Descarte de lixo eletrônico é inadequado em JFEm contato com a natureza, metais pesados que compõem equipamentos eletrônicos, como mercúrio, cobre e chumbo podem contaminar solo e mananciais

Clecius Campos
Repórter
10/3/2010

O lixo eletrônico e tecnológico em Juiz de Fora ainda é descartado de forma inadequada. Peças de computadores, eletrodomésticos e celulares usados não têm um destino certo quando jogados fora. De acordo com o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb), Aristóteles Faria, esse tipo de lixo não tem local de descarte específico no aterro sanitário. Porém, muitas vezes, é para lá que os restos de metais pesados que compõem os aparelhos acabam parando.

Segundo a engenheira ambiental do Demlurb, Gisele Teixeira, embora o risco de depósito de metais, como cádmio, mercúrio, cobre e chumbo no aterro sanitário, não seja tão elevado, o descarte no local é inadequado. "O aterro tem isolamento ambiental que permite esse descarte, porém essa não é a disposição mais adequada. O ideal, no caso desse tipo de lixo, é a recuperação das peças. Isso porque o descarte desses metais pesados é um problema silencioso, que daqui a alguns anos pode ser perigoso." Em contato com a natureza, cádmio, mercúrio, cobre e chumbo podem contaminar solo, mananciais e até o ar.

Segundo Gisele, o problema pode ser mais grave quando o descarte é realizado na rua ou em bota-fora irregular. "O dano é maior, pois esses locais não têm preparação alguma para receber esse tipo de lixo." No entanto, segundo o chefe do Departamento de Fiscalização da Agência de Gestão Ambiental de Juiz de Fora (Agenda-JF), Luís Antônio da Costa Venâncio, a vistoria sobre o descarte desse tipo de material fica comprometida, já que não há legislação a respeito, nem na esfera federal. "O acúmulo desse lixo, principalmente o gerado pela computação, preocupa. Mas não sabemos o que fazer com ele. O único princípio do qual podemos usar mão é o de que todo o resíduo é de responsabilidade de quem o produz, por isso, entendemos que peças, celulares e baterias deveriam ser recolhidos pelos fabricantes."

Gisele concorda com esse tipo de destinação. "Os metais pesados podem ser usados pela própria indústria, mas o processo de reciclagem não é tão simples, devido ao tamanho reduzido das peças. Por outro lado, quem detém a tecnologia para construir pode criar meios para reciclar e recuperar esses resíduos de forma eficiente."

Projeto de lei quer coleta obrigatória

É o que propõe o Projeto de Lei 133, do vereador José Laerte (PSDB). A proposição sugere que as empresas produtoras, importadoras ou que comercializem lixo tecnológico ou eletrônico em Juiz de Fora mantenham em suas dependências recipiente próprio para coleta destes resíduos e apresentem ao órgão de proteção ambiental do município projeto de coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequados ou mecanismo de custeio para essa finalidade.

"Além de disciplinar a destinação do lixo eletrônico, o projeto tem a vantagem de permitir a criação de cooperativas que trabalhem esse tipo de resíduo, possibilitando ao município o incentivo à instalação e ao funcionamento dessas cooperativas. O projeto separa esse resíduo do lixo comum e ainda possibilita a geração de renda", defende Laerte. A proposição prevê multa de R$ 10 mil para as empresas que não disponibilizarem o recipiente. O projeto já passou por todas as comissões na Câmara Municipal e está pronto para entrar em primeira votação no Plenário.

Reciclagem é alternativa

Enquanto o projeto não é aprovado, o diretor-geral do Demlurb afirma que o departamento estimula a doação de equipamentos usados, que não precisam ir para o aterro sanitário, a entidades carentes. "Teclados, mouses, monitores podem ser endereçados a locais que recuperam as peças ou que possam utilizá-los de outra forma." Em Juiz de Fora, a Associação dos Catadores de Papel e Resíduos Sólidos de Juiz de Fora (Apares) faz diariamente separação de componentes de computadores e de celulares para revender.

Segundo a presidente da instituição, Flávia Helena Dias da Silva, a Apares tem conseguido repassar para os compradores todo o tipo de resíduo eletrônico, de sucata a cobre. "Os compradores vêm até de fora da cidade em busca desses materiais. Ultimamente, até as baterias de celulares estão sendo vendidas com facilidade." Para Flávia, mais que geração de renda, a reciclagem é um ato de cidadania. "É a nossa forma de contribuir com a natureza. Antes, o material tinha que ser descartado fora da cidade."

Novo aterro terá espaço específico

Aristóteles Faria afirma que o problema do descarte de lixo tecnológico em Juiz de Fora está próximo de ser resolvido. "O novo aterro sanitário terá área especificamente licenciada para o depósito de dejetos tecnológicos. Mesmo com o novo espaço, ainda é preciso defender o reaproveitamento."


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