Não é novidade para ninguém que este é um negócio administrado por empresários que visam lucros e que ganharam esse direito através de uma licitação pública. Porém , isso começa a complicar quando o poder público tem a prerrogativa de interferir diretamente nos resultados das empresas, principalmente na gestão do preço das passagens.

Essa complexa relação entre o capital e o usuário é que aguça a queda de braço, representada pela famosa planilha de custos, que quase sempre demonstra tarifas fora da realidade, quando querem justificar o aumento das passagens de ônibus.

Isso requer um árduo exercício de negociação entre empresários, prefeitura, usuários e em alguns momentos a força dos estudantes.

Para complicar ainda mais, greve de motoristas e cobradores por aumento salariais.

Esse é o verdadeiro “cobertor curto”, ônibus novos, melhor remuneração para os profissionais do transporte, preço de passagens dentro da nossa realidade e a remuneração do capital. Tudo isso não cabe na tarifa dos ônibus...

Uma solução foi a prefeitura bancar parte desse prejuízo através dos subsídios no preço, mas temos que concordar que é tirar do bolso esquerdo para pagar o bolso direito, a calça continua a mesma.

Agora a discussão da vez é acabar com a figura do cobrador, hoje nas grandes cidades do mundo, não existe essa função e em várias cidades do Brasil já se adota esse sistema. Dinheiro deixou de ser importante, qualquer pessoa tem um celular e consegue pagar com o seu aparelho. Não tem mais a circulação de numerários. No passado, quando se movimentava muito dinheiro nas empresas de ônibus o cobrador era importante. Tudo evolui, UBER, carteira digital, PIX, etc... é um rolo compressor e não temos como evitar.

Cada vez mais a modernidade extingue as funções e cada vez mais estamos à mercê da tecnologia. Não sou contra e acho que o presente e o futuro serão muito melhores que o passado. Não sou saudosista a esse ponto. Tenho saudades de coisas que fiz no passado, mas não tenho saudades do passado.

Hoje qualquer pessoa nos cantões da China, Mongólia, Alasca, se integra ao mundo em segundos, não estamos mais isolados.

Mas voltando aos cobradores, temos que entender que apesar de não conseguirmos evitar a evolução das relações humanas, podemos ser humanos na transição, podemos criar situação para aqueles que se encontram nesse limbo. Precisamos garantir que eles não serão esquecidos, no meio de uma equação de lucro. Precisamos ter a garantia das empresas de ônibus e da prefeitura, que os cobradores não vão ficar sem apoio. Esse custo de transição tem que fazer parte do Payback (retorno do capital investido).
Não posso acreditar que um governo do PT, não esteja preocupado com essa categoria. Até a CUT está preocupada querendo que a SINTTRO saia da Central por falta de ação perante os empresários e a favor da categoria. Esse movimento mostra que alguém não está fazendo o dever de casa.

Volto a dizer que os ônibus sem cobradores são uma realidade, sem volta. Vai acontecer, só precisamos ser responsáveis com essa transição.

Precisamos que esse assunto tenha uma discussão séria e que a nossa câmara de vereadores exerça o seu papel de casa do povo e entre nessa briga pra valer e faça as coisas serem oficializadas com compromissos claros, sem discursos dúbios e indiretos. Se podemos ajudar as escolas de samba, podemos defender os cobradores.

Está na hora de fazer.

Consórcio Via JF - Nova frota de ônibus em Juiz de Fora

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Antônio Braga

Artigo de Opinião

Antônio Braga é empresário e consultor de planejamento estratégico. Durante muitos anos foi Diretor da TV Globo, no Rio de Janeiro, TV Panorama, em Juiz de Fora e TV Integração, em Uberlândia. Durante sua carreira como executivo, foi diretor de Planejamento/Financeiro de grandes empresas multinacionais e bancos.

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