Falta de renovação é barreira no esporte para deficientes Visão no Esporte incentiva esportes competitivos para pessoas com deficiência. No entanto, falta de investimentos impossibilita ampliação da iniciativa
Repórter
18/9/2010
Se você pensa que o esporte, principalmente o futebol, é apenas uma brincadeira de recreação para as pessoas com deficiência, está completamente enganado. Não que as atividades não sirvam para tal fim, mas o viés competitivo, como ocorre tradicionalmente entre os atletas sem deficiência, também está presente neste público. Mais do que presente, é uma condição fundamental para sua inclusão na sociedade e crescimento pessoal.
Prova maior do fato é a recente medalha de ouro que o atleta Carlos Cristiano Paradello conquistou pela seleção mineira de futebol de cinco nas Paraolimpíadas Escolares e o destaque de Felipe Marques Tavares na mesma equipe. O técnico da equipe Visão no Esporte - projeto esportivo da Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) em parceria com a Associação dos Cegos - Leonardo Lima, enfatiza que, embora existam oportunidades para as pessoas com deficiência praticarem esportes na cidade, o enfoque na competição ainda carece de incentivo.
Segundo Lima, casos como o de Carlos e de Felipe são raros, principalmente pela idade, já que possuem 17 e 18 anos, respectivamente. "O grande desafio nacional é a renovação. A maioria dos competidores é adulto. Os atletas vão envelhecendo e não está havendo renovação. Além de trazer novos atletas para as competições, precisamos trazer atletas novos", ressalta. Lima aponta como possível motivo para esse "envelhecimento" do esporte é a própria cultura da sociedade. "Há muitos anos os deficientes ficavam em casa. Toda escola regular tem deficiente e muitos são liberados da Educação Física. Às vezes falta conhecimento e informação."
Lima complementa dizendo que isso acaba refletindo na prática do esporte, já que com o preconceito, o deficiente começa a praticar o esporte muito tarde, diferente do que acontece com atletas que não possuem deficiência. "Temos atletas de 30 anos que nunca haviam feito atividade física. Como vão surgir novos atletas? Como preparar?", questiona o profissional, que, além da competição e recreação, garante que o esporte traz inestimáveis diferenças e melhorias na vida social, pessoal e profissional do deficiente.
Esporte para a vida
Pela experiência adquirida no envolvimento com o esporte para pessoas com deficiência, Lima destaca que o quanto antes a pessoa for incentivada à prática da atividade física, os benefícios serão ampliados. "Minha grande satisfação é ser o elo entre o deficiente e a sociedade. Eles mesmos não imaginavam que fossem ter a oportunidade de conhecer atletas de outros estados. Isso amplia a perspectiva de vida", pontua, se referindo ao comentário que Carlos e Felipe fizeram ao se darem conta que estavam em uma competição nacional.
"O esporte é uma ferramenta de inclusão social. A perspectiva de vida do deficiente muda. Desperta um potencial que eles mesmos não imaginavam. Auxilia na questão motora e no equilíbrio", complementa. Lima lembra que o futebol é o esporte mais difícil para o cego, mas, com a prática, o desenvolvimento da autonomia é imenso. "O esporte ajuda na reabilitação, mesmo quando a pessoa nasce cega tem que passar por um período de reabilitação", afirma.
Esse é o recado que o profissional dá para as famílias que não acreditam ou até mesmo não conhecem essas atividades. No Visão no Esporte, por exemplo, as atividades trabalhadas são o futebol de cinco, o atletismo, a natação, a hidroginástica e o golbol, que é uma mistura de vôleibol com futebol, em que os atletas tentam fazer gols arremessando a bola no campo adversário. Para a participação no projeto não é cobrada taxa alguma e o cadastro pode ser feito na Associação dos Cegos (avenida dos Andradas, 455, Centro).
Parcerias públicas e privadas são fundamentais
A partir da viagem a São Paulo para as Paraolimpíadas Escolares e de sua própria experiência, Lima ressalta que a cidade ainda é carente de investimentos públicos e privados para a ampliação de programa semelhante. Ele comenta que em outras cidades o aporte para a competição é maior e que em Juiz de Fora, quando ocorre, é somente pontual, nos casos de competições isoladas, não tendo a segurança de financiamento fixo.
Outra barreira, segundo o profissional, é a falta de mobilização do próprio deficiente. Ou melhor, oportunidade para mobilização. O Visão no Esporte é direcionado para cegos e não tem atividades voltadas para pessoas com outros tipos de deficiência. Lima comenta sobre uma maior facilidade dessa natureza, pela Associação dos Cegos, já que é referência na cidade e serve como ponto de mobilização. "Recebemos pedidos para outras atividades, mas sem mobilização é complicado", explica.
Especificamente para o futebol, Lima destaca o apoio dos clubes ao redor da Associação dos Cegos - Sport Club Juiz de Fora, Minas Tênis e Blink Soccer - onde a equipe do futebol de cinco realiza os treinamentos.
Exercitando a Inclusão
No próximo dia 23 de setembro, às 19h, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes (avenida Getúlio Vargas, 200, Centro), será realizada a palestra Exercitando a Inclusão: práticas esportivas, com o supervisor de Esportes Adaptados da Secretaria de Esporte e Lazer, Wellison Valverde Ferigatto; o técnico da equipe Visão no Esporte, Leonardo Lima; o atleta da equipe, Bruno Fernando. A palestra faz parte da Semana Municipal da Pessoa com Deficiência.
Os textos são revisados por Thaísa Hosken
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