RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Os atos antidemocráticos que bloqueiam estradas brasileiras desde segunda-feira (31) já começam a provocar dificuldades para o abastecimento de combustíveis a postos pelo país. O setor reclama de falta de coordenação do governo para resolver o problema.

O Sindicombustíveis DF, que reúne os postos do Distrito Federal, diz que já há casos de falta de produtos nos postos do entorno da capital, que recebem combustíveis de Goiânia. O principal problema é a dificuldade no transporte de etanol anidro, que é adicionado à gasolina.

A entidade afirma ainda que as distribuidoras que atendem a região estão racionando as entregas, para manter estoques de segurança e alerta aos empresários que estão fazendo promoções sobre o risco de não conseguir renovar os estoques.

"Esperamos que estas manifestações de cunho político provocadas por uma minoria, possam terminar com brevidade para evitar transtornos para toda a população", disse, em nota, o presidente do sindicato, Paulo Tavares.

O Rio de Janeiro também vê dificuldades com a entrega de etanol anidro, o que também levou as distribuidoras a restringir entregas, afirma o presidente do Sindcomb, Manuel Fonseca. A entrega do biocombustível depende da Rodovia Presidente Dutra, uma das primeiras a ser bloqueada.

Fonseca diz, porém, que ainda não há relatos de falta de produtos em postos do estado.

No Mato Grosso, o sindicato local de postos também acusa recebimento de quantidades menores do que as pedidas às distribuidoras, pela questão da manutenção de estoques de segurança.

O sindicato que representa os postos do Rio Grande do Sul, o Sulpetro, diz que não há um problema sistêmico, mas que há relatos de postos sem produtos. A entidade vê risco na renovação dos estoques quando as rodovias forem totalmente liberadas, já que os postos precisarão comprar grandes volumes.

O presidente da entidade, João Carlos Dal'Aqua, diz que a corrida aos postos gerada pelo temor de falta ajudou a ampliar o problema. "Os postos, de maneira geral, já têm estoques baixos e isso ocasionou uma dificuldade", diz ele, alertando para dificuldades mesmo com a reabertura das estradas.

"Não tem como um posto abastecer imediatamente seus tanques, tanto por uma questão de tancagem quanto por questão financeira", afirma. "Se ele vende muito, vai precisar de mais capital de giro, porque compra combustível à vista e vende a prazo".

Em São Paulo, o Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo) diz que ainda não recebeu "volume significativo" de reclamações sobre falta de produtos, mas que acompanha a situação com "muita preocupação".

"O risco de desabastecimento está atrelado à falta de circulação dos caminhões que fazem a entrega dos produtos nos postos. Se houver o desbloqueio, não deveremos ter problemas mais sérios de desabastecimento", afirma, em nota.

Federação que reúne os sindicatos de revendedores, a Fecombustíveis não fez ainda um balanço da situação. Mas, em nota divulgada nesta terça (1), pede a liberação das estradas "o mais rápido possível" para que o abastecimento seja normalizado.

"A Fecombustíveis entende que o direito à manifestação não pode estar à frente do bom-senso, podendo causar prejuízos à economia do país e à liberdade de ir e vir dos cidadãos que estão em trânsito", afirma a entidade.

Executivos de distribuidoras de combustíveis ouvidos pela Folha reclamam que falta de atuação do governo, tanto na liberação das estradas como na definição de um plano para acelerar a retomada do abastecimento.

Diferentemente da greve dos caminhoneiros de 2018, por exemplo, nenhum grupo de crise foi criado para discutir alternativas para acelerar ou priorizar as entregas.

O IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás), que reúne as maiores distribuidoras de combustíveis do país, ainda não se manifestou oficialmente sobre o tema.


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