O bom estudo de comportamento do friend David Schwimmer
É uma grande surpresa quando acompanhamos os créditos finais de Confiar e descobrimos que o diretor David Schwimmer é o mesmo que brilhou como o Ross, na cultuada série de TV Friends. Pois se trata de um filme intimista e analítico, que causa certa repulsa àqueles de mente menos adeptas às realidades do mundo atual. Um conteúdo totalmente antônimo à atmosfera cômica do siticom do qual fazia parte, e muito mais cinema que a comédia irregular Maratona do Amor (2007), em que debutou como diretor.
Nessa nova empreitada de Schwimmer, o roteiro de Andy Bellin e Robert Festinger mostra a devastação causada por uma situação que ocorre cada vez mais nos dias atuais, a pedofilia. Ao fazer quatorze anos, Annie (Liana Liberato) ganha um computador de seu pai Will (Clive Owen) e, com ele, passa a ficar cada vez mais íntima de Charlie (Chris Henry Coffey), seu namorado virtual que conheceu em um chat. Mas quando a adolescente tem contato com ele e é abusada sexualmente, uma série de provações terão de ser enfrentadas por ela e sua família.
O interessante do filme é que ele não vem com a proposta de ser uma espécie de novela, caracterizando vilões e mocinhos. A ação está centrada na consequência íntima de cada um dos personagens, principalmente da jovem e do pai. Há uma grande preocupação do diretor em transmitir a expressão, a dor silenciosa que corrói o transtornado Will, a incerteza e a culpa que povoa a mente de Annie, por isso a demasiada quantidade de primeiros planos e closes. A fotografia de Andrzej Sekula torna a aura tenebrosa mais sufocante, tornando o cenário ainda mais dolorido.
A confiança é realmente a grande questão implícita no longa. No mundo atual não há uma linha delimitadora do certo ou errado e os jovens ficam à mercê de um mundo do qual seus pais têm cada vez menos controle de tudo que os rodeiam. É nesta questão que entra o desespero de Will, quando percebe que não foi cuidadoso o suficiente, e que confiar não é simplesmente dar uma liberdade total a um filho, e sim educá-los para descobrirem por si mesmos o limite do certo e errado.
Além da inovadora inclusão dos posts trocados por Annie e Charlie na tela, para que o expectador consiga acompanhar a vida real e a virtual da menina ao mesmo tempo, outro acerto do diretor foi de não se apegar ao que aconteceria com o pedófilo. Não houve uma necessidade de incluir uma punição, assim como ocorreu em Um Olhar do Paraíso (2009), onde a situação fazia parte de todo o aprendizado que se submeteu a personagem central. No caso de Confiar, a morte ou prisão do vilão tiraria o tom realista (mesmo que cruel) do filme.
A jovem Liana Liberato dá uma verdadeira aula de interpretação. Ao lado de um Clive Owen esforçado, desaparecido desde Closer (2005), tornam ainda mais verdadeiras as situações enfrentadas pela família. Um filme pesado sem ser agressivo e um estudo de comportamento excelente que irá agradar os genuínos amantes de um bom drama. É também um sinal verde para Schwimmer continuar investindo na carreira atrás das câmeras.
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Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.
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