Mudan?as na L?ngua Portuguesa Acordo entre pa?ses que falam portugu?s pode mudar muita coisa nas normas que regem a escrita no Brasil. Escritores d?o a sua opini?o

Fernanda Leonel
Rep?rter
09/05/2007

Que atire o primeiro dicion?rio quem nunca recorreu a uma gram?tica para n?o fazer feio na hora de passar para cartas, e-mails ou qualquer outra forma de comunica??o escrita aquilo que j? estava na caixola. Na hora de enfrentar o papel e a caneta, o bom portugu?s nem sempre sai f?cil.

F?cil mesmo pode ser achar quem reclame da "dificuldade" da l?ngua ou tenha sempre uma pergunta para fazer. Mas a tarefa n?o ? mesmo das mais simples: segundo dados da Academia Brasileira de Letras, nossa l?ngua possui nada mais, nada menos de 360 mil palavras.

O fato ? que, complicadas ou n?o, as normas que regem a escrita no Brasil t?m futuro incerto. Caso fique acertado o acordo ortogr?fico em discuss?o entre pa?ses que falam o portugu?s, muitas mudan?as na maneira de escrever podem vir por a?.

A inten??o com a mudan?a ? tentar aproximar o portugu?s escrito no Brasil, em Portugal e em mais seis pa?ses - Angola, Cabo Verde, Guin?-Bissau, Mo?ambique, Timor Leste e S?o Tom? e Pr?ncipe - unificando com isso a l?ngua e dando mais for?a a ela. No futuro, um ?nico dicion?rio poderia ser utilizado.

Caso o acordo seja aprovado, o trema, por exemplo, pode ser extinto. Adeus ling?i?a, conseq??ncia ou tranq?ilo com esse acento pouco usado entre a maioria dos brasileiros. As vogais duplas acentuadas com acento circunflexo tamb?m devem perder a acentua??o. Palavras como v?o, enj?o e aben??o, por exemplo, perdem o famoso chapeuzinho.

Mas se engana quem pensa que s? de "perdas" mudam as novas regras do portugu?s. Conforme explicou o professor do Col?gio Academia e tamb?m do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), Pedro Gon?alves Pinto, ? poss?vel que passemos a escrever com consoantes mudas, j? que para definir as mudan?as, vale a "regra do mais usado" entre os pa?ses que falam portugu?s.

Dessa forma, palavras que perderam letras ao longo da hist?ria, como "acto", retornariam a ser escritas assim. "Optimo" e "ac??o", por exemplo, voltariam a fazer parte do nosso dicion?rio como grafia correta mais uma vez.

Embora n?o seja favor?vel ? quest?o das consoantes mudas, o professor Pedro Gon?alves analisa as poss?veis mudan?as como positivas. Para ele, as mudan?as em geral s?o subordinadas a espa?os culturais. "A l?ngua ? viva e n?o ? poss?vel n?o tentar imaginar que daqui h? algum tempo poderemos estar rediscutindo tudo isso que vai ser criado agora novamente", analisa.

Segundo Pedro ? preciso despertar para essa necessidade de ver a l?ngua como uma maneira de manter o padr?o cultural, econ?mico ou social, forte. Isso porque, para o professor, quanto mais fraca estiver uma l?ngua dentro de cen?rio cultural, mais f?cil fica essa "incultura??o".

"Quanto mais unificada, mais forte ? uma l?ngua. Se pegarmos a hist?ria, poderemos perceber que as grandes na?es se projetam pela l?ngua. Foi assim em 1789 depois da revolu??o com a Fran?a, no s?culo XIX, p?s revolu??o industrial com a Inglaterra, e est? sendo assim agora com os Estados Unidos no p?s-guerra", diz

O professor acredita que o mundo globalizado, as novas tecnologias e a dissocia??o das barreiras geogr?ficas t?m contribu?do e muito para essa transforma??o ling??stica. Na sala de aula diariamente com jovens e adolescentes, ele comenta que n?o ? raro perceber como eles dominam outras "linguagens" como o internet?s, por exemplo, e t?m diversas d?vidas quanto ? escrita do portugu?s.

Escritores opinam sobre o assunto
Para o escritor, Luiz Ruffato, esse ? um assunto que rende muito pano para manga. "Hoje, n?o existe uma l?ngua portuguesa, e sim v?rias l?nguas portuguesas", brinca. A favor de mudan?as, ele classifica o acordo como v?lido, mas pondera que em termos de resultado, n?o v? muita raz?o.

Primeiro, porque n?o acredita que essa unifica??o potencializaria o interc?mbio cultural entre escritores, classificada por ele como quase inexistente nos dias atuais. Para Ruffato, existe uma extrema dificuldade na comercializa??o e circula??o de livros de escritores brasileiros, por exemplo, em Portugal. Situa??o que n?o acredita que poderia mudar. Infelizmente.

Segundo porque acredita que a justificativa de for?a de um idioma n?o est? ligada ao n?mero de pessoas que o falam, e sim ao poder econ?mico. "Se fosse assim, o chin?s era hoje a l?ngua mais falada do mundo e, no entanto, n?o ?. A maioria dos que a valoriza e aprendeu a falar, faz isso em fun??o do econ?mico", comenta.

Affonso Romano de Sannt'Ana Affonso Romano de Sant'Anna (foto) concorda com Ruffato no que diz respeito ? ilus?o das conseq??ncias que esse acordo pode gerar, mas afirma ser favor?vel a toda e qualquer mudan?a. "A l?ngua de hoje n?o ? a l?ngua de 1950 e assim por diante".

O escritor acredita que a justificativa de unifica??o para fortalecimento da l?ngua ? uma ilus?o, ao mesmo tempo que n?o acha que seja esse o detalhe que impede que o portugu?s, falado por milh?es de pessoas, n?o seja t?o forte como o ingl?s ou o espanhol, por exemplo.

Com a experi?ncia da literatura somada a seis anos frente ? Biblioteca Nacional, quando o ?rg?o era respons?vel pela leitura e divulga??o da cultura das letras do Brasil no exterior, Sannt'Ana ? enf?tico: para ele, o que vai dar for?a ao portugu?s do Brasil n?o ? essa unifica??o e sim a consci?ncia de que ? preciso adotar uma pol?tica cultural agressiva, nacional e internacional.

"O Brasil n?o tem pol?ticas culturais, n?o valoriza como deveria o que tem. ? preciso adotar pol?ticas. S? assim o mundo vai conhecer o que temos para oferecer e valorizar o portugu?s usado para o que foi escrito", opina.

Iacyr Anderson de Freitas Iacyr Anderson de Freitas (foto) tamb?m tem opini?o formada. Para o escritor, a mudan?a em si pode n?o trazer grandes ganhos, mas se for considerada como um primeiro passo de uma longa trajet?ria, deve ser vista como interessante para o pa?s.

Ao contr?rio de Sant'Anna, Iacyr acredita que mudan?as cont?nuas em si s?o negativas, porque refletem uma certa instabilidade. Para ele, o c?digo escrito ? uma conven??o e o ideal ? que ele fosse seguido.

No entanto, no caso espec?fico do Brasil, essa possibilidade de mudan?a pode ser positiva no sentido de que se pode corrigir um problema classificado por ele como "lusofonia como fic??o", j? que cada pa?s aprendeu a escrever e a falar a l?ngua ? sua maneira e cultura.

Por?m, Iacyr ressalta que ? preciso ficar sempre atento ?s mudan?as para que n?o corramos o risco de ao longo da nossa hist?ria, perdermos tra?os genuinamente nossos e passamos a falar "a l?ngua dos outros". Al?m do mais, o escritor destaca que o mais importante para tornar uma l?ngua forte s?o as trocas que ela vai realizar.

"Grandes nomes da poesia do s?culo XX do Brasil s?o desconhecidos em Portugal. Isso ? que empobrece a l?ngua. Esse acordo ser? importante se conseguir essa troca. Essa sim, ? ben?fica, auto-centrada e ajuda a oxigenar a l?ngua de um pa?s", analisa.

O acordo ainda n?o tem data para passar a valer, j? que Portugal n?o se posicionou e, por isso, a mudan?a ainda n?o est? em vigor. Enquanto isso, vale s? pensar no assunto e esperar.

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