizforano tem dificuldade em se considerar como parte da população que forma a cidade. A sexta etapa do projeto Fala Juiz de Fora revelou que, apesar de individualmente se considerar altamente urbanizado, o juizforano pensa que os demais habitantes da cidade têm uma urbanidade média. A pesquisa foi feita com 606 entrevistados de 50 bairros da cidade. A metodologia mesclou pessoas de ambos os sexos e de escolaridade e faixas etárias distintas.

A pesquisa revelou que 77,1% dos entrevistados se consideram com alto índice de urbanidade, mas quando o alvo da questão é a sociedade juizforana, 70,1% das mesmas pessoas questionadas entendem que o juizforano tem uma média urbanidade. A diferença de visões foi o que mais chamou a atenção do grupo de professores que realizou a pesquisa. O diretor do Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Carlos Alberto Hargreaves Botti, afirma que foi identificada uma falta de pertencimento do indivíduo à comunidade.

"Percebemos a ideia de que o que é público não é meu. As pessoas não se colocam como cidadãos na questão da urbanidade. Estamos diante de uma sociedade individualista." O questionário sobre a urbanidade — que envolve qualidades pessoais e do espaço de convívio — foi composto por 30 questões, sendo 15 sobre o comportamento individual e 15 sobre a percepção que o entrevistado tem sobre o comportamento do juizforano (veja algumas nas tabelas abaixo).

Entre as questões, um levantamento sobre a cordialidade. Enquanto a maioria dos juizforanos (84,7%) disse cumprimentar sempre as pessoas que lhes prestam serviço, apenas 53,5% dos entrevistados afirmaram que a população dá bom dia, boa tarde ou boa noite a carteiros, lixeiros e varredores de rua, por exemplo. "Se quase todos dizem que são cordiais, que população é essa que só cumprimenta às vezes?"

Outro aspecto abordado, que também apresenta distorções, foi a educação no trânsito. Enquanto 78,2% afirmaram respeitar as leis de trânsito, 18% consideram que os motoristas respeitam os pedestres e 7,8% afirmaram que os pedestres cumprem normas como atravessar somente nas faixas e com o sinal aberto para eles.

Jovens são mais pessimistas

A pesquisa considerou também que os jovens têm visões mais pessimistas em relação ao urbanismo na cidade. Os entrevistados com idade entre 16 e 25 anos afirmaram que apenas 6,85% dos juizforanos tratam as coisas públicas como se fossem suas. O índice aumentou para 26,23 quando a mesma pergunta foi feita aos idosos (pessoas com mais de 65 anos). Sobre a gentileza, 65,52% dos jovens acreditam que a população juizforana é gentil, de maneira geral. Os idosos são mais benevolentes ao dizerem que 90,16% dos moradores da cidade são gentis, de forma geral.

Os dados mostram também que os jovens participam menos de associações de bairro, sindicatos e partidos. Enquanto 19,9%  das pessoas entre 16 e 25 anos sempre participam de movimentos do tipo, 31,1% dos maiores de 65 anos sempre fazem parte de grupos como estes. Para a supervisora do projeto, Janaina Sara Lawall, os números mostram desinteresse dos jovens, mas também revelam que a sociedade oferece poucos mecanismos para que essa população se associe. "Não é um problema para a juventude. É uma questão para o poder público, que deve fornecer subsídios para que esses jovens participem mais na sociedade."

Urbanidade - Visão de si mesmo x Visão do juizforano
EntrevistadoFrequência com que acontece
  Sempre Às vezes Nunca
O Sr. (a) sempre cumprimenta as pessoas que lhe prestam serviços (carteiro, lixeiro, trocador, etc.)? 84,7 12,5 2,6
O Sr. (a) trata os bens públicos como se fossem seus? 85,5 11,4 2,8
O Sr. (a) joga lixo (toco de cigarro, papel de bala) na rua? 5,8 19,3 74,8
O Sr. (a) fura filas? 6,3 17,8 75,9
O Sr. (a) respeita as leis de trânsito
(sinal, só atravessa na faixa, etc.)?
78,2 17,8 3,6
O Sr. (a) ajuda os outros mesmo quando não sabe
para quem é a ajuda?
51,8 36,8 10,9

JuizforanoFrequência com que acontece
  Sempre Às vezes Nunca
Os moradores de Juiz de Fora sempre que podem dão Bom dia, Boa tarde ou Boa noite às pessoas que lhes prestam serviços (carteiro, lixeiro, varredor de rua, etc.). 32,3 53,5 13,9
Os juizforanos tratam as coisas públicas (lixeiras, telefones, bancos de praça, etc.) como se fossem seus. 12,4 44,1 43,1
As pessoas de nossa cidade NÃO jogam lixo na rua. 23,9 35,0 40,9
As pessoas de Juiz de Fora respeitam as filas (supermercado, banco, etc.). 26,2 50,7 23,1
Os motoristas de Juiz de Fora respeitam as leis de trânsito. 20,8 57,8 21,1
Os motoristas respeitam os pedestres em Juiz de Fora. 18,0 57,3 24,3
Os pedestres respeitam as normas de trânsito (atravessam somente nas faixas ou com o sinal aberto para eles). 7,8 55,6 36,3
O juizforano é um povo que ajuda os outros, mesmo quando não sabe para quem é a ajuda. 32,2 51,3 15,7

Fonte: CPS/UFJF

Eleições 2010

O projeto Fala Juiz de Fora continua colhendo informações sobre a cidade. A próxima pesquisa a ser divulgada tratará do tema eleições. Os pesquisadores já estão em campo, querendo saber o que faz o cidadão definir seu voto. O resultado será divulgado antes do primeiro turno das Eleições 2010.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken


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