Filha de Nelson Rodrigues lança livro com narrativas de seu pai
Obra de Sônia Rodrigues retrata 40 anos de entrevistas e crônicas concedidas por um dos maiores dramaturgos do Brasil
Repórter
8/8/2012
Polêmico, debochado, irônico, amante do futebol, arrogante e machista. Essas são algumas das características de Nelson Rodrigues, vendidas pela mídia por décadas e décadas. Bom pai, crítico, impaciente, muito responsável e respeitador dos laços familiares. Este é o outro lado de Nelson Rodrigues, descrito no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo.
De autoria da escritora e filha do dramaturgo brasileiro, Sônia Rodrigues, o livro, de 272 páginas, apresenta uma reveladora narrativa, por meio de fragmentos de textos e entrevistas. A obra comemora o centenário do cronista pernambucano, que completaria cem anos no dia 23 de agosto.
Sônia esteve em Juiz de Fora na última terça-feira, 7 de agosto, para lançar o livro, e contou, durante coletiva com a imprensa, como foi produzir a obra. "Pesquisei um período de 40 anos de depoimentos e entrevistas que meu pai concedeu. Foi um trabalho muito árduo, pois muitos jornalistas possuíam uma imagem já pré-concebida do meu pai, e esta imagem era repassada para as matérias. Às vezes, em uma entrevista de 700 palavras, 620 eram do repórter, e somente 80 era o que meu pai realmente havia dito."
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Durante a entrevista, Sônia também revelou que escrever o livro fez com que ela se sentisse mais próxima de Nelson Rodrigues. "Comparo este meu trabalho com o do filho que encontra o diário de um pai. E, por meio deste diário, é como se pudesse perceber que seu pai também tem derrotas, também sofre. Que ele é um ser humano como outro qualquer."
Sobre a imagem polêmica criada sobre seu pai, Sônia revela um lado de Nelson Rodrigues desconhecido pela maioria das pessoas. "Muitos falam que meu pai gostava de zombar de estagiários de jornalismo e também das mulheres. Mas, na verdade, ele tinha um grande respeito pelas mulheres e, principalmente, pelos laços familiares. Só que meu pai não tinha habilidade para lidar com conflitos, o que pode ter criado uma imagem deturpada da sua figura".
Sônia também acredita que, apesar de Nelson Rodrigues ter sido um brilhante jornalista e de exercer a profissão desde os 13 anos de idade, ele não teria espaço nas redações atuais. "Na época em que meu pai viveu, as pessoas ficavam revoltadas com o que ele falava, mas, hoje em dia, acredito que nenhuma redação conseguiria aceitá-lo".
O livro
A obra em homenagem a um dos grandes cronistas do país aborda a infância de Nelson Rodrigues, desde Recife até o Rio de Janeiro. Temas como sexo, amor, morte, leituras, vocações literárias, a carreira jornalística e o dia a dia também está presente no livro. Os grandes trabalhos deste dramaturgo também não podiam ficar de fora. E as declarações que constam em Nelson Rodrigues por ele mesmo revelam os bastidores e o legado de obras como Vestido de noiva, Álbum de família, A falecida, O beijo no asfalto e Toda nudez será castigada.
Prosa & Verso
Autora de 27 livros, Sônia esteve em Juiz de Fora para inaugurar o projeto Juiz de Fora - Prosa & Verso, da Funalfa. "Fico muito feliz em ver que existem projetos como este no Brasil. Estou impressionada com o projeto, desde a preparação até o cuidado com o autor. Infelizmente a cultura recebe pouco cuidado neste país e projetos assim nos fazem ter mais esperança."
O projeto pretende promover uma parceria entre a Funalfa e importantes autores brasileiros, com o objetivo de incentivar o gosto pela literatura, a partir de encontros que coloquem escritores nacionais em contato com o circuito artístico e cultural da cidade.
No próximo dia 21 de agosto, o Juiz de Fora – Prosa & Verso contará com a participação do escritor Muniz Sodré, às 19h, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM). Considerado um dos mais importantes pensadores brasileiros da atualidade, Sodré ministrará a palestra Jorge Amado, religião e povo, cuja abordagem terá como foco as noções de povo e religião na obra do autor baiano, que também completaria cem anos no dia 10 de agosto. A entrada é franca.
Os textos são revisados por Mariana Benicá
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