Confira a crítica da minissérie Nada Ortodoxa


[COLUNISTA_NOME] 27/05/2020

"Nada Ortodoxa" ("Unorthodox") é uma minissérie de 4 episódios do streaming Netflix, inspirada na biografia da escritora Deborah Feldman. A obra conta a história de Esty (Shira Haas), jovem judia criada em uma comunidade ortodoxa na cidade de Nova York. Por crer no holocausto judeu ocorrido na Europa, nos tempos da Segunda Guerra Mundial, enquanto um castigo pela assimilação judaica à cultura europeia, essa comunidade vive sob as normas mais rígidas do judaísmo. Esty acreditava que o casamento lhe proporcionaria uma vida na qual as coisas seriam melhores para ela. Sob seu ponto de vista, ela não se encaixava naquele universo. No entanto, após se casar com Yanky (Amit Rahav), ela percebe que estava aprisionada a uma vida que não queria levar. Decidida a fugir, ela parte em direção a Berlim, para encontrar a mãe.

A todo tempo, flashbacks ocorrem, e eles nos fazem compreender o roteiro e todos os porquês de cada personagem de forma muito bem construída. A importância deles é muito bem colocada através dessas idas e vindas de tempo.

Outra coisa bacana é que a série se esmera em não ser preconceituosa, observando a responsabilidade de estar trabalhando com uma temática extremamente séria, que é a religiosidade. E a questão judaica no ocidente ainda tem um peso imenso, pois eles viveram uma terrível tragédia genocida. Foram perseguidos e mortos pelo simples fato de terem nascido em uma religião, usados como bode expiatório em um país afundado em problemas. Naqueles anos, ser judeu era quase uma certeza de morte na Europa.

Eu penso que é muito difícil, para o mundo ocidental, lidar com a questão Alemanha/Judaísmo. Aquilo que na Psicanálise é conhecido como Sublimação, ou seja, uma forma saudável de superar o trauma psíquico, dificilmente ocorrerá. O genocídio é historicamente muito recente. E foi muito grave. Filmes, peças, documentários, vivem sendo feitos sobre o que ocorreu nas décadas de 30 e 40 na Europa, mas parece que existe muita coisa a ser dita ainda. Talvez até mesmo gritada. Berrada. Muita coisa entalada. Acredito que tantos trabalhos artísticos sobre tudo o que aconteceu naquela época sejam tentativas de pessoas que não conseguem conviver consigo próprias, sabendo que são seres humanos, vivendo num mundo em que um dia seres humanos fizeram o que foi feito. E essa minissérie ainda tem um ponto interessante, já que Esty vai em busca da liberdade justamente no país que causou o holocausto.

Enquanto assistia "Nada Ortodoxa", eu era chamado a refletir. Muito. Refletir sobre conceitos, preconceitos, cultura, sociedade, convivência. Sobre opinar, falar, dizer, o que dizer, como dizer. Eu fiquei muito impactado com essa produção. O último episódio, então! Nossa! É muito emocionante.

Além disso, "Nada Ortodoxa" é uma aula sobre os rituais mais ortodoxos dessa religião. Só por isso já vale a pena assistir.

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