As intervenções na BR-440, que corta os bairros da Cidade Alta, estão paralisadas desde março de 2020. A obra anunciada em 2007, teve início em 2011 e está, há 11 anos, sem uma solução definitiva. A previsão, no início, era de que a construção ligaria o Centro de Juiz de Fora à BR-040 e à BR-267, o que incluía acessos e ligações entre os bairros, a canalização do córrego São Pedro e a construção de redes de esgoto. O que ocorre, no momento, é que além de permanecer inacabada, a via representa riscos para a população e, ainda, concentra uma série de problemas. A ACESSA.com inicia a publicação de uma série de matérias a respeito dessa construção.
A promessa inicial era a de que a BR-440 traria maior fluidez ao trânsito entre os bairros da Cidade Alta e o Centro, levando com ela cargas que viriam para Juiz de Fora, desviando o tráfego das vias centrais, como as avenidas Brasil, Independência e Rio Branco, com previsão de investimento de R$120 milhões. Na época, o Governo divulgou que seriam construídos quatro viadutos e uma série de passarelas.
A ACESSA.com entrou em contato com o Ministério da Infraestrutura, por meio da Assessoria Especial de Comunicação, para obter informações sobre os planos para a via. Questionou o órgão sobre as pendências técnicas indicadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) que paralisaram as obras, se haveria nova previsão de novas intervenções no espaço e sobre quais seriam os próximos passos. O Ministério respondeu apenas que o viaduto de interseção da BR-040 com a BR-440 estará na nova concessão BR-040/495/MG/RJ. “A intenção é dar funcionalidade ao segmento que já é pavimentado por meio desta obra”.
A visão que se tem hoje da via expressa é outra, muito diferente da imagem inicial apresentada pelo Governo Federal à época do início das obras. Partindo do trevo que leva ao pórtico Norte da UFJF, o que existe são desvios confusos, barreiras que impedem a passagem, carros estacionados no meio da pista e pontos que foram bloqueados. Da rotatória em diante, o tráfego na BR-440 ocorre em mão invertida- conhecida como mão inglesa-. Há dois desvios que direcionam o tráfego para as faixas da Avenida Pedro Krambeck, do lado esquerdo, próximo ao número 399 e do lado direito, próximo ao número 510.
Tanto para quem mora e trabalha nos bairros do entorno, quanto para quem passa pela via, a falta de sinalização faz com que a utilização da via ocorra a partir do bom senso. “A gente sai de carro e não sabe nem para onde vai. A organização depende das próprias pessoas, que vão cedendo a vez de passar para as outras. Há muitos problemas, mas o que prejudica mais é a falta de sinalização. Os carros passam em alta velocidade, não tem quebra-molas, o que torna tudo um perigo, especialmente para as crianças”, conta a comerciante Sandra Regina, que tem um restaurante na via há 11 anos e mora no São Pedro há 25 anos.
Para ela, é preciso dar um rumo para o que já foi construído até então. “Tem que terminar. Não é bom para o comércio, não tem como as pessoas estacionarem, fica tudo no meio do caminho, não tem mais como o ônibus virar. Os caminhões também passam aqui em alta velocidade, que até balançam as janelas. A poeira é horrível”, detalha Sandra.
Os problemas práticos no cotidiano dos moradores não se resumem aos riscos representados pelo trânsito. “Depois que eles subiram o asfalto, tivemos muitas complicações, porque as casas são antigas, quando chove, o esgoto retorna para dentro de casa. Quem conseguiu, subiu o piso do banheiro. Eles fazem as obras, mas não dão estrutura”, acrescenta a comerciante.
Sandra ainda conta que os acidentes de trânsito são frequentes, um deles, vitimou uma idosa, que foi atropelada na frente do comércio dela. Nesse período de existência de parte da BR-440, foram registrados três óbitos e inúmeras colisões, quedas e outras ocorrências.
Outra situação que aflige os moradores são os usos inadequados dados ao trecho. “Como parte da via está interditada, as pessoas vão deixando coisas. Há partes de móveis, muita sujeira, muito lixo e poeira, que prejudica quem mora e quem trabalha aqui. Crianças não podem brincar, atravessar é complicado, porque os veículos passam em alta velocidade, como se estivessem em uma via expressa mesmo. Nos cinco anos que trabalho aqui já presenciei acidente de moto, atropelamento, quedas”, conta o comerciante Washington Clemente, que tem uma barbearia no local. “Estar inacabado é um problema gigantesco, ficamos sem uma visão de futuro, sem saber o que fazer.”
Impactos ampliados
Além dos problemas relacionados à mobilidade na BR-440, há outros vieses. Em 2010, a Associação dos Moradores Impactados pela Construção da BR-440 (Amic), entrou com uma ação judicial para cobrar a apresentação de estudos sobre os impactos ambientais e sociais, para além das questões relacionadas com o trânsito. A resposta veio apenas em 2016, conforme o presidente da Associação, Luiz Cláudio Santos.
“Todos os anseios da população da Cidade Alta foram traduzidos nesse processo. Ele foi suspenso em um acordo, que previa, entre outras coisas, prioritariamente estudos técnicos sobre o impacto ambiental que seria causado pelas obras e suas eventuais soluções. Esses estudos nunca ocorreram e nunca foram apresentados, ainda aguardamos que aconteça”, detalha Luiz Cláudio.
Também havia a proposta de que a via poderia ser municipalizada, porém, as articulações nesse sentido também não avançaram. “Por questões de contingenciamento de recursos, o Governo Federal parou de irrigar a obra com dinheiro e os problemas no bairro ficaram agravados.”
Entre as principais fontes de preocupação para a população sobre a via, estão as desapropriações de dezenas de imóveis, que podem ser realizadas, caso a interligação com a BR-040 seja permitida. No trânsito, conforme reitera Luiz Cláudio, não há sinalização vertical, nem horizontal. “É uma tragédia anunciada. Os bairros da Cidade Alta têm crescido muito. As pessoas continuam atravessando sem faixa de pedestre, a mão inglesa confunde as pessoas a toda hora. É um caos completo.”
Expectativas
Diante de todos os transtornos que ter uma via expressa cortando bairros da Cidade Alta traria, o que os moradores ouvidos pela ACESSA almejam ver na BR-440 é algo que vá melhorar a vida de quem reside na localidade. “Pensamos na construção de um acordo, que possa direcionar o uso do dinheiro restante previsto para a obra, que não é pouco, para fazer uma urbanização no trecho, para que ele possa ser aproveitado com uma via local, fazendo uma integração com as ruas existentes no bairro e dando uma destinação mais correta a essa verba”, projeta Luiz Cláudio Santos.
Ele ressalta que o que os moradores desejam é um projeto detalhado, bem feito, que possa ouvir e incluir a população em sua concepção e realização. Para Sandra Regina e Washington Clemente, esse desejo se traduz na possibilidade de uso e benefícios para quem vive e trabalha no entorno. Que a via saia do quase e se torne parte importante da comunidade da Cidade Alta.
Fotos: Angeliza Lopes
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