Uma trapaça chamada "Trapaça"
Um cartaz.
Nele, a imagem de cinco atores: Bradley Cooper, Amy Adams, Christian Bale, Jennifer Lawrence e Jeremy Renner.
Este cartaz foi, provavelmente, o maior motivo que levou tanta gente aos cinemas nos EUA para assistir "Trapaça". E após, essas pessoas, talvez, tenham se sentido um pouco enganadas, com uma sensação de que foi muita propaganda pra pouco produto. São, afinal de contas, cinco personalidades muito populares do cinema atual, às voltas com indicações e mais indicações às premiações mais queridas por lá. Uma das atrizes, inclusive, ostenta alguns troféus em alguma estante em sua casa. Então, como um filme desses pode não ser bom?
É uma enorme, repito, enorme pena que o aspecto mais legal do longa seja a oportunidade de ver o trabalho de atores queridos. "Trapaça", como um todo, foi uma grande decepção!
A trama, assim como o "O lobo de Wall Street", trata de pessoas com talento para "passar a perna" em outras. O filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale) e sua amante, Sydney Prosser (Adams), um casal que inicia uma trajetória de ganho de dinheiro "fácil" de pessoas em situações difíceis, oferecendo-lhes investimentos fajutos. Até que se deparam com o agente Richie DiMaso (Cooper) que, no intuito de conseguir quatro "especialistas" na arte da trapaça, arma um flagrante contra o casal, e oferece isenção de pena ao mesmo, caso consiga encontrar trapaceiros que, através de seus "conhecimentos", possam ajudá-lo a prender criminosos "do colarinho branco". No entanto, tantos planos armados pelo trio se misturam aos seus sentimentos, não somente os que possuem entre si, mas também envolvendo a mulher de Irving, Rosaly Rosenfeld (Lawrence), e a amizade que surge entre Irving e Carmine Polito (Renner). E nesse caminhar, o filme segue até um final (pelo menos o final), bastante bom.
Os bons aspectos de "Trapaça" estão muito no plano do cinematográfico, fugindo demais de sua proposta principal, que é claramente a de ser um filme de entretenimento. Com isso, quero dizer que o trabalho de direção é muito bom (a discussão do casal Irving/Rosaly, já próximo do final, é um presente para os espectadores – que nessa altura, assim como eu, já devem estar querendo ir embora). O roteiro fecha muito bem, é bem amarrado, bem levado, mesmo sendo um roteiro com muita facilidade de se perder, na medida em que a história tem várias idas e vindas, e várias alterações de status quo. Todos os atores estão bem em seus papeis (mesmo porque são todos bons atores, estariam bem em qualquer coisa).
No entanto, esse mesmo roteiro bem trabalhado, é pouquíssimo interessante. Não é uma história envolvente, não se sente vontade de saber aquilo, nem de saber sobre aquelas pessoas. Os trabalhos de atuação estão bons, adequados, mas para um filme tão premiado (haja vista o Globo de Ouro), sem dúvida que eu esperava momentos mais marcantes das atuações. Amy, vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz, tem basicamente dois grandes momentos no filme, ambos atrelados à incorporação e à descaracterização do sotaque inglês. No restante, ela está somente bem (como em tudo que faz, nada mais que isso). Christian tem uma cena muito boa, que é a mencionada acima, quando de sua discussão com a personagem Rosaly, estando razoável nas demais aparições. Acaba que o que dá graça ao filme são as entradas de Jennifer Lawrence. Ela, realmente, fez muito jus ao prêmio de atriz coadjuvante que ganhou no Globo de Ouro. Seu personagem está impecável. É divertido, bem montado, bem caracterizado, é forte, é bem feito. Ela dá um show como uma mulher bipolar, tanto nos momentos de fúria quanto nos momentos de sobriedade. E ela, todas as vezes que aparece, quebra a linearidade de uma história que se arrasta por mais de longas duas horas. Nem o apelo à participação de Robert De Niro adiantou.
Os produtores apostaram nas dobradinhas Cooper/Lawrence e Bale/Adams. Mas não notei a mesma química que Amy e Christian tiveram em "O vencedor" e, apesar de terem dois dos melhores narizes do cinema atual, Bradley Cooper e Amy Adams também não funcionaram juntos.
"Trapaça" é, infelizmente, um filme chato. Me passou a impressão de ser como naquele exercício militar, em que o soldado segura uma corda e vai segurando outra e outra, até conseguir chegar ao final. É como isso. O filme começa relativamente bem, vai se arrastando bravamente e perdendo as forças, até chegar ao final, quando quase que numa recuperação de fôlego, ele diz: acabei!
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Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.
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