Ana Paula Ladeira Ana Paula Ladeira 4/03/2015

Um cinema acessível para todos

A partir deste ano, filmes produzidos com recursos federais deverão possuir dispositivos de acessibilidade, como audiodescrição, libras e legendagem

cinemaMuito se discute a respeito da acessibilidade às pessoas com deficiência e, ainda hoje, as rampas, os lugares reservados aos cadeirantes e as informações disponibilizadas em locais públicos talvez sejam os primeiros recursos que vêm à mente quando pensamos neste assunto. No entanto, para que aconteça a inclusão dos portadores de necessidades especiais no consumo audiovisual, romper as barreiras físicas de um cinema, por exemplo, não é o suficiente. Segundo o Censo 2010, cerca de 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência física, em diferentes níveis, o que demanda uma variedade de recursos específicos para cada tipo de necessidade.

Cerca de 18% dos brasileiros declarou, nesta pesquisa, possuir algum tipo de deficiência visual. Dentro deste grupo, cerca de 6,5 milhões de pessoas têm grande dificuldade ou não conseguem de modo algum enxergar. Na televisão e no cinema, onde a imagem possui tanto valor narrativo, torna-se bastante complicado assistir a uma sequência de ações quando se possui alguma limitação visual. Uma cena de perseguição ou uma simples troca de olhares entre os protagonistas podem ser fundamentais para a compreensão de uma história.

A inclusão dos deficientes visuais no consumo audiovisual se dá, então, por meio da audiodescrição. Ou seja, a descrição das cenas dos filmes é disponibilizada em um canal de áudio específico. Este tipo de recurso ainda não é muito acessível e demanda maiores custos de execução do que outros importantes recursos de acessibilidade, como o closed caption e a linguagem de sinais, que servem à população com deficiência auditiva e já se tornaram mais populares.

As emissoras abertas já são obrigadas a emitir programação com dispositivos de acessibilidade desde 2006, período em que o Ministério das Comunicações publicou uma norma estabelecendo que recursos como legenda oculta, dublagem, libras e audiodescrição deveriam ser implementados. Este é um processo gradual e a estimativa do governo é de que as emissoras emitam cerca de 20 horas semanais programas com audiodescrição até 2020.

Seguindo a mesma tendência, a Ancine publicou, no final de 2014, uma norma estabelecendo que os filmes financiados com recursos públicos deverão, obrigatoriamente, conter dispositivos de acessibilidade, incluindo a audiodescrição. Claro que isto contempla somente os filmes nacionais, mas já é um longo e importante passo na acessibilidade do cinema no Brasil. Ao mesmo tempo, a tecnologia tem contribuído para este avanço. Um bom exemplo é o aplicativo WhatsCine, desenvolvido na Espanha, e que disponibiliza nas telas dos smartphones um intérprete de libras, legendas e audiodescrição. Embora ainda esteja disponível em algumas salas do Brasil, acredita-se que esta ferramenta logo se popularize, transformando o cinema novamente em instrumento de inclusão social.


Ana Paula Ladeira é Jornalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisa assuntos relacionados especialmente à TV.

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