Violinista Luís Otávio Santos leva a música colonial pelo mundo
Repórter
19/07/2014
Ao construir uma trajetória internacional que reúne experiências ao lado de renomados músicos, o violinista Luís Otávio Santos, sustenta um desejo maior: despertar nos jovens a fascinação pela música colonial e difundir o seu ensino profissional pelo país. Apesar de residir em São Paulo e se apresentar pelo mundo inteiro, não rompe o laço com Juiz de Fora, assumindo a direção artística do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que segue até o dia 27 deste mês.
Filho dos fundadores do Teatro Pró-Música, iniciou seus estudos musicais aos 6 anos no piano e aos 8 no violino. Em 1990, partiu a Holanda do grupo Solistas de Câmara do Pró-Música para estudar no Conservatório de Haia, estudando violino barroco com Sigswald Kuijken e cravo com Jacques Ogg.
"A gente tinha um trabalho embrionário aqui e foi lá que desenvolvi minha carreira. Fui professor por muitos anos no Conservatório de Bruxelas, na Bélgica, depois de Florença, na Itália. Há mais de 20 anos, comecei a trabalhar profissionalmente com o Jacques, a princípio como meu mestre, mas hoje amigo e companheiro de concerto", fala sobre Ogg, nome que se apresentou nesta edição do festival.
Nutre uma admiração pelos nomes com quem conviveu e ainda mantém fortes laços como Sigswald, regente do grupo La Petit Banda, do qual ainda faz parte e já gravou mais de 80 discos. Destaca também o vínculo com o belga Philippe Pierlot. "Ele já veio duas vezes ao festival. Em 93, fiz as quatro estações de Vivaldi e foi a primeira vez que era feita no Brasil. Tinha 22 anos e essas maluquices já vem acontecendo há muito tempo", brinca.
Depois de 16 anos no exterior, retornou ao Brasil em 2006. "A profissão de música é muito volátil. Sempre estou viajando para outros países, como o Japão, México, Austrália". Santos se considera privilegiado pelas oportunidades que foi conquistando ao longo de sua carreira. "Hoje o mundo mudou muito pela proximidade que o ambiente virtual propicia. Quando eu fui para a Europa, não existia a internet, o abismo entre os mundos era muito maior", analisa.
Dessa forma, opta pela discrição para conduzir seus estudos sobre a música clássica, envolvendo-se não somente com uma literatura inerente ao contexto dos acordes, mas também com clássicos do século XIX, como Dostoiévski, Proust, Kafka, Tolstói, entre outros.
Defende que a pesquisa da música antiga não pode ficar atrelada à imagem de pessoas caretas e antiquadas ou restrita aos ambientes museológicos. Segundo o violinista, a música barroca possui um apelo muito grande junto à juventude. "Costumo chamar de um velho-novo. O que mais vejo no público são jovens e cada vez mais jovens alunos. Vai na contramão desta ideia pré-concebida, associada à uma coisa empoeirada. Aguça a curiosidade pela música antiga, resgatando instrumentos que não existem mais ou uma técnicas que não são usadas. É uma coisa muito criativa, ao contrário deste ensino de música tradicional, que no fundo é meio careta. A música antiga vem para abalar este cenário", observa.
A difusão da música colonial
Embalado por essa curiosidade por desvendar mistérios das peças coloniais, busca ampliar o ensino da música barroca pelo país. Atualmente, é professor da Escola de Música do Estado de São Paulo (Emesp), onde propõe uma extensão dos trabalhos desenvolvidos nas edições do Festival de Música Colonial em Juiz de Fora. "Estou no sétimo ano à frente deste curso, que está intimamente ligado ao trabalho do festival. Muitos alunos tiveram essa formação graças ao sucesso que é este evento."
Em sua 25ª edição, o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga sustenta uma solidez que, segundo o músico, é fruto de uma persistência em sua proposta. "No Brasil, as coisas tendem a se desfazer, a se liquidificar. A gente mantém a mesma filosofia há anos, de ensino especializado e também de amplo acesso a todos os ramos da educação musical. O festival é muito abrangente, era pequeno, veio crescendo, mas manteve essa linha de qualidade musical, sempre com a participação de nomes muito bons", reforça.
Prêmios
De temperamento discreto, é um dos nomes mais reconhecidos no cenário mundial, principalmente pelos prêmios que já recebeu ao longo da sua carreira. Entre eles, o Diapason D'or, em 2004, atribuído pela gravação do álbum Jean-Marie Leclair - Sonates - A Violon Seul avec La Basse Continue", lançado em 2003. "Diapason D'or é o oscar da música. Uma revista francesa que faz a crítica dos CDs. Esse CD alavancou muito a minha carreira, tive que gravar outros por que a crítica exigir outros", conta.
Luís Otávio é o terceiro brasileiro a ser agraciado pelo prêmio, que já foi concedido ao pianista Nilson Freire e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). "São três organismos brasileiros que tiveram essa distinção. Sou meio discreto, estou por aí fazendo o meu trabalho e meu reconhecimento é em função da minha ação. Nunca fui um carreirista, tenho uma geração de alunos que passaram por mim. Não faço força para isso, sou muito tranquilo", destaca.
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