RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A direção da Petrobras vem encontrando resistências dentro do próprio governo para aprovar seu plano de investimentos para os próximos cinco anos, o primeiro sob o terceiro mandato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A companhia propôs um orçamento de cerca de US$ 100 bilhões, aumento substancial em relação aos US$ 78 bilhões aprovado no último ano sob Jair Bolsonaro (PL), mas dúvidas sobre a viabilidade do plano provocaram uma divisão no conselho.
A Folha de S.Paulo apurou que representantes da União têm resistido a aprovar o orçamento, diante da elevada previsão de investimentos em energias renováveis. São cerca de US$ 20 bilhões em uma série de segmentos: eólicas, biocombustíveis e hidrogênio, além de descarbonização das operações.
Após anos vendendo ativos de energias renováveis, a Petrobras decidiu voltar ao segmento após a posse da nova gestão, comandada por Jean Paul Prates. Chegou a criar uma diretoria específica, a cargo de Maurício Tolmasquim.
O plano estratégico divulgado no fim de 2022, por exemplo, previa US$ 4,4 bilhões para "fortalecer o posicionamento em baixo carbono". A maior parte dos recursos seria destinada a descarbonização das operações. Outra pequena parte iria para refino de combustíveis a partir de óleos vegetais.
Em junho, a empresa anunciou novas diretrizes estratégicas para seu plano de investimento, prometendo reservar algo entre 6% e 15% para renováveis.
Não há oposição à ideia de voltar a esse segmento, mas ao volume de investimentos que a estatal projetou para o plano estratégico e à falta de clareza sobre como seriam feitos os aportes, já que o plano prevê que os projetos sejam aprovados em nível de diretoria, sem passar pelo conselho.
Há ainda desconfiança em relação à viabilidade de alguns segmentos, como a produção de hidrogênio e as fazendas eólicas offshore (marítimas), principal aposta da estatal nesse sentido, já que é uma atividade correlata à exploração de petróleo em alto mar.
Fontes dizem, porém, que o principal entrave está na capacidade de financiar o plano dentro dos limites de endividamento da companhia, de US$ 65 bilhões, e mantendo o compromisso de distribuir 45% de seu fluxo de caixa livre em dividendos.
Com o propósito de renovar suas reservas de petróleo, a estatal já prevê também maior gasto com a área de exploração e produção, seu principal negócio: o orçamento desse segmento seria ampliado de cerca de US$ 65 bilhões para cerca de US$ 80 bilhões.
No debate sobre como acomodar todos os recursos no plano, os representantes do governo no conselho têm se negado a aprovar a proposta da Petrobras, que já estuda reduzir o orçamento para as renováveis. A próxima reunião para avaliar a proposta será no fim do mês.
A Petrobras disse à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que seu plano estratégico 2024-2028 "está em construção, e ainda seguirá para aprovação da diretoria executiva e do conselho de administração da companhia".
As diretrizes divulgadas em junho, afirmou a empresa, "visam preparar a Petrobras para um futuro mais sustentável, na busca por uma transição energética justa e segura no país, conciliando o foco atual em óleo e gás com a busca pela diversificação de nosso portfólio em negócios de baixo carbono".
E conclui que qualquer alteração em seu plano de investimentos respeitará as práticas de governança, o compromisso coma geração de valor e a sustentabilidade financeira de longo prazo da companhia. "E deverá, dentro da governança estabelecida na companhia, passar pelos processos de aprovação aplicáveis."
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