Paula Medeiros Paula Medeiros 16/7/2011

Clichê e vulgaridade num só lugar

Recorrer a saudosismos na hora de comentar um longa não é a maneira mais apropriada de defini-lo. Mas, em alguns casos, é simplesmente impossível deixar esse tipo de comparação de lado. O humor despretensioso de figuras como Mel Brooks e Peter Sellers parece ter-se tornado impraticável na contemporaneidade, fazendo com que sexo e escatologia assumam o posto dos assuntos centrais da comédia.

É certo que a quebra de tabus e a liberdade conquistada ao longo dos anos, no que diz respeito à expressão do sexo, causou uma mudança irreversível na forma como ele era tratado. Não sejamos hipócritas e nem conservadores ao ponto de querer que essa tão almejada liberdade sexual seja velada. Longe disso. Estamos falando apenas que ela não é elemento obrigatório em filmes de comédia, como parece apontar contrariamente Cilada.com, dentre outros do gênero.

Marcado por diálogos que mais parecem "conversas de botequim", o filme ultrapassa a barreira que distingue casualidade de mau gosto. Criar uma linguagem com a qual o público se identifique não quer dizer montar a narrativa toda em cima de elementos xulos. No caso de Cilada.com, as risadas são causadas mais por desconforto do que por graça.

A transposição de um produto da televisão para o cinema também deve ser cuidadosa, para que o filme não se torne apenas uma minissérie exibida na telona. Essa transição ainda é muito confusa, principalmente porque, no cenário nacional, o intercâmbio entre produtos de meios tão diferentes como a televisão e o cinema parece estar se tornando a base da cinematografia atual. Problemas recorrentes, como roteiros demasiadamente simples, despretensão temática e a utilização de cenas gratuitamente, que não influenciam em nada no desenrolar da trama e que funcionam apenas como forma de "encher linguiça", são todos apontáveis em Cilada.com.

Reiterando ainda mais a falta de colocação de Cilada.com no meio cinematográfico é o fato de Fernanda Paes Leme aparecer entre uma das protagonistas. Apesar do papel não oferecer muito, ela parece não "segurar as pontas", nem das situações cômicas, nem das dramáticas. Bruno Mazzeo aparece simpático e se esforça, mas assim como a personagem de Fernanda, o papel não tem muito a oferecer além das "rodadas de baiana" repletas de palavrões e das situações em que aparece como um "cão sem dono".

Mas o problema mais grave em Cilada.com é mesmo assumir um posicionamento equivocado. Talvez, para a televisão, o formato seja adequado. A exposição de tramas como essa, que não sabem exatamente a que vieram, é mais efetiva nesse meio. A possibilidade de dividir a história em capítulos permite a inserção de mais elementos, como outros personagens cativantes e situações divertidas, capazes de sustentar melhor a trama. Exemplos como esse são bons para provarem que nem tudo que cabe na TV é transponível para o cinema e vice-versa. E que, ao contrário do que a corrente atual parece refutar, fazer cinema pode ser algo muito mais interessante do que apenas vender. Mas isso, o tempo vai mostrar. "Saco vazio não para em pé", já dizia o velho ditado. E que os espectadores percebam que o direcionamento a ele não precisa ser vulgar, mas sim, inteligente a ponto de cativá-lo.

Cilada.com

Brasil, 2011, 95 minutos, Comédia
Direção: José Alvarenga Jr.
Roteiro: Bruno Mazzeo, Rosana Ferrão
Elenco: Bruno Mazzeo, Fernanda Paes Leme, Augusto Madeira, Carol Castro, Fabiula Nascimento, Fúlvio Stefanini, Sérgio Loroza.

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Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos.


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