Viagem 2: A ilha misteriosa se apega ao 3D para impressionar, mas fracassa
É incrível como Hollywood produz uma quantidade enorme de filmes ruins em um espaço de tempo tão pequeno. Além disso, o advento do 3D parece ter acelerado o processo de deterioração que a arte vem sofrendo perante aos caça-níqueis em CGI (efeitos especiais, para ser sintético), que ganham cada vez mais espaço. Em Viagem 2: A ilha misteriosa, a visível preocupação de montar sequências com a única intenção de ter um resultado positivo na resolução digital, faz do roteiro uma colcha de retalhos mal-acabada e sem graça.
Na nova trama, Sean (Josh Hutcherson) recebe uma mensagem de seu avô Alexander (Michael Caine) sobre a lendária ilha misteriosa. Mas ele só consegue decifrá-la com a ajuda de seu padrasto Hank (Dwayne Johnson), com o qual mantém uma relação turbulenta. Para ganhar a confiança do jovem, o "bombado" ex-fuzileiro da marinha embarca na aventura junto com ele, e ainda conta com a ajuda da bela Kailani (Vanessa Hudgens) e seu pai Gabbato (Luís Guzmán) que tem a missão de leva-los até lá. Quando finalmente encontram a ilha, muitos perigos terão de superar se quiserem sair de lá a salvo.
O longa é uma continuação de Viagem ao centro da Terra, de 2008, e se baseia nas obras de Julio Verne, A Ilha Misteriosa e Vinte Mil Léguas Submarinas, além de As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift e A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson. Entretanto, nem dá para se animar com toda esta literatura, já que a mistureba concebida no roteiro de Brian e Mark Gunn tenta criar uma conexão entre todas as histórias, sem conseguir tecer um fio condutor que faça sua ideia ter uma lógica aceitável.
O decorrer dos fatos são tão previsíveis que chega a ser impossível se espantar quando um animal gigante surpreende os personagens. A relação do garoto com o padrasto muda em um estalar de dedos, o que se fosse uma transição mais paciente, valorizaria melhor o tema. O romance de Sean com Kailani é de uma obviedade que a Malhação cansou de inserir na cabeça dos adolescentes, primeiro a indiferença, depois o amor.
Dwayne Johnson conseguiu se superar negativamente, já que não conseguiu se sobressair às gags de Luís Guzman, nem à pior participação que Michael Caine fez em um filme. Além disso, a atuação de Brendan Fraser no filme de 2008 se não foi uma maravilha, ao menos contou com a simpatia irônica do ator. Os jovens atores não conseguiram demonstrar nenhuma química, mas muito pouco talento, e Vanessa, por sinal, continuará na sombra de seu sucesso no teen High School Musical.
Contudo a intenção do diretor Brad Peyton era retomar o sucesso do primeiro, superestimado pela proeza de ter sido o pioneiro a ser gravado inteiramente em 3D, fazendo um filme sem pé nem cabeça, e com um teor humorístico banal. Privilegiou a câmera lenta, os closes e o ritmo frenético no simples intuito de levar o público ao êxtase sensorial. Toda essa ambição de resultado pífio teria sido perdoada se Dwayne Johnson não resolvesse cantar What a wonderful world de Louis Armstrong. Aí foi a gota d'água.
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Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.
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