Paula Medeiros Paula Medeiros 9/7/2011

A Casa: suspense em tempo real

A busca por diferenciais é uma constante, não só do cinema. Em alguns casos acaba por ser apenas o pote de ouro no final do arco-íris, sempre inatingível. Em outros casos, a busca por esse elemento é tão almejada que alguns itens, que deveriam ser mais explorados, acabam ficando de lado, só para suprir essa necessidade. E é nesse contexto que podemos encaixar A Casa.

Filmado inteiramente no estilo one single shot, ou em tomada contínua, o primogênito de Gustavo Hernández se destaca por apostar no experimentalismo. A idéia de fazer um filme de terror em plano sequência é admirável e um feito corajoso. Como ele mesmo devia imaginar, não seria nada fácil conduzir um enredo do gênero com esse tipo de filmagem e, em seu percurso, estariam alguns problemas difíceis de resolver sem recorrer a um lugar-comum.

Uma das táticas clichês usadas por Hernández, presente em quase todos os filmes que seguem essa estilística da câmera, cujo ponto de vista é em primeira pessoa, é a escuridão total (quando a bateria da lanterna acaba ou falta energia elétrica). Primeiro que aqui essa tática pode ser encarada com uma forma para o diretor "burlar" sua própria proposta de fazer o filme em plano sequência. Não temos como saber, de fato, se naquele blecaute houve ou não um corte. Em segundo lugar, essa falta de luz é, muitas vezes, encarada como elemento obrigatório em filmes de terror, ainda mais naqueles que usam a câmera em primeira pessoa. REC (volumes 1 e 2), A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal (volumes 1 e 2) são alguns dos filmes que podem exemplificar essa afirmação.

O enredo do filme, que narra a chegada de Laura (Florencia Colucci) e seu pai, Wilson (Gustavo Alonso) a uma casa na qual devem passar a noite, é fraco. Nem todas as situações precisam ser explicadas, mas o mínimo de contextualização é necessário, e isso é muito jogado para segundo plano em A Casa. Certamente esse não era seu propósito, fornecer justificativas. Mas aqui, essa falta de algo para basear, fundamentar a história, torna o enredo desinteressante e sem propósito.

Fora esses percalços, A Casa tem alguns elementos atrativos, como a coordenação entre atores e câmera. Tecnicamente falando, o total entrosamento entre ambas as partes foi imprescindível para que o filme acontecesse da forma que foi concebido.

Podemos chamar a atenção também para o fato de que o filme conseguiu o feito de ser realizado com a quantia irrisória de 6 mil dólares, orçamento inimaginável na atualidade blockbusteriana. Todos essas iniciativas se unem ainda ao fato de que A Casa é baseado em fatos reais. Pelo menos é vendido como se fosse.

A locação também foi um ponto a mais que o longa de Hernández ganhou. A casa escura e os entulhos presentes em todos os cômodos foram cruciais para a criação da atmosfera sufocante intencionada. Mas, apesar da ambientação ter contribuído muito na sustentação do medo — oriundo basicamente da nossa inserção em situações totalmente desconhecidas —, potenciais momentos de pavor e susto, dados apenas pela edição ou por múltiplos takes, foram, de certa forma, prejudicados pela opção one single shot.

Entre (mais) erros e acertos, A Casa, como produto da experimentação, é um longa interessante. É bom ver iniciativas como essa, em que a vontade de fazer cinema supera todos os contratempos. E, para um diretor estreante, que o filme sirva de lição como um exercício de potencialidade que podem — e devem — ser exploradas adiante.

A Casa / La Casa Muda

Uruguai, 2010, 86 min.
Direção: Gustavo Hernández
Roteiro: Oscar Estévez, Gustavo Hernández
Elenco: Florencia Colucci, Abel Tripaldi and Gustavo Alonso


Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos.


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