Dificuldade no combate à dependência química é tema de audiência na Câmara
Comissão Parlamentar Antidrogas propôs a criação de uma força-tarefa denominada "Juiz de Fora contra o crack"
Repórter
22/3/2012
Mostrar as dificuldades enfrentadas pelas comunidades terapêuticas no tratamento dos dependentes químicos. Revelar quais são os locais onde a população pode encontrar apoio para enfrentar o problema. Unir esforços para o combate à dependência química. Esses foram alguns dos objetivos de audiência pública realizada na tarde desta quinta-feira, 22 de março, na Câmara, proposta pela Comissão Parlamentar Antidrogas. Ao final da reunião, foi apresentado um requerimento para a criação do programa "Juiz de Fora contra o crack".
Segundo o vereador Noraldino Júnior (PSC), integrante da Comissão Parlamentar Antidrogas, a proposta é criar "uma união de atores — polícias, igrejas, comunidades terapêuticas e lideranças comunitárias — em sintonia de esforços para a criação de uma força-tarefa pra mudar a realidade que é vista atualmente na cidade, dando ênfase à prevenção", revela. Segundo o vereador, Juiz de Fora conta atualmente com cerca de 10 comunidades terapêuticas, que tratam cerca de 200 pessoas. Ele avalia que é um número pequeno, uma vez que a quantidade de pessoas que iniciam a recuperação a cada dia ainda é inferior ao número de usuários que entram para o mundo das drogas diariamente.
Diversas autoridades ligadas à prevenção, combate ou tratamento da dependência química estiveram presentes à audiência, que contou com grande participação popular. O delegado-chefe da Polícia Federal em Juiz de Fora, Cláudio Dornelas, destacou a necessidade de leiloar os bens dos traficantes, para financiar o tratamento de usuários e o combate ao crime. "O bem do traficante é leiloado e 20% vai para o tratamento dos usuários. Isso descapitaliza o tráfico e capitaliza o tratamento."
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Ocorrências policiais X crack
O delegado regional de Polícia Civil, Marcus Vinícius de Paiva Silva, destacou que apenas o combate ao tráfico de drogas tem se mostrado insuficiente diante do problema. "Apesar de as ações policiais efetivas crescerem, o número de usuários também cresce", expôs, revelando que "em 80% das ocorrências policiais, autores ou vítimas são consumidores de drogas legais ou ilegais." Ele expôs também que o crescente envolvimento de crianças de até dez anos com o tráfico de drogas é um dado preocupante.
O envolvimento dos jovens com as drogas também foi destacado pelo subsecretário estadual de Políticas Antidrogas, Cloves Benevides. Segundo ele, a expectativa de vida no Brasil cresce em todas as faixas etárias, menos entre os jovens de 15 a 24 anos. Para Cloves, este dado está diretamente relacionado com as drogas. "O problema das drogas no Brasil tem aspectos de saúde e segurança públicas e é uma questão de toda a sociedade", disse, acrescentando que o governo do estado pretende criar três mil vagas para o tratamento de dependentes químicos até o final da atual administração. "Hoje, temos mil vagas. Com a criação do Cartão Aliança, teremos mais mil vagas. E, até o final do governo, outras mil", disse.
De acordo com o chefe do Departamento de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, José Eduardo Amorim, 80% da procura no setor está relacionada ao crack. Ele revelou que no Centro de Atenção Psicossocial Álcool Drogas (Caps-AD) ocorrem cerca de 450 atendimento mensais. Devido à parceria com três comunidades terapêuticas, atualmente o município conta com 32 leitos para o tratamento de dependentes químicos, sendo dez para mulheres e 22 para homens. A média de ocupação dos leitos oscila em torno dos 80%. Amorim destacou ainda que, por meio de parceria com a Vara da Infância e Juventude, cerca de 30 adolescentes recebem tratamento no Departamento de Saúde Mental.
O presidente da Federação Nacional das Comunidades Terapêuticas, Wellington Vieira, expôs que, para resolver o problema, é preciso que as pessoas envolvidas com o tema se dispam de vaidades pessoais. "É preciso tomar um posicionamento para a constituição de uma política municipal antidrogas. Vamos dar as mãos. Juiz de Fora tem ferramentas para isso", disse.
Os textos são revisados por Mariana Benicá
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