A população de pessoas surdas em Juiz de Fora teve o atendimento da Central de Libras suspenso em 2017. O serviço era prestado em parceria entre o Município, que cedeu o espaço; o Estado , que mantinha os profissionais que faziam o atendimento e a União, que providenciou todos os equipamentos necessários para que o espaço funcionasse. A defasagem do salário dos profissionais, no entanto, o Governo não conseguiu cobrir a proposta da empresa responsável pelo serviço à época. Com isso, a reivindicação pela retomada do trabalho está prestes a completar cinco anos. A espera, no entanto, pode acabar ainda em 2022.
O Município informou ao Acessa.com que o retorno do atendimento ocorrerá assim que o Estado efetivar a contratação dos profissionais, o que deve ocorrer até dezembro. “O Estado irá retornar com os trâmites para a contratação após o período eleitoral. O acompanhamento das atividades ficará sob a responsabilidade da pasta dos Direitos Humanos e da Coordenadoria da Pessoa com Deficiência, setor ligado ao Departamento de Políticas de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (DPDH) da SEDH”, informa a Prefeitura.
O Estado, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) explica que o processo para retomada do atendimento na Central de Libras de Juiz de Fora está em fase final de elaboração do Termo de Cessão de Bens. “O documento foi assinado pela prefeitura, mas a documentação do município estava vencida e foi regularizada um dia antes do período de vedação eleitoral”, detalha o órgão.
A Central vai continuar sendo uma parceria entre o município, governo estadual e federal. O espaço e os equipamentos já foram garantidos e o serviço passará a funcionar na Casa dos Conselhos – Rua Halfeld, 450, Centro. Com base na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/15), o dispositivo visa a dar aos surdos acessibilidade às repartições públicas voltadas para o atendimento externo, por meio da tradução e interpretação da Língua Brasileira de Sinais (Libras). O trabalho tem o intuito de facilitar e viabilizar o acesso aos surdos nos serviços públicos, possibilitando o esclarecimento e a defesa de seus direitos, contribuindo para a inclusão social e o desenvolvimento de sua cidadania; ampliar a comunicação e a interação entre ouvintes e surdos, fundamentada na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU).
O atendimento também deve incluir contato virtual, por meio de demandas recebidas via e-mails e Skype, que devem ser respondidas e atualizadas diariamente. Inclui também a utilização de webcams, possibilitando a utilização on-line da Libras; a prestação de informações de forma presencial, mediante agendamento de atendimento na Central de Libras; oferecimento de acompanhamento de intérprete, em local e horário previamente agendados, para dar as condições para que pessoas surdas consigam se comunicar em hospitais, tribunais, delegacias e outros locais de atendimento ao público. E, ainda, disponibilizar, mediante agendamento prévio, sala especial para acolhimento e atendimento ao surdo, quando este necessitar de intermediação para assuntos particulares, viabilizando a comunicação entre surdos e ouvintes.
UMA VIDA NO SILÊNCIO
Gabriel Coimbra não nasceu surdo, mas quando era recém nascido teve problemas de saúde e o uso de muitos antibióticos ainda bebê danificaram seus nervos auditivos, o levando a surdez total dos dois ouvidos. "Quando ele nasceu, engoliu muito líquido amniótico e teve uma icterícia muito forte e uma pneumonia neo-natal. Por conta dessas complicações no parto ele precisou de tomar muitos antibióticos, por mais de uma semana, com isso ele perdeu o nervo auditivo", relata Zânia Coimbra, mãe de Gabriel.
Agora, aos 39 anos, Gabriel trabalha em uma indústria, com mais de 12 mil funcionários em sete cidades do Brasil, e sua maior dificuldade, durante todos esses anos, é a acessibilidade. "Nos bancos, hospitais, trabalho, lojas, as pessoas precisam saber libras para que elas consigam se comunicar conosco para não dependermos de ninguém", relata Gabriel.
"Minha bandeira é da inclusão. No meu trabalho só tem eu de surdo o restante é ouvinte e sofro com a dificuldade de comunicação. Sonho que meus colegas aprendam a falar Libras para se comunicarem comigo para quebrarmos essas barreiras".
Quebrar barreiras é com ele mesmo. Hiago Thales Furtado da Silva, de 23 anos, foi Campeão Pan-Americano de surdos em setembro, é estudante de Educação Física na UFJF e atleta da Confederação Brasileira Desportos Surdos (CBDS) na modalidade de futsal. Hiago relata que começou a jogar futsal ainda criança e contou sobre sua convocação para a seleção. "Comecei jogar futsal desde 5 anos. Minha convocação começou ano passado quando os treinadores Lúcio e Pedro Henrique da seleção brasileira me reconheceram quando joguei na associação dos surdos de Juiz de Fora e Associação dos surdos de Uberlândia, também jogava na seleção Minas Gerais dos surdos defendendo estado e agora sou atleta do Brasil de surdos , me sinto orgulhoso e honrado de ser poder reconhecido pela CBDS, treinamos juntos quase 1 ano em Jundiaí (SP) até conquistarmos esse ano na Pan-Americano de surdos que aconteceu em Fortaleza (CE)".
Ele conta como ficou surdo. "Eu não dormia direito, não peguei bico nem mamadeira era só peito e com 1 ano e meio de idade eu corria pra atender telefone fixo, mas depois disso eu só chorava na madrugada e não dormia de jeito nenhum. Troquei de pediatra e um dia eu chorei muito, fui no posto médico, pois minha mãe cuidava de mim na clínica da criança, a pediatra do posto achou que eu não estava correspondendo aos estímulos da audição e minha mãe teve que pedir os exames. Tive uma infecção muito grave e o médico da clínica não viu, foi aí fiquei surdo", relata Hiago.
Hiago e Gabriel tem algo muito tem comum além da surdez, o sonho de uma sociedade mais inclusiva e acessível a todos. "Ser surdo na sociedade de hoje pra mim tem seu lado positivo e negativo. Positivo, pois sinto muito orgulho de quem sou, sei lidar com as adversidades e sou independente. O lado negativo é a falta de acessibilidade nos bancos ou hospitais, por exemplo. Fico com raiva porque tem surdos que não sabe ler ou escrever, mas sabe falar em libras, deu pra entender a lógica ? Me preocupo com isso, em Juiz de Fora falta muitas coisas pra os surdos", explica Hiago.
UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL
A Associação dos Surdos de Juiz de Fora, exerce uma função importante na comunidade surda. Fundada em 1992, a associação oferece curso de Libras para a comunidade e batalha pela inclusão e acessibilidade à comunidade surda de Juiz de Fora. Gustavo Francia Albuquerque, presidente da associação relata. " Temos cerca de 200 sócios hoje e nossa função é mostrar para a sociedade a importância do conhecimento em Libras. Queremos quebrar barreiras, pois a cidade, os profissionais precisam aprender a se comunicar com o surdo. Temos dificuldades em todos os lugares", conta Gustavo.
Sobre sua surdez, ele explica. "Eu nasci com surdez bilateral profunda. Minha mãe teve rubéola quando estava grávida. Tive muita dificuldade na infância com as escolas sem acessibilidade. Sofri muito preconceito, outras crianças me afastavam. Fiquei muito sozinho com falta de comunicação. Meus professores, em sua maioria, também não conseguiam se comunicar comigo e só me davam atividades de desenhos".
Gustavo fala sobre como funciona a associação e que lá é um lugar de encontro e interações. "Temos cursos de Libras, para Intérpretes também. Temos encontros, bate papo, interações, esportes, treinos de futsal, fut7 e vários outros esportes", ressalta Gustavo.
Para contribuir com a Associação dos Surdos ou fazer o cursos disponibilizados por ela é só entrar em contato através do número (32) 99139-8170 ou através do e-mail contato@asjf.com.br. Novas turmas para o curso de Libras estarão abertas a partir de outubro.
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