Victor Bitarello Victor Bitarello 6/02/2014

Desta vez, assistindo A menina que roubava livros

A menina que roubava livrosEu considero a leitura de A menina que roubava livros, há cerca de um ou dois anos atrás, algo como um marco na minha vontade de entender o comportamento do povo alemão na década de 30, quando o nazismo era o regime político daquele país. Aliada ao O menino do pijama listrado, bem como a alguns depoimentos que eu tive a oportunidade de ouvir, a história de "A menina" me fez refletir sobre a questão da condescendência que eu acreditava ter acontecido por parte dos alemães diante do horror nazista. Pude observar que as coisas não foram bem do jeito que se pregou nas obras que eu tive a oportunidade de assistir, ou ler. Atualmente, inclusive, já se sabe que muito de tudo o que aconteceu não era conhecido por boa parte da população. Apesar dos livros acima citados não tratarem de histórias reais, eles mostram que ainda existe muito a ser explorado daquele momento histórico, tão chocante e tão assustador.

E aí, A menina que roubava livros foi pro telão.

A minha emoção foi muito influenciada pela anterior leitura do livro. Muitos momentos foram, talvez, mais emocionantes porque eu já conhecia aquela história. Os Hubermann, o amigo Rudy, a mulher do prefeito. Cada pessoa que se apresentava me lembrava sua importância na vida daquela menina e me emocionava. "A menina que roubava livros" é uma história triste. Uma história muito triste. Mostra como a estupidez humana é capaz de fazer coisas horríveis aos próprios seres humanos. Trata-se do grau máximo de sofrimento levado aos homens pela loucura a que os próprios homens podem chegar. E ainda tem o fato de que, normalmente, as pessoas se lembram dos que padeceram em virtude da insanidade nazista, como os judeus, os soldados, os povos atacados. E sim, houve infindáveis mortes nessa guerra (só na União Soviética foram mais de 22 milhões de mortos). O filme ajuda o mundo a lembrar que também o próprio povo alemão pagou muito caro por tudo que seu governante fez.

Liesel Meminger, interpretada pelos olhos doces de Sophie Nélisse, foi deixada para adoção pela mãe comunista que fugia do regime alemão. A menina então é adotada pelo humilde casal Hans e Rosa Hubermann (Geofrey Hush e Emily Watson). Ao encontrar o livro pertencente ao coveiro que sepulta seu irmão, ela desenvolve um interesse por livros, que a acompanha por toda a vida, e é responsável por vários de seus momentos mais importantes na história. Liesel é apenas uma criança, que vai, aos poucos, entendendo a situação pela qual passa seu país, na medida em que também ela vai amadurecendo.

Não podia ter sido mais acertada a escolha de Geofrey Hush para o papel de Hans Hubermann. Ele se acomodou perfeitamente no personagem. A cada fala sua era possível se lembrar do Hans do livro. Geofrey é um grande ator. Emily Watson é uma excelente atriz e está muito bem no papel, mas não foi a Rosa Hubermann do livro. Para ser fiel, teria que ser uma atriz mais "alemã" mesmo. Mais "forte", mais rude.

Eu não me lembro de já ter visto Sophie, mas gostei bastante dela, apesar de achar que em alguns momentos ela podia ter sido mais bem dirigida (e é complicado falar, aqui, sobre tais momentos, pra não estragar tudo para quem ainda não assistiu à produção). Ela teve uma química muito boa com Nico Liersch, que fez um Rudy muito fácil de se gostar e que, sem dúvida, lembrou bastante o do livro, apesar de não ter "olhos azuis grandes e seguros" como Marcus Zusak o descreve na obra.

O longa suprimiu bastante do conteúdo do livro, acredito que para obter maior dramaticidade em alguns momentos, e acrescentou um pouco também, acréscimos estes que em alguns momentos se tornaram um pouco melodramáticos. Existem falhas de direção facilmente perceptíveis, com atores ficando "sem saber o que fazer" em vários momentos. Algumas partes de roteiro poderiam ter sido colocadas, ao menos para explicar melhor algumas coisas. Tudo bem que é complicado "narrar" o livro, mas conhecendo a história, pode-se notar que muito dos significados se perdeu. Mas é um bom filme. Não será, provavelmente, o melhor filme da vida de alguém, mas é um bom filme, é agradável de assistir, é muito tocante, é muito bonito. A reconstituição de época, com os anúncios publicitários, tanto de propagandas comerciais como de propagandas políticas, ao lado um do outro, por exemplo, é muito interessante.

Por trás de toda a tristeza da obra, é muito emocionante o simbolismo dos livros na vida da menina, e de tudo o que eles representam pra ela. Cada perda e cada crescimento tem um livro por perto. A menina que roubava livros não somente os roubava (se é que se pode dizer isso dela). Ela precisava deles.


Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.

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