Num geral as pessoas pensam que o PcD - Pessoa com Deficiência; já nasce assim, mas nem todos os casos são desta forma. Vou contar uma breve história de um menino que nasceu sem nenhuma deficiência, mas o destino ou simplesmente os fatos transformaram sua vida conduzindo-o a experiências muito desafiadoras.

Cledson Alberto Luiz de Campos veio ao mundo dia 26-08-1958, em Juiz de Fora, através de parteira em casa, menino lindo e normal. Naquela época, havia um surto de poliomielite no mundo e a vacina recém descoberta (injetável) estava sendo aplicada, mas criança gripada não poderia tomá-la, por ironia do destino, as 3 vezes que foi levado para tomar estava gripado e não foi imunizado. Um tempo depois que acabou a campanha de vacinação, a mãe percebeu que o menino não se movimentava no berço, constatando, em seguida, poliomielite no filho, ele estava condenado a ficar imóvel durante toda a vida.

Porém, como tudo pode mudar, um belo dia essa criança ficou em pé no berço (+/- 2 anos), despertando a esperança de poder andar ereto, o que somente foi possível aos 9 anos, quando começou a utilizar aparelhos fornecidos pelo SUS. Até esta idade ele andava de quatro patas e interagia com as crianças na rua do bairro em que morava. Tem até um caso muito engraçado, que os amigos atravessaram uma enxurrada e ele quis ir também, mas ficou atolado por causa da deficiência, obrigando os amigos a resgatá-lo e claro levarem broca.

Com o uso dos aparelhos ele pode andar ereto, foi para escola pela primeira vez, iniciava uma nova etapa, porém estudou durante 1 ano e teve que sair para fazer cirurgia nas pernas, na tentativa de deixá-las mais firmes e menos curvadas para deixar de usar um dos aparelhos que ficava na cintura e incomodava muito. Cirurgia que na época foi feita de forma “experimental”, porque ele era o primeiro caso deste tipo a ser operado em Juiz de Fora.

Ficou em média dois anos em recuperação e após isso. Fala dele: "A vida explodiu!" Voltou para escola, concluiu o ensino fundamental e foi para o ensino médio, onde cursou científico e técnico em ciências contábeis, no decorrer do tempo fez duas faculdades, duas pós-graduações, um MBA e um mestrado, sempre andando com as muletas canadenses. Ele diz que uma coisa sempre fez muita diferença, as palavras da mãe ressoando em seus pensamentos e ações (VOCÊ NÃO É DIFERENTE DE NINGUÉM), isso trazia para ele um pensar EU TENHO QUE FAZER A DIFERENÇA.

Na juventude teve o primeiro emprego em uma fábrica de material elétrico, onde trabalhava em pé o dia todo, surpreendendo o proprietário com sua capacidade produtiva em dobro dos demais funcionários. Depois foi trabalhar em uma empresa de transporte, onde executava atividades na área de almoxarifado e pouco tempo depois foi trabalhar no escritório onde ficou durante 12 anos. Em seguida foi ser gerente administrativo em um clube de tênis de JF, onde ficou até se aposentar. Quando trabalhava na empresa de transporte iniciou suas faculdades e acabou assumindo nesta instituição a cadeira de professor, onde atuou em várias disciplinas até poucos anos atrás. Casou-se, teve um filho, desenvolvia atividades espirituais e de caridade, dirigia e levava uma vida comum como qualquer outro cidadão. Mas, uma nova situação muito desafiadora em sua saúde se fez presente.

Numa manhã de 2005, quando ele se preparava para sair para trabalhar teve um mal súbito que o levou até o hospital, onde foi constatado através de exames um MAVE (Formação artério venosa, congênito), submetido a uma longa cirurgia no cérebro, recuperou-se e após seis meses retornou aos dois trabalhos, mostrando mais uma vez sua capacidade de recompor-se.

Em 2017 parou de andar por consequência dos problemas no cérebro, teve então que aposentar-se em definitivo, hoje leva uma vida mais restrita socialmente, se considera feliz, mesmo tendo desafios de saúde a controlar com remédios, gosta de ler sobre política e espiritualidade, quer aprender a tocar violão e se dedicar ao papel de avô. Cledson não nasceu PcD, mas tornou-se e como um PcD viveu permeado de bulling e grandes situações de preconceitos, nos quais conseguiu superar e chegar até a vida adulta para terceira idade com dignidade.

Essa história me lembra muito Milton Hyland Erickson (5 de dezembro de 1901 | 25 de março de 1980) psiquiatra e psicólogo americano especializado em hipnose médica e terapia familiar que fez de seus desafios de saúde a criação de uma nova forma de terapia. Ele teve poliomielite aos 17 anos e foi desenganado pelos médicos, mas superou e fez da deficiência uma aliada.

Superação é colocar uma SUPER - AÇÃO, se pautando na força e coragem para desbravar o novo viver de ser PcD, aprender, reaprender e ultrapassar os próprios limites. O transcender parte de dentro de si, transpondo os obstáculos e desenvolvendo resiliência, sendo esta ainda mais necessária para obter uma psique mais estruturada.

Os pensamentos são desencadeadores dos sentimentos e das ações e o que é ouvido quando criança faz-se a base para atuar na vida, se um deficiente encontra na família apoio e estímulo com palavras encorajadoras com certeza ele poderá acreditar mais nas suas capacidades, assim chegar a êxito nas suas escolhas. TENHO QUE FAZER A DIFERENÇA é um pensamento extremamente encorajador para ter resistência frente aos próprios limites físicos, tornando o impossível, possível. Se Beethoven não superasse seus limites de audição, não teria sido o compositor que foi.

Foto: Ilustração do Anderson de Paula

ACESSA.com - N?o nasci PcD: Conhe?a a hist?ria de Cledson Alberto de Campos

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